Um ataque ocorrido na quarta-feira (1º), após as eleições presidenciais, em aldeias do Estado de Benue, Nigéria, deixou mais de 30 pessoas mortas e obrigou os militares a evacuar os funcionários da Comissão Justiça e Paz (JPC) da diocese católica de Makurdi.

O muçulmano Bola Ahmed Tinubu, de 70 anos, venceu as eleições presidenciais de 25 de fevereiro na Nigéria.

Durante o ataque, milicianos islâmicos da etnia Fulani chegaram à capital de Benue, Makurdi, disse o padre Remigius Ihyula, diretor do JPC, em declarações à ACI África.

“Nós continuamos nos perguntando como é que pastores comuns podem pôr as mãos em material militar. A única possibilidade é que recebam ajuda das autoridades”, lamentou o padre.

A grande maioria das tribos Fulani é muçulmana, enquanto a maioria das vítimas é cristã.

O padre Ihyula disse que outros padres estão ajudando os aldeões a se reassentar depois que foram obrigados a deixar suas casas pelos pastores armados, entre 23 de fevereiro e 1º de março.

"Enquanto falo com vocês, mais ataques estão ocorrendo em lugares diferentes. Uma testemunha me ligou no dia das eleições (25 de fevereiro) para me informar que pessoas estavam sendo massacradas na aldeia de Tyopav. Depois, mais ataques foram relatados na aldeia de Anwase. Os relatos de ataques não paravam de chegar", disse o padre nigeriano.

“As aldeias atacadas estão perto do campo de Agagbe, onde trabalha nossa equipe de apoio a deslocados internos. Em 1º de março, nossos funcionários não conseguiram deixar o acampamento porque os atacantes armados estavam muito próximos. Eles tiveram que sair escoltados pelos militares”, disse o padre.

“Os ataques são muitos. Ontem (2 de março) eles me enviaram listas de pessoas mortas e outras deslocadas. Ainda tenho que organizá-las”, disse Ihyula.

O padre vem coletando relatórios mensais de ataques na área atendida pela diocese de Makurdi. Os primeiros números mostram que houve mais de 30 mortes.

Segundo Ihyula, várias aldeias como Ityuluv, Ugbe, Iyon, Tyopav, Kendev, Anwase e Maav, todas na Área do Governo Local (AGL) de Kwande no estado de Benue, foram atacadas por milicianos Fulani nos dias 23 e 25 de fevereiro, e continuam avançando para outras aldeias, deslocando a população local.

Há também ataques no oeste do AGL, onde muitas pessoas foram mortas e outras ainda estão desaparecidas.

Segundo o padre, os habitantes de Makurdi estão protestando depois de terem sido deslocados de suas aldeias.

O padre Ihyula disse à ACI África que os funcionários da diocese de Makurdi que trabalham no campo de Agagbe correm o perigo de serem atacados todos os dias e muitos ficaram traumatizados por terem visto assassinatos.

"No dia 9 de fevereiro, nossa equipe testemunhou assassinatos perto do acampamento quando voltavam do trabalho. Em 21 de janeiro, eles se depararam com outro ataque. Todos estão traumatizados e alguns estão ausentes do trabalho por dias", disse o padre, que também disse que os cristãos episcopais na Nigéria estão arrecadando fundos para ajudar sua equipe em nível psicossocial.

O padre católico prevê mais ataques, agora que os muçulmanos estão no poder, e lembra que os Fulani perseguem os cristãos há anos.

Quanto "mais aldeias forem deslocadas", mais a Igreja Católica em Makurdi "continuará contando a história" de como os muçulmanos perseguem as comunidades agrícolas e cristãs na Nigéria.

O padre disse que antes, quando o presidente era cristão, “os ataques não eram tão graves como os que estamos presenciando hoje”.

“Sabemos que os muçulmanos, quando não têm poder, costumam tramar muito contra os que estão no poder. E agora que estão no comando do governo, recusaram-se a descentralizá-lo”, disse o padre.

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