Em seu primeiro discurso após sua chegada à República Democrática do Congo, o papa Francisco disse que “este país e este continente merecem ser respeitados e ouvidos, merecem espaço e atenção: tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África”.

Na tarde de hoje (31), primeiro dia da 40ª viagem apostólica do papa Francisco à África, o papa se reuniu com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático no jardim do Palácio da Nação, em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo.

Em seu discurso, dirigido às autoridades e a alguns fiéis presentes, o papa se disse feliz por estar no país, e destacou as palavras do presidente, que classificou a guerra no país como “um genocídio esquecido”.

O papa lamentou que o país atormentado pela guerra “continua a padecer, dentro das suas fronteiras, conflitos e migrações forçadas e a sofrer terríveis formas de exploração, indignas do homem e da criação”.

Francisco disse que chegou ao país africano “em nome de Jesus, como um peregrino de reconciliação e de paz”.

“Muito desejei estar aqui e, finalmente, venho trazer-vos a solidariedade, o afeto e a consolação de toda a Igreja Católica”, disse.

Francisco também afirmou que “a Igreja e o papa têm confiança em vós, acreditam no vosso futuro, num futuro que esteja nas vossas mãos e no qual mereceis poder investir os vossos dotes de inteligência, sagacidade e laboriosidade”.

Para o papa, “com a ajuda de Deus, os seres humanos são capazes de justiça e perdão, de concórdia e reconciliação, de compromisso e perseverança em pôr a render os talentos recebidos”.

“Desejo, pois, ao início da minha viagem lançar um apelo: que cada congolês se sinta chamado a fazer a sua parte”, afirmou o papa. “A violência e o ódio não tenham mais lugar no coração e nos lábios de ninguém, porque são sentimentos anti-humanos e anticristãos, que paralisam o desenvolvimento e fazem retroceder para um passado sombrio”.

O papa Francisco denunciou o "colonialismo econômico". "É um drama face ao qual, muitas vezes, o mundo economicamente mais desenvolvido fecha os olhos, os ouvidos e a boca", disse.

O papa pediu que “os processos de paz em curso, que encorajo com todas as forças, sejam sustentados com fatos, e os compromissos sejam mantidos”.

Fransisco agradeceu "aos países e às organizações que fornecem ajudas substanciais nessa linha, ajudando na luta contra a pobreza e as doenças, apoiando o estado de direito, promovendo o respeito pelos direitos humanos".

Contra o tribalismo e a contraposição, o papa disse que “o Pai do Céu quer que nos saibamos acolher como irmãos e irmãs de uma única família e trabalhar para um futuro que seja vivido juntamente com os outros, não contra os outros”.

“O poder só tem sentido se se torna serviço” e encorajou as pessoas a fugirem “do autoritarismo, da busca do lucro fácil e da ganância do dinheiro”.

“Não se deixem manipular nem comprar por quem quer manter o país na violência para o explorar e fazer negócios vergonhosos: isto só traz descrédito e vergonha, juntamente com morte e miséria”.

Para Francisco, “a educação é fundamental: é o caminho para o futuro, o caminho a percorrer para se alcançar a plena liberdade deste país e do continente africano”.

Francisco afirmou que “é urgente investir nela para preparar sociedades que só serão consolidadas se bem instruídas, só serão autônomas se plenamente conscientes das suas potencialidades e capazes de as desenvolver com responsabilidade e perseverança”.

“Mas há muitas crianças que não vão à escola: quantas, em vez de receberem uma digna instrução, são exploradas! Muitas morrem, sujeitas a trabalhos escravizadores nas minas”, lamentou. “Não se poupem esforços para denunciar o flagelo do trabalho infantil e acabar com ele".

“Em nome de Cristo, que é o Deus da esperança, o Deus de todas as possibilidades que sempre dá a força para recomeçar, em nome da dignidade e do valor dos diamantes mais preciosos desta terra esplêndida que são os seus cidadãos, quero convidar a todos para um recomeço social corajoso e inclusivo”, concluiu.

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