A Junta de Castilla y León, na Espanha, anunciou na semana passada que oferecerá às mulhefres que queiram abortar a oportunidade de ouvir os batimentos cardíacos de seus bebês, uma ultrassonografia 4D e atendimento psicológico.

No domingo (15), o governo espanhol publicou um comunicado “sobre o anúncio da Junta de Castilla y León de restringir os direitos das mulheres”.

O texto diz que “o governo da Espanha usará todos os mecanismos que o ordenamento jurídico põe à sua disposição para defender a liberdade da mulher e seu direito de interromper voluntariamente a gravidez”.

O comunicado também pede à Junta de Castilla y León "que se abstenha de aprovar e aplicar qualquer medida que viole ou prejudique o estabelecido na norma atual que regula" o aborto na Espanha.

No mesmo dia, a Junta de Castilla y León respondeu com um comunicado no qual recorda que sempre foi "uma comunidade pioneira na defesa dos direitos das mulheres e continuará sendo, por isso lamenta a falta de diálogo do governo da Espanha com esta leal comunidade que sempre atua com absoluto respeito à Lei”.

“Dito isto, a Junta de Castilla y León utilizará todos os mecanismos que o ordenamento jurídico põe à sua disposição para defender a liberdade da mulher e o direito das mulheres grávidas a cuidados de saúde adequados e modernos nos termos estabelecidos na normativa vigente", diz.

A ministra da Igualdade da Espanha, Irene Montero, se manifestou contra as medidas pró-vida da Junta de Castilla y León, governada por membros do Partido Popular (PP) e do Vox.

“É grave que haja um partido contra o direito ao aborto. Mais grave ainda é que o PP lhes abra as portas de um governo para violar os direitos das mulheres. Este governo garantirá os direitos sexuais e reprodutivos de todas as mulheres em todo o país”, disse Montero.

“Os direitos das mulheres devem ser ampliados agora mais do que nunca", afirmou a ministra no Twitter.

O pediatra, deputado de Vox e porta-voz da Saúde na Assembleia de Madri, Gador Joya, disse que atualmente e pela Lei 41/2002 sobre a autonomia do paciente, "as mulheres têm direito a uma ultrassonografia e a receber uma informação completa e verdadeira, sem manipulação e sem esconder informações”.

“Todas as decisões sobre a gravidez devem ser tomadas livremente pela mulher após receber todas as informações. O batimento cardíaco é um sinal chave da viabilidade fetal e faz parte dessa informação", afirmou no Twitter. “Portanto, a ultrassonografia na gravidez não é opcional, mas obrigatória para o diagnóstico. Oferecer não é coerção, mas obrigação do médico e direito da mulher”.

O bispo de Orihuela-Alicante, dom José Ignacio Munilla, disse no Twitter: “Definição do conceito de 'liberdade progressiva': Decidir sobre uma realidade sem querer vê-la ou ouvi-la. #Aborto".

“Eles se dizem progressistas e convertem em direito interromper o progresso de uma vida humana no seio materno. Dizem que defendem a autonomia sem chantagens emocionais e evitam a informação científica e a reflexão”, disse o arcebispo de Valladolid, dom Luis Argüello.

O padre da diocese de Getafe, Francisco Javier "Patxi" Bronchalo, afirmou no Twitter que "muitos se incomodam ao ouvir o batimento cardíaco do menino ou da menina que ainda não nasceu".

“Isso porque, por mais que queiram negar, aquele batimento cardíaco nos coloca a todos na verdade: que a gestante carrega um ser humano dentro de si e que o aborto está acabando com sua vida”, disse.

“Ajudar a mulher não é pressioná-la a abortar, dizer a ela que essa decisão não terá consequências. Não é deixá-la sozinha quando a criança nasce”, afirmou o padre Bronchalo.

"Nem um passo atrás"

O vice-presidente da Junta de Castilla y León, Juan García Gallardo, publicou o comunicado de La Moncloa em sua conta no Twitter, com um comentário enérgico.

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“O governo central teme que as mães tenham mais informações sobre a gravidez. O que eles ainda não sabem é que não temos medo deles. Nem um passo atrás", disse.

Ontem (16), quando entram em vigor as medidas pró-vida, García Gallardo publicou o depoimento de uma mulher que agradece o que foi anunciado em Castilla y León.

“Sou socialista e fiz um aborto. Na hora que tive que fazer, fui coagida pela minha situação e pela ausência de um pai para o meu futuro filho”, contou a mulher.

“Gostaria de ter tido o apoio que vocês vão dar às mulheres. Eu sou da Andaluzia e no momento em que fiz isso, eles me encaminharam para uma clínica decadente conveniada. Foi um horror. Até hoje me arrependo do que fiz. Foi em dezembro de 2008”, continuou.

"Obrigado pelo que faz por essas criaturas", concluiu.

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