O arcebispo de Viena, cardeal Christoph Schönborn, confirmou hoje (18) ter sido ele que encorajou Joseph Ratzinger a aceitar a eleição como papa em 2005.

O secretário de Bento XVI, o arcebispo Georg Gänswein, revelou o fato em seu livro “Nada além da verdade” (“Nient'altro che la verità"), publicado na Itália na semana passada. Gänswein diz no livro que Schönborn havia escrito ao cardeal Ratzinger “uma cartinha por precaução”.

No site da arquidiocese de Viena, o arcebispo acusa Gänswein de cometer uma “indecente indiscrição” com seu livro ao publicar “coisas confidenciais”.

Schönborn disse que “até agora deliberadamente manteve silêncio” sobre sua nota a Bento XVI, observando que “isso aconteceu no contexto da reunião dos cardeais, e não no próprio conclave”.

 

O papa Bento XVI falou sobre a carta em 25 de abril de 2005, durante uma audiência  com peregrinos da Alemanha.

O discurso é famoso entre os católicos alemães como o “discurso da guilhotina” — Fallbeilrede em alemão.

No discurso, Bento comparou a experiência de sua eleição com a de ter o machado de uma guilhotina caindo sobre ele. A lâmina da guilhotina em alemão é chamada de fallbeil.

Ao falar abertamente sobre o que o levou a aceitar sua eleição, o então recém-eleito papa revelou que ficou “muito comovido com uma breve nota escrita para mim por um irmão cardeal”.

“Ele me lembrou que por ocasião da missa por João Paulo II, eu havia baseado minha homilia, a partir do Evangelho, nas palavras do Senhor a Pedro no lago de Genesaré: 'Segue-me!' Falei de como Karol Wojtyła recebeu repetidamente este chamado do Senhor, e como cada vez ele teve que renunciar muito e simplesmente dizer: 'Sim, eu te seguirei, mesmo que você me leve aonde eu nunca quis ir' ”, disse Bento XVI.

“Este irmão cardeal me escreveu: ‘Se o Senhor lhe disser agora: 'Segue-me', lembre-se do que você pregou. Não recuse! Seja obediente da mesma forma que você descreveu o grande papa, que voltou para a casa do Pai.’ Isso me comoveu profundamente. Os caminhos do Senhor não são fáceis, mas não fomos criados para uma vida fácil, mas para grandes coisas, para o bem”.

“Assim, no final eu tive que dizer sim”, acrescentou Bento XVI.

Em seu livro, Gänswein também aborda o fato de que Schönborn e Ratzinger se tratavam pelo primeiro nome.

Além dos amigos de infância de Bento XVI, o cardeal Schönborn, um membro do círculo de alunos de Ratzinger, foi um dos poucos que se dirigiu a seu ex-professor como “du” (o informal “você”), escreve Gänswein.

Outro episódio abordado no livro de Gänswein – uma conversa breve, mas muito pessoal entre o recém-eleito papa Bento XVI e Schönborn – também ocorreu conforme descrito por Gänswein, confirmou hoje (18) o arcebispo de Viena.

Schönborn, um frade dominicano descendente da nobreza austríaca, apresentou sua renúncia ao cargo de arcebispo de Viena antes de completar 75 anos, em 22 de janeiro de 2020.

Na mesma época, a arquidiocese de Viena disse que o papa Francisco havia recusado a renúncia, pedindo a Schönborn que permanecesse por “um período indefinido”.

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