O Caminho Sinodal Alemão decidiu introduzir oficialmente as bênçãos de uniões homossexuais e pessoas divorciadas e casadas novamente pela lei civil. Com apenas nove bispos votando contra, a assembleia sinodal da tarde de sexta-feira (10) ignorou o documento de 2021 da Congregação para a Doutrina da Fé que diz que a Igreja não tem autoridade para abençoar uniões homossexuais.

Houve 11 abstenções entre os 58 bispos. Se esses 11 tivessem votado contra, haveria mais de um terço dos bispos contra a novidade e ela não teria sido aprovada.

O Caminho Sinodal Alemão é uma processo de discussões que reúne bispos e leigos para discutir reformas na Igreja, 

O texto “Celebrações de Bênçãos para Pares que se Amam” diz que a Igreja se propõe a em relação aos “que estão unidos no amor, vivendo com total respeito e dignidade sua sexualidade com atenção para si mesmos, um para com o outro e com responsabilidade social de forma contínua, pronta para viver, aceitar reconhecimento e oferecer-lhes companhia”.

Assim, recomenda-se à Conferência Episcopal Alemã e ao Comitê Central dos Católicos Alemães “desenvolver e introduzir celebrações litúrgicas apropriadas em tempo hábil". Isso deve incluir "sugestões de formulários para celebrações de bênção para diferentes situações conjugais (recasados, casais do mesmo sexo)",  e "também uma introdução pastoral-teológica e informações pastorais-práticas".

O Comitê Central dos Católicos Alemães, que controla a participação dos leigos no Caminho Sinodal Alemão, é, como toda a Igreja na Alemanha, pelos impostos recolhidos dos cidadãos que se declaram católicos ao governo.

Pela decisão tomada no Caminho Sinodal Alemão, ninguém é “obrigado a celebrar tais” bênçãos, mas nenhum bispo pode impor sanções disciplinares a um padre que as faça. Na verdade, bênçãos assim já ocorreram em todas as dioceses alemãs sem nenhuma consequência. As celebrações da bênção devem ser introduzidas oficialmente em março de 2026.

O mesmo texto aprovado agora não passou em setembro de 2022 graças a uma minoria de bispos suficiente para bloqueá-lo. Desde então, as votações têm sido feitas nominalmente e não mais de modo secreto.

O Bispo de Eichstätt, dom Gregor Maria Hanke OSB, disse: “As celebrações de bênçãos para pares do mesmo sexo serão análogas aos casamentos sacramentais. Pelo menos os afetados vão interpretar dessa forma se já tiverem ido ao cartório.”

“Não posso seguir este caminho e também espero que este passo, caso ocorra, não nos coloque no conflito em que a Igreja Anglicana se encontra atualmente”, alertou.

Para o bispo de Regensburg, dom Rudolf Voderholzer, “é previsível que, após a aprovação da bênção, surja muito rapidamente a questão de saber se a bênção também não é discriminatória, caso o (sacramento do) casamento seja recusado.”

Segundo Voderholzer, em uma sessão de discussão do Caminho Sinodal Alemão foi dito que “não havia razões válidas para negar o casamento sacramental a pessoas do mesmo sexo”.

“Minha referência à possibilidade de procriação, que é ao menos um dos propósitos do casamento, foi respondida com a referência à paternidade e maternidade espirituais”, disse o bispo. “O próximo passo é a barriga de aluguel. Respondi que isso contradizia minha compreensão da totalidade holística, corpo-mente, corpo-espírito do ser humano e que considero isso gnose”. Voderholzer votou contra o projeto.

O bispo auxiliar de Bamberg Herwig Gössl justificou sua abstenção. Ele foi contra o texto no fórum sinodal de discussão. Ao mesmo tempo, disse não querer que “estas celebrações continuem a decorrer em segredo. Por isso gostaria de pelo menos uma abstenção hoje para abrir caminho para que um texto seja aprovado aqui.”

Embora não seja membro oficial da assembleia sinodal, o bispo de Antuérpia, Johan Bonny, falou longamente sobre a bênção das uniões homossexuais na Bélgica, onde tais celebrações já foram introduzidas. Em suas observações no final do debate, Bonny disse que o primeiro passo na Bélgica foi se referir à exortação apostólica pós-sinodal do papa Francisco Amoris laetitia e, com base nisso, finalmente introduzir as bênçãos para as uniões homossexuais.

Isso foi dito ao papa Francisco na visita ad limina dos bispos belgas ao Vaticano no final de 2022. Segundo Bonny, o papa disse: "A decisão é de vocês. Eu posso entender isso”. Para o papa, segundo o bispo belga, o importante era “prosseguir com sabedoria” e “ficar juntos”. Francisco "não disse sim, nem não", mas: "Isso é responsabilidade de vocês", disse Bonny.

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