O arcebispo de Luxemburgo, o jesuíta Jean-Claude cardeal Hollerich, relator-geral do Sínodo da Sinodalidade, disse que "com o tempo" o papa Francisco poderia permitir a ordenação de mulheres para o sacerdócio.

Hollerich deu uma entrevista ao jornal católico croata Glas Koncila, publicada na segunda-feira (27). Ao responder sobre se a ordenação de mulheres seria apenas uma questão de julgamento prudencial, o cardeal Hollerich disse: “É o Santo Padre quem deve decidir”.

E ao responder se o papa pode decidir contra o que são João Paulo II estabeleceu na carta apostólica Ordinatio sacerdotalis, Hollerich disse: “Com o tempo, sim”.

Em Ordinatio sacerdotalis são João Paulo II diz: “Para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.

Em novembro de 2016, no vôo de volta de sua visita à Suécia, o papa Francisco disse: “Sobre a ordenação de mulheres na Igreja Católica, a última palavra clara foi pronunciada por são João Paulo II e permanece”.

Ao responder sobre se Ordinatio sacerdotalis é “ensinamento infalível”, o cardeal disse: “Provavelmente não. Infalível seria, por exemplo, a proclamação do dogma da Assunção de Maria por Pio XII”. Para Hollerich, Ordinatio sacerdotalis “é certamente um ensinamento verdadeiro para o seu tempo, e não podemos simplesmente colocá-lo de lado. No entanto, acho que pode haver algum espaço para estender o ensinamento, para ver o quais os argumentos do papa João Paulo II poderiam ser desenvolvidos. Mas, no momento, se o papa Francisco me diz que não é uma opção, então não é uma opção”.

“O papa Francisco não quer a ordenação de mulheres e eu sou completamente obediente a isso", disse Holerich. “No entanto, as pessoas continuam debatendo isso. Não sou um promotor da ordenação de mulheres, sou um promotor de dar mais responsabilidade pastoral às mulheres”.

“Uma sociedade sem mulheres não é saudável”, disse Hollerich na entrevista. “Os homens se acostumam a isso e desenvolvem certas atitudes negativas em relação às mulheres. Isso é clericalismo."

“Jesus nunca fez piadas sobre mulheres. As mulheres se sentiam amadas por Ele, por isso o seguiam aonde quer que ele fosse. As mulheres devem sentir-se bem-vindas na Igreja, não só para fazer comida e limpar os templos, mas também para tomar decisões e assumir responsabilidades. Com isso não me refiro ao sacerdócio", disse o arcebispo de Luxemburgo.

“E se pudermos fazer isso, talvez possamos ver se ainda há um desejo de ordenação entre as mulheres. Mas para uma mudança tão grande, temos que buscar o consentimento da Igreja Ortodoxa. Jamais poderíamos fazê-lo se colocamos em perigo nossa fraternidade com os ortodoxos ou se polariza a unidade de nossa Igreja”, disse o cardeal.

O Caminho Sinodal Alemão

Hollerich também falou sobre o Caminho Sinodal Alemão, processo de discussão entre leigos e uma associação oficial de católicos mantida por dinheiro de impostos da Alemanha, que já recomendou a ordenação de mulheres e mudança da doutrina sexual da Igreja.

O cardeal jesuíta, que também é relator-geral do Sínodo da Sinodalidade convocado pelo papa para outubro deste ano, disse que um processo de “sentar e conversar só o torna Sínodo quando o diálogo é sobre o caminho. Caso contrário, torna-se uma guerra de conceitos.”

“O papa tem duas críticas principais ao Caminho Sinodal Alemão: A primeira é que não cresce da base para cima”, disse Hollerich. “Em vez disso, tem católicos em associações que parecem sindicatos. Isso é muito diferente da visão do povo de Deus, especialmente daquela que o Santo Padre experimentou na América do Sul”.

“A segunda objeção é que não surge uma missão. A Igreja na Alemanha está ocupada consigo mesma e com suas estruturas. Não é uma Igreja a serviço do mundo, mas a si mesma, dando pouco espaço ao Espírito Santo”, disse o cardeal Hollerich.

“Pentecostes parecia uma grande bagunça; as pessoas até pensaram que os apóstolos estavam bêbados! Só depois de tudo a harmonia foi estabelecida", continuou ele

Hollerich disse que “o Espírito Santo às vezes cria uma grande confusão para criar uma nova harmonia. Mas falta harmonia na Alemanha. Há um confronto entre uma minoria e uma maioria entre os bispos, sem vontade de transigir. Nunca deve haver uma maioria triunfante e uma minoria ferida em um Sínodo”.

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