A Companhia de Jesus (jesuítas) anunciou ontem (21) restrições "mais rígidas" contra o padre e artista Marko Rupnik, após novas acusações de abuso apresentadas contra ele.

As novas restrições estão em um comunicado da Delegação para as Casas e Obras Interprovinciais Romanas da Companhia de Jesus (DIR), que é a autoridade sobre o padre Rupnik, após receber denúncias sobre acontecimentos que teriam acontecido em meados de 1980 a 2018, sem especificar quantas são.

Em nota publicada na segunda-feira (20), a Associated Press (AP) diz que haveria 15 novos denunciantes: 14 mulheres e um homem.

Este grupo se junta às nove freiras que já denunciaram ter sido abusadas por Rupnik.

Sobre os novos denunciantes, o comunicado diz que “muitas dessas pessoas não se conhecem e os acontecimentos narrados referem-se a períodos diferentes”.

Os denunciantes incluem mulheres da Comunidade Loyola, que o padre Rupnik cofundou na Eslovênia, “pessoas individuais que afirmam ter sido abusadas em consciência, espiritualmente, psicologicamente ou sexualmente assediadas durante experiências pessoais de relações com o padre Rupnik” e outras “que fizeram parte do Centro Aletti”, fundado pelo padre artista em Roma.

“O grau de credibilidade do que foi denunciado ou testemunhado parece ser muito alto”, diz o texto dos jesuítas.

O comunicado diz que a equipe encarregada das denúncias referentes aos jesuítas “propôs ao padre Rupnik reunir-se com ele sobre o assunto, mas não obteve sucesso. Esta mesma equipe compilou um dossiê abrangente de seu próprio trabalho e o entregou ao padre delegado da DIR”, o padre jesuíta Johan Verschueren.

O texto inclui as diversas possibilidades relacionadas a "novos procedimentos legais civis e canônicos" e "indicações e recomendações à Companhia sobre as possíveis medidas a serem tomadas", que podem até levar à expulsão do padre, de acordo com a gravidade dos crimes.

O comunicado também diz que "se em uma denúncia houver suspeita de que um crime mais grave foi cometido contra o sacramento da penitência (absolvição do cúmplice no pecado contra o sexto mandamento, solicitação de um pecado contra o sexto mandamento no ato ou na ocasião da confissão, violação direta ou indireta do sigilo sacramental), a denúncia deve ser apresentada ao Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé (DDF). É de competência exclusiva do DDF estabelecer o que fazer com a denúncia”.

As novas medidas contra padre Rupnik

O delegado da DIR e superior de Rupnik, padre Johan Verschueren, depois de ter lido o dossiê, decidiu "promover um procedimento interno na Companhia onde o próprio padre Rupnik possa dar sua própria versão dos fatos (coisa que não fez à equipe, embora tenha sido convidado)”.

Perante este procedimento e de “forma cautelar”, o superior “reforçou as regras restritivas contra o padre Rupnik, proibindo-o, por obediência, de qualquer exercício artístico público, especialmente em estruturas religiosas (tais como igrejas, instituições, oratórios e capelas, casas de exercícios ou de espiritualidade).”.

As obras do padre Rupnik estão no Vaticano e em vários locais do mundo, como a basílica de Nossa Senhora Aparecida (SP), o santuário de Fátima e o edifício da Conferência Episcopal Espanhola.

Esta restrição se soma às que já estão em vigor: “proibição de qualquer atividade ministerial e sacramental pública, proibição de comunicação pública, proibição de sair da Região do Lácio”.

Depois de reiterar sua disposição de enfrentar este caso e qualquer outro semelhante "por respeito e proteção da verdade e da justiça", o comunicado diz que "o padre Marko Rupnik foi informado da natureza e conteúdo das acusações e também foi informado da decisão tomada”.

O texto conclui dizendo que as pessoas que deram seus depoimentos também foram informadas desta decisão pelo padre Verschueren, Delegado da DIR e superior de Rupnik.

O caso Rupnik

O padre Marko Rupnik é cofundador da Comunidade Loyola na Eslovênia, que surgiu na década de 1980, onde supostamente abusou de religiosas adultas.

Após uma investigação preliminar confiada à Companhia de Jesus, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) “considerou que os fatos em questão prescreveram, por isso arquivou o processo no início de outubro” de 2022, diz um comunicado dos jesuítas de 2 de dezembro.

Mais em

O superior geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, confirmou em 14 de dezembro que Rupnik havia sido excomungado em maio de 2020 por ter atendido a confissão de uma de suas vítimas.

cronologia publicada pelos jesuítas em 18 de dezembro, diz que a Congregação para a Doutrina da Fé declarou em maio de 2020 que, de fato, Rupnik havia sido excomungado, mas sua sentença foi revogada no mesmo mês.

Rupnik está proibido de atender confissões, exercer a direção espiritual e acompanhar exercícios espirituais. Também não pode fazer atividades públicas sem a autorização do seu superior.

Em entrevista à Associated Press, publicada em 25 de janeiro, o papa Francisco comentou sobre o caso Rupnik. “Não tive nada a ver com isso”, disse.

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