“No dia 14 de janeiro, às 16h, um grupo de homens encapuçados e fortemente armados invadiu a nossa casa e nos rendeu. Eles levaram tudo: além de dinheiro (na moeda local e dólar) levaram também computadores, caixas de som, baterias e tudo que fosse de seu interesse. Sempre com as armas apontadas para nós, proferiam ameaças de sequestro e morte, enquanto exigiam dinheiro, ouro e dólar americano. Pelas 22h, no mesmo dia, uma segunda gangue, ainda mais violenta, chegou até nós, exigindo que abríssemos o portão de entrada, atirando muitas vezes, e deixando-nos muito apavoradas e desestruturadas”.

Este relato foi enviado à presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional), irmã Eliane Cordeiro de Souza, pelas missionárias irmã Maria Nieta Oliveira e irmã Ideneide Rego, que fazem parte da Comunidade Missionária Intercongregacional de Nazaré, no Haiti.

Esta comunidade é um projeto missionário no Haiti da CRB Nacional em parceria com a coordenação da REMIS (Rede Missionária Inter-congrecional Solidária/ Brasil/Haiti). Teve início em 2010, quando o país ficou em ruínas, após um terremoto.

O projeto atendia crianças em situação de vulnerabilidade alimentar, crianças em idade escolar oferecendo aulas de reforço e alimentação. Também auxiliava adolescentes, mulheres e idosos, com oficinas de artesanato e cursos como costura, bordado, crochê, reeducação alimentar, cozinha, etc.

Segundo a presidente da CRB Nacional, as irmãs Maria Nieta Oliveira, da congregação das irmãs Josefinas, e Ideneide Rego, da congregação das irmãs Carmelitas da Divina Providência “foram surpreendidas e ficaram traumatizadas” com o ataque de janeiro.

Irmã Ideneide Rego e irmã Maria Nieta Oliveira. Foto: CRB

As missionárias relataram para irmã Eliane Cordeiro que “a crise social, política, econômica que assola o país há anos, agravou-se nos últimos meses e a situação de segurança pública se deteriorou nos últimos dias".

Segundo o Banco Mundial, o Haiti é "o país mais pobre da América Latina e do Caribe e um dos países mais pobres do mundo". O país é governado pelo primeiro ministro do Haiti, Ariel Henry, desde 20 de julho de 2021, quando assumiu interinamente as funções de presidente, após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 7 de julho de 2021. Desde então, não houve novas eleições e a luta pelo poder aguçou a violência. Além disso, um terremoto em agosto de 2021 agravou ainda mais a situação dos haitianos.

Segundo a irmã Eliane Cordeiro, em seu relato, as missionárias reconheceram “que não há perspectiva de melhoria, a curto e médio prazo”, no país, pois a situação era “insustentável”.

A presidente da CRB Nacional contou à ACI Digital que, após o ataque à casa de missão, “vizinhos e mulheres que são assistidas” pelo projeto missionário no Haiti disseram para “as irmãs que elas corriam perigo e os bandidos poderiam voltar a casa delas e até matá-las”. Por isso, “eles as ajudaram a sair daquele bairro”. Atualmente, as missionárias estão em “um lugar seguro, na comunidade das Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, em Porto Príncipe, capital do Haiti”, contou.

A irmã Eliane Cordeiro ressaltou que a população haitiana é a que “mais sofre com essa situação”, pois as missionárias estavam em missão no Haiti “há dois anos” e “foi a primeira vez” que aconteceu um fato mais violento contra elas.

A presidente da CRB comentou que “no dia 12 de fevereiro” enviariam “mais duas irmãs” para o Haiti, para auxiliarem as missionárias no país. Mas, por causa do último ocorrido em janeiro deste ano, tiveram que suspender a ida delas.

Segundo a irmã Eliane Cordeiro, as religiosas brasileiras retornam ao Brasil amanhã (10). E o futuro da missão no Haiti ainda é incerto e precisa ser “discernido e avaliado com cuidado”.

 

Confira também: