O papa Francisco recebeu hoje (13) no Palácio Apostólico do Vaticano os membros da Associação Religiosa de Institutos Sociais e de Saúde da Itália, conhecida pela sigla ARIS. Ele disse que em muitos lugares os velhos são privados de todos os medicamentos necessários, o que ele definiu como uma eutanásia "oculta e progressiva".

Para o papa, “a Igreja tem feito muito, através dos cuidados de saúde, para ouvir e prestar atenção aos segmentos pobres, fracos e abandonados da sociedade”.

Ele falou sobre a cultura do descarte, que na saúde "pode ​​mostrar suas consequências dolorosas mais do que em qualquer outro lugar, às vezes de forma evidente".

“Quando o paciente não é colocado no centro e sua dignidade não é considerada, geram-se atitudes que podem até levar a especulações sobre as desgraças dos outros, o que deve nos deixar alertas”, disse o papa.

Francisco falou da importância de “recuperar o carisma fundacional da saúde católica para aplicá-lo nesta nova situação histórica”.

O papa falou da necessidade de “fazer caminhos de discernimento e tomar decisões corajosas, lembrando que a nossa vocação é estar na fronteira da necessidade”.

“Como Igreja, somos chamados a responder sobretudo à demanda de saúde dos mais pobres, dos excluídos e daqueles que, por razões econômicas ou culturais, veem suas necessidades ignoradas”.

O papa citou a chamada “pobreza sanitária” e lembrou aquelas pessoas que, por falta de meios, não podem procurar tratamento ou têm dificuldades de acesso aos serviços de saúde “devido às listas de espera muito longas, inclusive para consultas urgentes e necessárias".

Francisco falou da necessidade de “cuidados intermediários, dada a tendência crescente dos hospitais de dar alta aos pacientes em pouco tempo”, o que provoca, segundo o papa Francisco, “linhas de ação pouco respeitosas com a própria dignidade da pessoa”, especialmente para pessoas mais velhas.

“Um idoso deve tomar estes medicamentos, e se para poupar dinheiro ou por isto ou por que motivo não lhe dão estes medicamentos, trata-se de uma eutanásia oculta e progressiva”, denunciou.

Ele disse que em muitos lugares “os idosos que têm que tomar quatro-cinco remédios e só conseguem dois: isso é uma eutanásia progressiva, porque não se dá a eles aquilo de que precisam para se curar.”.

“O cuidado da saúde de inspiração cristã tem o dever de defender o direito ao cuidado especialmente dos setores mais fracos da sociedade, privilegiando os lugares onde as pessoas são mais sofredoras e menos cuidadas, mesmo que isso implique reconverter os serviços existentes em outros novos”.

“Hoje existem diferentes oportunidades de acesso à assistência para quem tem dinheiro”,  mais do que “para quem é mais pobre”.

Para o papa, a missão dos hospitais religiosos é, antes de tudo, “cuidar dos descartados pela economia da saúde e por uma certa cultura contemporânea”.

Diante da "complexa realidade" de hoje, Francisco exortou as instituições de saúde de inspiração religiosa a terem "a coragem de se unir e trabalhar em rede, fugindo de qualquer espírito competitivo, unindo competências e recursos e talvez, constituindo novas entidades jurídicas, através das quais possam ajudar especialmente as menores realidades”.

"Não tenham medo de tomar novos caminhos -arriscar, arriscar-, para evitar que nossos hospitais, só por razões econômicas, sejam alienados -é um perigo e até atual".

Francisco citou a Pontifícia Comissão para as Atividades do Setor Sanitário das Pessoas Jurídicas Públicas da Igreja e convidou os presentes a uma “colaboração ativa e construtiva”.

Ele incentivou a acompanhar as pessoas “que acolhem em suas instituições com cuidado integral, que não descuidem da assistência espiritual e religiosa aos doentes, suas famílias e agentes de saúde”.

“Nisto também as instituições de saúde de inspiração cristã devem ser exemplares. E não se trata só de oferecer um ministério sacramental, mas de uma atenção integral à pessoa”, disse.

"Ninguém, ninguém deve se sentir sozinho na doença, pelo contrário, todos devem ser apoiados em suas perguntas de sentido e ajudados a percorrer o caminho às vezes longo e cansativo da doença com esperança cristã", concluiu o papa.

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