O governo da Nicarágua, liderado por Daniel Ortega proibiu a via-sacra nas ruas do país, na mesma semana em que ele acusou a Igreja de ser uma “máfia”.

Na quinta-feira (23) e na sexta-feira (24), meios locais informaram que o governo havia proibido a via-sacra, uma prática tradicional durante a Quaresma e a Semana Santa.

Segundo o jornal nicaraguense La Prensa, o padre Winder Morales, da diocese de Granada, disse que “as vias-sacras que tradicionalmente fazemos nas sextas-feiras da Quaresma só podem fazer seu percurso ao redor da catedral”.

Uma fonte da Igreja em Manágua disse ao jornal que "depois da missa da Quarta-feira de Cinzas, chegaram as autoridades (polícia) para informar que não havia permissão, por motivos de segurança, para fazer a via-sacra".

O jornal Nicaragua Actual publicou um áudio atribuído ao bispo de León, dom René Sándigo, explicando aos seus padres como deve ser feita a via-sacra.

“A muitos a autoridade já disse que a via-sacra só pode ser feita dentro ou no pátio da igreja; a outros, ainda não”, diz o áudio.

“Portanto, é preferível que todos façamos a via-sacra dentro do templo ou no pátio, para que mantenhamos essa comunhão e, também, porque pode ser que digam para alguns depois, ou que esqueçam ou não cumpram”, acrescenta o áudio publicado por Nicaragua Actual.

“Penso que estes são tempos em que podemos interiorizar fortemente estas belas imagens do Senhor a caminho do Calvário e vivê-las intensamente. Deus abençoe a todos e que seja uma Quaresma que nos permita transcender”, conclui.

Dom Sándigo foi o único bispo da Nicarágua a votar nas eleições de 7 de novembro, descritas por vários líderes mundiais como uma "farsa" e que permitiram a Ortega continuar no poder pelo quarto mandato consecutivo.

Daniel Ortega está na presidência desde janeiro de 2007, ou seja, há mais de 16 anos.

Na sexta-feira (24), centenas de fiéis participaram da via-sacra feita ao redor da catedral de Manágua.

A arquidiocese de Manágua publicou fotos das vias-sacras celebradas em suas paróquias, algumas das quais feitas em vias públicas.

Dom Silvio Báez, bispo auxiliar de Manágua que vive exilado nos EUA, lamentou esta nova proibição de Ortega.

“A ditadura da #Nicarágua proibiu a via-sacra na rua”, escreveu o bispo num tuíte.

“O que não poderão impedir é que o Crucificado revele sua vitória em cada ato de solidariedade, em cada luta em favor da verdade e da justiça e em cada esforço para defender a dignidade das pessoas”, disse dom Báez.

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