A enfermeira Neusa Severina dos Santos, de 46 anos, fez a sua consagração na Ordo Virginum, a ordem das virgens, no domingo de Páscoa (9). Ela é a primeira virgem consagrada da arquidiocese de Mariana (MG). “O estupor ainda toma conta do meu ser, foi uma explosão de alegria”, disse Neusa sobre sua consagração no dia em que a Igreja celebra a ressurreição de Jesus.

“No dia em que recebi a confirmação da data escolhida pelo nosso arcebispo dom Airton (José dos Santos) e comunicada a mim pelo padre Paulo Nobre (delegado da Ordo Virginum na arquidiocese de Mariana), conferi o calendário por três vezes, porque não conseguia acreditar que no domingo de Páscoa eu estaria me consagrando para viver na alegria da Páscoa do Senhor, as alegrias do Reino futuro que antecipo pela entrega de vida total a Ele. Minha pequena casa parecia não me conter, pois queria gritar ao mundo que Deus me havia escolhido desde toda a eternidade e essa concretização se daria justamente no domingo de Páscoa. Vida nova! Ressurreição! Vitória, glória e maravilhas de nosso Senhor sobre a criatura”, disse a virgem consagrada à ACI Digital.

Segundo a instrução Ecclesiae Sponsae Imago sobre a Ordo Virginum, a característica dessa vocação “é a inserção das consagradas na Igreja particular e, portanto, em um determinado contexto cultural e social: a consagração as reserva para Deus sem separá-las do ambiente em que vivem e no qual são chamadas a dar o próprio testemunho”. A instrução afirma que as virgens consagradas “podem viver sozinhas, em família, com outras consagradas ou em outras situações favoráveis à expressão da sua vocação e à realização do seu projeto de vida concreto”.

Nascida em uma família católica, em Caratinga (MG), Neusa dos Santos fez uma longa caminhada vocacional sempre em busca de atender o chamado de Deus para sua vida. Ela recordou que na infância participava das missas com seus pais, rezava o terço diariamente. Mas, na adolescência afastou-se da Igreja. Até que um dia participou de um encontro de jovens durante o carnaval e “tudo mudou”. “Fiz meu encontro pessoal com o Senhor e tive a certeza de que minha realização estaria em fazer algo na Igreja. Jesus foi me conquistando e me seduzindo aos pouquinhos, ao ponto de ter certeza de que minha vida só seria completa pertencendo só a Ele”, contou.

Em outro encontro de jovens, conheceu uma religiosa e “tudo nela” lhe “falava de Cristo”. “Fiquei encantada e iniciei um caminho de discernimento vocacional”, disse.

Neusa dos Santos ingressou no Instituto das Oblatas de Nazaré e, após os primeiros votos, foi enviada para a Itália. Retornou ao Brasil depois de três anos, para dar continuidade à sua formação acadêmica. Depois de formada, voltou para a Itália, onde morou por quase sete anos. No total, foram 22 anos no Instituto das Oblatas de Nazaré.

Mas, no tempo em que estava na Itália, discerniu que aquela não era sua vocação. “Senti que o meu fazer estava sufocando o meu ser e busquei orientação espiritual. Nesse processo de discernimento e escuta de Deus, vislumbrei uma nova maneira de viver a minha consagração que me possibilitaria um jeito novo de prestar o meu serviço em prol da Igreja e dos mais necessitados, a Ordo Virginum, esta modalidade de viver a consagração no mundo”, contou.

Após se desvincular do Instituto das Oblatas de Nazaré, voltou ao Brasil, onde mora na cidade de Abre Campo (MG), que pertence à arquidiocese de Mariana. Começou, então, “o novo processo para a consagração com os devidos responsáveis, que são o bispo e seu delegado para essa causa”.

Neusa dos Santos fez uma preparação com encontros com o arcebispo de Mariana e o delegado para a Ordo Virginum e, no domingo de Páscoa, fez sua consagração durante missa celebrada por dom Airton José dos Santos, na catedral basílica de Nossa Senhora da Assunção, em Mariana.

“Na riqueza da nossa Igreja que são as várias formas de viver os carismas que Deus coloca em nossos corações, pude continuar a minha oblação e pertença só a Jesus, sendo esposa, e havendo como único distintivo externo a aliança, não que o hábito religioso não fosse lindo e importante. A certeza dessa minha vocação se dá no sentir-me esposa, estando na sociedade, na Igreja, na missão, vivendo de maneira mais simples e peculiar o Evangelho, sendo um bom samaritano na vida das pessoas, esse é o diferencial que me faltava. É maravilhoso”, disse.

Neusa dos Santos trabalha em um lar de idosos. Ela contou que no seu dia a dia busca “viver esse matrimônio com Cristo” oferecendo “o trabalho, a oração, o apostolado, toda a missão em intimidade vivida com Cristo”. Recordou que, em seu trabalho, os idosos costumam lhe pedir a bênção, beijar sua mão, pedir que fale com Deus por eles. “Para mim, eles sentem esse algo a mais, que sou chamada a viver, o diferencial do amor sem reservas a Cristo nos mais necessitados”, disse.

Segundo Neusa, já há outra “jovem da arquidiocese (de Mariana) que deu o seu sim e está fazendo o caminho” para a consagração na ordem das virgens.

 “Vivemos num mundo sem fronteiras e desenfreado, onde o ter, o poder, a estética, o fazer parecem dominar o ser humano. E uma consagração vem a nos dizer: calma, não está tudo aqui, ‘não corra tanto’, é necessário sim lutar, trabalhar, mas sem perder o essencial, que é invisível aos olhos e está ao nosso lado”, disse a virgem consagrada. “Deus nos salvou em seu Filho Jesus, mas nós devemos conquistar o céu. E de que vale essa vida se perdermos a que nos foi garantida por Cristo?”

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