O diabo sempre “tenta atacar a todos e semeia discórdia, mesmo na Igreja, tentando colocar um contra o outro”, disse o papa Francisco.

Francisco deu entrevista inédita, contida no livro "Esorcisti contro satana" (Exorcistas contra Satanás) da editora Piemme e escrito pelo jornalista Fabio Marchese Ragona, que chegará às livrarias da Itália a partir de 11 de abril de 2023.

O texto da entrevista de Marchese Ragona começa com a história da possessão de uma freira. A voz demoníaca disse do papa: “Eu o odeio, ele sempre fala mal de mim. Você viu quantos problemas eu crio para ele?”

Aqui estão alguns pontos chave na luta contra o diabo, segundo o papa Francisco:

1. A oração é poderosa contra o diabo

Francisco disse que não conhece o caso da freira possuída, mas não se surpreende que ele deixe o diabo aborrecido, porque procura seguir o Senhor e fazer tudo o que o Evangelho ensina. "E isso o incomoda. Ao mesmo tempo, ele certamente fica satisfeito quando eu cometo algum pecado. Ele procura o fracasso do homem, mas não há nenhuma esperança se houver oração”, diz.

2. Distinguir entre “obsessão diabólica” e “possessão”

Francisco conta que quando era arcebispo de Buenos Aires, recebeu vários casos de pessoas que diziam que estavam possuídas por demônios. “Enviei-os para consulta a dois bons padres "especialistas": eles não são curandeiros, mas exorcistas”.

O papa fala do trabalho do padre Carlos Alberto Mancuso, nascido na cidade de La Plata, Argentina, em 8 de Fevereiro de 1934, e que foi o exorcista oficial da sua arquidiocese; assim como de seu confessor, o padre Nicolás Mihaljevic, jesuíta nascido na Croácia em 1924 e morto em 2 de julho de 2014.

O padre Mancuso narra no livro De mãos dadas com o diabo (2012) que "o diabo ataca com vontade de ferir e com garras terríveis, que, de certa forma, me lembram a eletricidade: são invisíveis, mas tangíveis e têm a capacidade de mover o mundo”.

O papa diz que os casos de verdadeira possessão em sua diocese anterior acabaram sendo menos do que pareciam à primeira vista: “Apenas duas ou três eram realmente vítimas de possessão diabólica. Os outros sofriam de obsessão diabólica, o que é uma coisa bem diferente porque não tinham o diabo em seus corpos”, diz.

São Paulo VI, Bento XVI e outros sucessores de Pedro sofreram ataques do demônio, segundo o autor do livro.

3. O diabo também pode agir no Vaticano e atacar o papa

“Certamente o diabo tenta atacar a todos, sem distinção, e ele tenta atacar especialmente aqueles que têm maior responsabilidade na Igreja ou na sociedade. Até mesmo Jesus sofreu tentações do diabo e se pensa também naquelas de Simão Pedro a quem Jesus disse: ‘Afasta-te de mim, Satanás’”, diz o papa Francisco.

 “Assim, o papa também é atacado pelo maligno. Nós somos homens e ele sempre tenta nos atacar. É doloroso, mas diante da oração ele não tem esperança”, acrescentou.

Francisco diz que “é verdade, como disse são Paulo VI, que o diabo também pode entrar no templo de Deus, para semear a discórdia e colocar uns contra outros: as divisões e os ataques são sempre obra do diabo”.

“Ele sempre tenta se insinuar para corromper o coração e a mente do homem. A única salvação é seguir o caminho indicado por Cristo”, continuou o papa.

4. Cuidado com os “demônios educados”

O papa diz que Jesus protege contra os ataques do demônio, que muitas vezes aparece de forma sorrateira e educada.

“Penso que existem demônios muito perigosos, e falo dos demônios ‘educados’. Jesus também fala deles, lemos isso no Evangelho de Lucas: ele diz que quando o espírito mau é expulso, ele vagueia pelo deserto em busca de alívio. Mas a certa altura ele se aborrece e volta para "casa", de onde tinha sido expulso, e vê que a casa está consertada, é linda, assim como era quando ele estava dentro”, acrescenta.

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5. O diabo ataca através da mundanização espiritual

O papa Francisco diz que os demônios vão em grupo quando não podem sozinhos. "Ele vai chamar alguns outros demônios que são mais maus do que ele, os traz, eles entram na casa, educadamente, tocam a campainha, tomam posse educadamente".

“A alma, não tendo o cuidado de examinar a consciência, não os percebe. Ou por tibieza espiritual, deixa-os entrar. Estes são terríveis. Porque eles matam você. É a possessão mais feia”, diz ele.

“A mundanização espiritual cobre todas estas coisas. Não há como escapar: ou o diabo destrói de forma direta com guerras e injustiças ou o faz educadamente, de forma muito diplomática, como diz Jesus. É preciso discernimento”, acrescenta.

Quando o papa ganhou as manchetes por fazer um suposto exorcismo

O papa Francisco, como seus predecessores, pregou contra o diabo que “tenta envenenar cada um de nós com apego às coisas”. Talvez seja um dos papas que mais mencionou, nos tempos modernos, a palavra “demônio” ou “maligno” em suas homilias.

Assim que foi eleito o 266º Sucessor de Pedro, ele reconheceu oficialmente a Associação Internacional de Exorcistas perante a então Congregação (atual Dicastério) para o Clero, em junho de 2014.

O papa Francisco foi notícia internacional porque teria feito um exorcismo diante de um suposto endemoninhado na praça São Pedro, no dia 19 de maio de 2013, Solenidade de Pentecostes.

Sem mencionar este caso, Marchese Ragona pergunta-lhe: “E como Pontífice, alguma vez praticaste exorcismos?”, ao que ele responde: “Não, isso nunca aconteceu. Se isso acontecesse eu pediria o apoio de um bom exorcista, como fiz como arcebispo”.

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