Na missa crismal de hoje (6), Quinta-feira Santa, o papa Francisco falou sobre três “tentações perigosas” para os padres: “a da acomodação, em que a pessoa se contenta com o que pode fazer; a de substituição, em que se tenta ‘recarregar’ o espírito com algo diferente da nossa unção; a do desânimo, em que, insatisfeitos, se avança por inércia”.

O papa rezou a missa crismal hoje (6) no altar da cátedra da basílica de São Pedro, no Vaticano, com a concelebração de muitos padres da diocese de Roma e membros da Cúria Romana.

Durante a celebração, o papa abençoou o santo crisma e os demais óleos sagrados, óleo dos catecúmenos e óleo dos enfermos, que serão usados ao longo do ano para ministrar os sacramentos. Os padres presentes renovaram as promessas feitas no dia de sua ordenação.

Em sua homilia, o papa Francisco refletiu sobre a importância da presença do Espírito Santo no sacerdócio e disse que “sem ele não há vida cristã e, sem a sua unção, não há santidade”.

“Sem Ele, nem sequer a Igreja seria a Esposa viva de Cristo, mas, no máximo, uma organização religiosa; não seria o Corpo de Cristo, mas um templo construído por mãos humanas", continuou ele.

A unção do Espírito Santo

Para o papa, “Jesus e o Espírito trabalham sempre juntos, como se fossem as duas mãos do Pai que, estendidas para nós, nos abraçam e levantam”.

Francisco disse que “o Senhor não Se limitou a escolher-nos e chamar-nos, mas infundiu em nós a unção do seu Espírito, o mesmo que desceu sobre os Apóstolos”.

Por isso, convidou os padres a fixar o olhar nos apóstolos, cujas vidas ele mudou "com a unção da palavra".

“Com entusiasmo seguiram o Mestre e começaram a pregar, convencidos de que depois realizariam coisas ainda maiores; até que a Páscoa chegou”.

Francisco disse que naquele momento “parece que tudo parou; chegaram a negar e abandonar o Mestre”. Por isso, pediu para não ter medo e ser corajosos diante das quedas.

Segundo o papa, “foi aquela segunda unção, no Pentecostes, que transformou os discípulos, levando-os a apascentar o rebanho de Deus, e não a si mesmos”.

“Foi aquela unção de fogo que extinguiu uma religiosidade centrada neles mesmos e nas próprias capacidades.”

Tomando como exemplo esta “transformação”, o papa alertou sobre o “carreirismo” e disse que “o Espírito muda os nossos corações”.

Para o papa, “a todos acontece, mais cedo ou mais tarde, experimentar desilusões, cansaços e fraquezas, com o ideal que parece diluir-se perante as exigências da realidade, substituído por uma certa rotina; e algumas provações – difíceis de imaginar antes – fazem aparecer a fidelidade mais incômoda do que outrora”.

As três “tentações perigosas” dos padres

Francisco falou de três “tentações perigosas” que levam à mediocridade: “a da acomodação, em que a pessoa se contenta com o que pode fazer; a de substituição, em que se tenta ‘recarregar’ o espírito com algo diferente da nossa unção; a do desânimo, em que, insatisfeitos, se avança por inércia”.

“Aqui está o grande risco: permanecem intactas as aparências, enquanto a pessoa se fecha em si mesma e conduz a vida na apatia; a fragrância da unção deixou de perfumar a vida, e o coração, em vez de se dilatar, restringe-se, envolvido pelo desencanto”.

Francisco pediu que estejam atentos ao “clericalismo”, que faz o padre se esquecer “de ser pastor do povo, para se tornar um clérigo de Estado”. Por isso, o papa encorajou os presentes a fazerem uma escolha importante: Jesus ou o mundo.

“A crise pode tornar-se também um ponto de virada no sacerdócio, a etapa decisiva da vida espiritual, em que se deve efetuar a última escolha entre Jesus e o mundo, entre a heroicidade da caridade e a mediocridade, entre a cruz e um certo bem-estar, entre a santidade e uma honesta fidelidade ao compromisso religioso”.

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"O Senhor é maior que suas fraquezas"

Francisco lembrou dos sacerdotes que estão passando por uma “crise”, aqueles que “estão desorientados e não sabem como se reerguer nesta segunda unção do Espírito”.

“Tenho esses irmãos presentes. Eu simplesmente digo-lhes: ânimo. O Senhor é maior que suas fraquezas, seus pecados. Confie no Senhor, e deixe-se chamar uma segunda vez, com a unção do Espírito Santo. A vida dupla não vai te ajudar, nem jogar tudo pela janela. Olhe para frente, deixe-se acariciar pela unção do Espírito Santo”, disse Francisco.

"A minha realização depende de quão bom sou, do cargo que ocupo, dos elogios que recebo, da carreira que faço, dos superiores ou colaboradores que tenho, das comodidades que posso garantir a mim mesmo, ou da unção que perfuma a minha vida?, perguntou o papa.

Para Francisco, “a maturidade sacerdotal passa pelo Espírito Santo, realiza-se quando Ele se torna o protagonista da nossa vida. Então tudo muda de perspectiva, inclusive as desilusões e amarguras, porque já não se trata de procurar aperfeiçoar-se ajustando qualquer coisa, mas de nos entregarmos, sem nada reter para nós, Àquele que nos impregnou com a sua unção e quer descer até ao fundo de nós mesmos".

“Se permitirmos que o Espírito da verdade atue em nós, guardaremos a unção, porque virão à luz as falsidades com as quais somos tentados a viver”, disse ele.

A harmonia do Espírito

Como disse o papa Francisco, “o mestre interior a quem devemos escutar é o Espírito, sabendo que não há nada em nós que Ele não queira ungir”.

“Ele suscita a diversidade dos carismas e os recompõe na unidade, cria uma concórdia que não se baseia na homologação, mas na criatividade da caridade. Assim ele cria harmonia na multiplicidade.”

“Criar harmonia é o que ele deseja, principalmente através daqueles sobre quem derramou a sua unção. Irmãos, construir a harmonia entre nós não é só um método bom, para que a comunidade eclesial caminhe melhor, nem é questão de estratégia ou de cortesia, mas é sobretudo uma exigência interna na vida do Espírito”, disse ele.

Para o papa Francisco, o Espírito Santo “prefere a forma comunitária: a disponibilidade acima das exigências próprias, a obediência acima dos próprios gostos, a humildade acima das próprias pretensões”.

Nesse sentido, convidou os padres a “guardar a harmonia, começando não com os outros, mas consigo mesmo; perguntando-nos: as minhas palavras, os meus comentários, o que digo e escrevo têm o selo do Espírito ou do mundo?”

“Penso também na gentileza do padre: se encontram até em nós pessoas insatisfeitas e descontentes, solteirões, que criticam e apontam o dedo, onde verão a harmonia? Quantas pessoas não se aproximam nem se afastam porque na Igreja não se sentem acolhidas e amadas, mas vistas com desconfiança e julgadas! Em nome de Deus, vamos acolher e perdoar sempre!".

Francisco agradeceu aos padres por seu testemunho e por seu serviço. “Obrigado pelo bem oculto que fazem, pelo perdão e a consolação que oferecem em nome de Deus: perdoar sempre, por favor, nunca negar o perdão”, concluiu.

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