“Quem comete violência contra uma mulher, comete-a contra Deus, que se encarnou de uma mulher”, disse o papa Francisco no primeiro discurso dele no Sudão do Sul na tarde de hoje (3), no encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático do país.

No início de sua mensagem, Francisco disse que chegou ao Sudão do Sul “como peregrino de reconciliação”.

“Com o sonho de vos acompanhar no vosso caminho de paz: caminho tortuoso, mas inadiável”, disse o papa.

Seundo ele, essa "peregrinação ecumênica" acontece depois de ter ouvido "o clamor dum povo inteiro que, com grande dignidade, chora pela violência que padece, pela perene falta de segurança, pela pobreza que o aflige e pelos desastres naturais que assolam”.

O papa apelou às autoridades presentes e advertiu-as: “a própria história hão de recordar-vos pelo bem que tiverdes feito a esta população, que vos foi confiada para a servirdes”.

Francisco disse que a violência “faz retroceder o curso da história” e devido à grave situação que o país atravessa, defendeu que “é a hora de dizer basta… sem ‘condições’ nem ‘mas’”.

“Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à mingua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição; é a hora de construir”, disse Francisco. “É tempo de passar das palavras aos atos. É tempo de virar página; é o tempo do empenho em prol duma transformação urgente e necessária”.

Segundo o papa, a peregrinação ecumênica de paz junto com o arcebispo da Cantuária, Justin Welby, e o moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, é “uma raridade”.

O papa disse esperar que “represente uma mudança de ritmo e é para todos uma oportunidade de relançar a esperança”.

“Se por trás de cada violência há ira e rancor, e por trás de cada ira e rancor há a memória não curada de feridas, humilhações e injustiças, a única direção a tomar para se sair disso só pode ser o encontro: acolher os outros como irmãos e dar-lhes espaço, inclusive sabendo recuar alguns passos”, disse Francisco.

O papel dos jovens

Segundo o papa, para alcançar a paz e “passar da incivilidade do confronto à civilidade do encontro”, o papel dos jovens é essencial. “Sejam-lhes assegurados espaços livres de encontro para se juntarem e discutirem; e possam tomar nas suas mãos, sem medo, o futuro que lhes pertence”.

O papa pediu que também as mulheres “sejam mais envolvidas mesmo nos processos políticos e decisórios” pois “as mães que sabem como se gera e guarda a vida, que haja respeito por elas, porque quem comete violência contra uma mulher, comete-a contra Deus, que encarnou de uma mulher", disse ele.

Francisco denunciou os "iníquos circuitos de dinheiro, enredos ocultos para se enriquecer, negócios clientelares, falta de transparência ", que definiu como "o fundo poluído da sociedade humana".

“A urgência dum país civilizado é cuidar dos seus cidadãos, particularmente dos mais frágeis e desfavorecidos. Penso sobretudo nos milhões de deslocados que aqui vivem”, acrescentou o papa.

O papa falou de novo da urgência de acabar com o tráfico de armas e disse que "aqui há necessidade certamente de muitas coisas, mas não de mais instrumentos de morte".

Apelou ainda ao desenvolvimento de políticas de saúde adequadas, bem como à alfabetização e instrução, "única via para que os filhos desta terra tomem nas próprias mãos o seu futuro”.

Francisco citou as palavras de são João Paulo II durante sua visita ao Sudão há trinta anos, onde disse que “é preciso encontrar soluções africanas para os problemas africanos”.

Por fim, reiterou o carinho e a preocupação “com que acompanho as vossas vicissitudes, juntamente com os irmãos que me acompanharam até aqui, peregrino de paz”.

"Desejamos sinceramente oferecer a nossa oração e o nosso apoio para que o Sudão do Sul se reconcilie e mude de rumo."

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“A fim de que o seu curso vital deixe de ser impedido pelas cheias da violência, obstaculizado pelos pântanos da corrupção e malogrado pelo transbordamento da pobreza”, concluiu.

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