A portuguesa irmã Maria do Monte é um dos seis servos de Deus que tiveram suas virtudes heroicas reconhecidas ontem (23) pelo papa Francisco. Freira das Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, irmã Maria do Monte se dedicou a cuidar de doentes psiquiátricos e registrou em escritos suas experiências espirituais.

Maria do Monte nasceu em 1897, na freguesia de Santo Antônio, no Funchal, Ilha da Madeira. Seu nome de batismo era Elisa de Jesus Pereira. Era de uma família religiosa de dez filhos. Quando tinha 17 anos, ficou órfã e teve que assumir a responsabilidade de cuidar da casa e de outros irmãos.

Mais tarde, expressou o desejo de se tornar religiosa, mas encontrou a oposição da família, que precisava de seus cuidados. Decidiu esperar e, em 1927, entrou na Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Adotou o nome de Maria do Monte, por causa de sua devoção a Nossa Senhora do Monte, padroeira da Madeira.

Em um artigo publicado em novembro de 2022 no site ‘Família Cristã’, padre Ricardo Figueiredo recordou as palavras escritas por irmã Maria do Monte no dia de sua profissão religiosa: “Eu, neste dia solene, me ofereço ao vosso coração como vítima de holocausto ao vosso amor! Que todos os sofrimentos da vossa alma e do vosso coração passem para esta pequenina hóstia que hoje se imola neste altar; ó Jesus aqui me tendes a vossos pés, pronta para sofrer na minha alma e, até se quiserdes, no meu corpo! Que eu seja outro Jesus crucificado em reparação dos pecados de todo o mundo e para ajudar os missionários”.

Segundo o sacerdote, este foi “o projeto de vida” da irmã Maria do Monte. “Viveu uma vida intensa e humilde de serviço aos mais fracos, alimentada por uma profunda intimidade com Deus, mergulhando profundamente no mistério da Santíssima Trindade”, escreveu.

A freira dedicou boa parte de sua vida à Casa de Saúde Câmara Pestana e ao Centro de Reabilitação Psicopedagógica da Sagrada Família. Segundo ‘Vatican News’, “foi estimada por suas irmãs e experimentou fenômenos singulares que ela viveu em discrição e humildade”.

“Motivada por seu diretor espiritual, ela transcreveu suas experiências interiores. Mulher de grande força moral, ela se caracterizou por uma notável capacidade de autocontrole que deriva de sua extraordinária intimidade com Deus, e foi com a ajuda da graça que ela conseguiu enfrentar situações difíceis, marcadas por seu precário estado de saúde”, disse o site da Santa Sé.

A irmã Maria do Monte morreu aos 66 anos, em 18 de dezembro de 1963. Sua causa de beatificação e canonização foi aberta em 4 de março de 2007, no Funchal. Na época, o então bispo do Funchal, dom Teodoro de Faria, recordou como começou este processo.

“Como manifestou Deus os carismas concedidos à sua serva, se ela nada comunicou aos seus superiores e pessoas amigas?”, perguntou o bispo em texto publicado pela Agência Ecclesia. Segundo ele, o diretor espiritual da irmã Maria do Monte, o jesuíta padre Giulio Gritti, “perante uma realidade espiritual fora do comum”, pediu que ela “escrevesse os seus colóquios espirituais com Deus”. O padre Gritti guardou os documentos e, após a morte da freira, “enviou algumas folhas do texto a um padre jesuíta pedindo para o ler e dar a sua opinião, por escrito. Outros diretores espirituais leram o texto e manifestaram a sua opinião favorável”. O documento também chegou à casa da congregação em Roma e foi apresentado ao postulador da congregação. Em seguida, foi feito o pedido ao bipo do Funchal que abrisse o processo de beatificação.

“O processo da irmã Maria do Monte recorda-me o de santa Teresinha do Menino Jesus após o aparecimento do magnífico livro biográfico ‘A História de uma Alma’”, disse dom Faria.

Após o reconhecimento ontem das virtudes heroicas da irmã Maria do Monte, o atual bispo do Funchal, dom Nuno Brás, disse à Agência Ecclesia que, “no ano da Jornada Mundial da Juventude, o papa dá aos jovens hoje, um exemplo de santidade português. O que o papa nos está a dizer é que é possível ser santo, reconhecendo as virtudes heroicas da irmã Maria do Monte”.

Agora, para a beatificação de irmã Maria do Monte, é preciso o reconhecimento de um milagre que tenha acontecido pela intercessão da religiosa madeirense.

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