“Escutar o povo de Deus é realmente escutar o que o Espírito diz à igreja”, disse o arcebispo de Trujillo, Peru, dom Miguel Cabrejos Vidarte, presidente do Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (CELAM) na abertura da Assembleia Regional do Cone Sul ontem (6) em Brasília.

Para Vidarte, o conceito de povo de Deus “pode ser considerado o grande ponto na eclesiologia do Concílio Vaticano II”

A assembleia discute ao longo desta semana o documento para a Etapa Continental do sínodo da sinodalidade 2021-2024, convocado pelo papa Francisco. 186 representantes da igreja católica da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Brasil participam do encontro que acontecerá até sexta-feira, 10 de março.

O Sínodo da Sinodalidade começou em 2021 com a fase de escuta diocesana. Todas as dioceses do mundo ouviram fiéis. Depois, foram produzidos relatórios nacionais resumindo as contribuições das dioceses. Agora, ocorre a fase continental, que consolida os relatórios nacionais em novos documentos.

A redação final da Síntese Continental acontecerá entre os dias 17 a 20 de março, em Bogotá, na Colômbia. Nos dias 21 a 23 de março, os secretários-gerais e os presidentes das conferências episcopais releem o documento final que deve ser enviado até o dia 31 de março à Secretaria Geral do Sínodo, este irá compor, junto com os outros seis continentes, a base do Instrumentum Laboris da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá sua primeira sessão em outubro deste ano e a sua segunda sessão em outubro de 2024.

Ao longo das escutas diocesanas em várias partes do mundo foram feitas propostas de mudança na disciplina e na doutrina da Igreja como a ordenação de mulheres, o fim do celibato sacerdotal e a mudança da doutrina sexual da Igreja especialmente no que se refere à homossexualidade.

“O depósito da fé está confiado no povo de Deus, unido a seus pastores”, disse Vidarte. “O sujeito ativo da igreja é povo de Deus”. E que a consequência disto “é a corresponsabilidade resultante de cada um dos seus membros, estabelecendo um ministério hierárquico ligado à comunidade”, no qual, o bispo “deve colocar-se de novo entre o povo de Deus a ele confiado”.

A escuta recíproca é um “elemento constitutivo de uma igreja sinodal”, em que dons e serviços responsáveis ajudam a “escutar e discernir para poder decidir” e “criam o ambiente propício para gerar processos de conversão”.

Falaram na abertura da Assembleia Regional do Cone Sul além do arcebispo de Trujillo,  o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ), dom Joel Portella Amado, representando ao presidente da CNBB, o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, a presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) ir. Eliane Cordeiro, que estava em nome das Conferências dos religiosos e religiosas do Cone Sul

Dom Paulo disse que “a sinodalidade é a parte bonita da comunhão. É onde a comunhão toma a forma concreta” e frisou que “o papa Francisco lê a sinodalidade como caminhar juntos”.

“Assim a igreja vai se tornando bonita quando nós vencemos essas oposições que foram sendo criadas: o bispo de um lado, o padre do outro, o povo do outro, quando nós voltamos naquilo que o Concílio já tem, como a igreja sempre foi. Uma igreja de servidor é uma igreja que olha paro lado e percebe que tem um irmão e uma irmã. É isso que o papa quer! Papa Francisco tem uma capacidade de ler a realidade. Às vezes a gente fica muito no plano das ideias, das ideologias e esquece”, ressaltou.

Para Costa, é preciso “crescer na concretude das nossas comunidades, das nossas paróquias, lá na base onde está o povo”.

 

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