Dom Georg Gänswein, secretário do papa Bento XVI, conta em suas memórias publicadas hoje (12) por que o papa Francisco decidiu morar na Casa Santa Marta e não no Palácio Apostólico do Vaticano, onde por tradição moram os papas.

Segundo o relato do arcebispo no livro "Nada mais do que a verdade", em 15 de março de 2013, ele acompanhou o papa Francisco ao Palácio Apostólico para que pudesse tomar posse do apartamento.

“Eu mostrei a ele como os quartos estavam dispostos. Disse-lhe também que não teria problemas para se mudar da Casa Santa Marta, pois estava tudo em ordem e bastava uma limpeza normal do local”, conta em suas memórias.

"Nesse momento, ele não me deu uma resposta", continua Gänswein, "fazendo-me entender que pensaria sobre isso".

Mais tarde, conta que o papa Francisco convidou o então superior geral dos Jesuítas, padre Adolfo Nicolás, e lhe escreveu: “Venha para Santa Marta, porque amanhã tenho que me mudar para o Palácio Apostólico e aqui tenho mais liberdade".

Passadas algumas semanas, o arcebispo voltou a lhe perguntar, e o papa lhe disse que “normalmente durmo como uma pedra, mas na noite seguinte a que vi o apartamento dormi muito mal”.

Segundo Gänswein, o papa Francisco disse que "não estava acostumado a viver em espaços tão grandes" e por isso pediu uma acomodação menor dentro do Vaticano.

Para dom Georg Gänswein, qualquer solução “teria sido ineficaz e criaria problemas de gestão e segurança”.

“Também tentei abordar o assunto de um ponto de vista emocional, dizendo-lhe que para todos os que passavam em frente à basílica vaticana ao entardecer, a luz acesa no apartamento pontifício era um ponto de referência e que sem dúvida haveria saudade se a residência mudasse”.

“Mas tive a impressão – continuou o secretário de Bento XVI – que os milhares de quilômetros de distância de Roma não o fizeram partícipe desta sensibilidade”.

Segundo dom Gänswein, Bento XVI ficou surpreso com a postura do papa Francisco, mas "sua sábia conclusão foi que, se ele não queria, certamente não poderia ser forçado!".

O arcebispo alemão também lembra as explicações que o papa Francisco deu sobre sua decisão em 7 de junho de 2013 durante um encontro com os estudantes das escolas geridas pelos jesuítas na Itália e na Albânia: "Para mim é um problema de personalidade: isso é tudo. Eu preciso viver entre as pessoas, e se eu vivesse sozinho, talvez um pouco isolado, isso não me faria nenhum bem. Um professor me fez esta pergunta: "Por que você não vai morar lá? Respondi: Escute-me, professor: por razões psiquiátricas”.

A seguir, dom Georg Gänswein lamenta que "especialmente nos primeiros tempos houve aqueles que quiseram opor Francisco e Bento também sob o aspecto da residência, dizendo que o novo pontífice não queria a magnificência do Palácio Apostólico, mas se contentava com um quarto de hotel”.

Por isso, em suas memórias esclarece que "os espaços pessoais dos últimos papas -escritório, sala, quarto e banheiro- eram equivalentes aos de Francisco no apartamento de Santa Marta".

Ele conta que as comparações feitas entre os dois papas, e mais ainda se ocorriam dentro do Vaticano, "sempre entristeciam Ratzinger".

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