Em uma missa hoje (5) em Juba, capital do Sudão do Sul, o papa Francisco exortou os cristãos no país africano devastado pela guerra a “fazer uma contribuição decisiva para mudar a história, recusando-se a retribuir o mal com o mal”.

 

“Em nome de Jesus e de suas bem-aventuranças, deponham as armas do ódio e da vingança, para empunhar as da oração e da caridade”, disse o papa em sua homilia.

“Reúno-me aqui convosco em nome de Jesus Cristo, o Deus do amor, o Deus que alcançou a paz através da sua cruz. … Jesus, crucificado na vida de tantos de vocês, em tantas pessoas neste país; Jesus, o Senhor ressuscitado, o vencedor do mal e da morte”, disse o papa.

 

Mais de 100 mil pessoas assistiram à missa papal em Juba realizada no mausoléu em homenagem a John Garang, um líder da libertação conhecido como o “pai do Sudão do Sul”, embora tenha morrido em um acidente de helicóptero seis anos antes que o mais recente país africano conquistasse sua independência em 2011 e mergulhasse em uma brutal guerra civil dois anos depois.

 

A guerra civil do Sudão do Sul resultou na morte de cerca de 400 mil pessoas. E embora o país tenha chegado a um acordo formal de paz há quase três anos, conflitos violentos continuam em partes do país.

O papa Francisco sublinha que os cristãos do Sudão do Sul são chamados a ser “luz que brilha na escuridão” ao viver as bem-aventuranças.

“Este país, tão bonito e devastado pela violência, precisa da luz que cada um de vocês tem, ou melhor, da luz que cada um de vocês é”, diz.

Durante a missa, dançarinos vestindo faixas amarelas brilhantes adornadas com uma grande foto do papa Francisco e fotos de outros clérigos dançaram no campo abaixo do altar enquanto um coro de 300 pessoas cantava hinos e acenava com as mãos.

A primeira e segunda leituras das Escrituras foram lidas por irmãs religiosas que cuidam de órfãos na comunidade de Rejaf.

O presidente do país, Salva Kiir Mayardit,  participou da missa com os cinco vice-presidentes do Sudão do Sul, dez governadores estaduais e outros importantes líderes políticos.

Em sua homilia, o papa disse que os cristãos são chamados a ser “pessoas capazes de construir boas relações humanas como forma de conter a corrupção do mal, a doença da divisão, a sujeira dos negócios fraudulentos e a praga da injustiça”.

Ele explicou que as bem-aventuranças “revolucionam os padrões deste mundo e nosso modo de pensar habitual”, dizendo-nos que “não devemos almejar ser fortes, ricos e poderosos, mas humildes, mansos e misericordiosos; não fazer mal a ninguém, mas ser pacificadores para com todos”.

Vários cardeais africanos concelebraram a missa, entre eles o cardeal Berhaneyesus Demerew, arcebispo de Addis Abeba; o cardeal Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa; e o cardeal Gabriel Zubeir Wako, arcebispo emérito de Cartum, no Sudão.

O Papa Francisco passou um momento em oração diante de uma grande estátua de Nossa Senhora da África localizada ao lado do altar no final da missa.

Em sua mensagem do Ângelus, ele confiou o processo de paz do Sudão do Sul a Nossa Senhora da África, lembrando à multidão que a Virgem Maria é a Rainha da Paz.

“Rezamos a ela agora e confiamos a ela a causa da paz no Sudão do Sul e em todo o continente africano, onde tantos de nossos irmãos e irmãs na fé vivem perseguições e perigos, onde muitas pessoas sofrem com conflitos , exploração e pobreza”, disse o papa.

O Papa Francisco também recordou o testemunho de Santa Josefina Bakhita, do Sudão, a quem chamou de “uma grande mulher que pela graça de Deus transformou em esperança todos os sofrimentos que suportou”.

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“Esperança é a palavra que deixo com cada um de vocês, como um presente para compartilhar, uma semente para dar frutos”, acrescenta.

A missa concluiu a viagem de três dias do papa Francisco ao Sudão do Sul. O papa voará de Juba para Roma junto com o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, da Igreja da Inglaterra, e o moderador da Igreja da Escócia, Iain Greenshields, em um voo de seis horas, onde dará uma coletiva de imprensa a bordo para jornalistas.

O papa chamou sua visita de 3 a 5 de fevereiro a Juba ao lado do arcebispo de Canterbury e do moderador da Igreja da Escócia de “peregrinação de paz”.

O arcebispo católico Stephen Ameyu Martin Mulla, de Juba, agradeceu ao papa Francisco por ter tomado a “ousada decisão de visitar nosso país, que está sofrendo devido às consequências da guerra civil”.

Nas últimas palavras do papa ao povo sul-sudanês antes de seguir para o aeroporto, Francisco expressou o quanto estava emocionado com a tão esperada viagem.

“Queridos irmãos e irmãs, volto a Roma com vocês ainda mais perto do meu coração. Deixem-me repetir: vocês estão em meu coração, vocês estão em nossos corações, vocês estão nos corações dos cristãos em todo o mundo”, disse.

"Nunca percam a esperança. E não percam nenhuma oportunidade de construir a paz. Que a esperança e a paz habitem entre vocês. Que a esperança e a paz habitem no Sudão do Sul!”

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