O bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, preso na Nicarágua desde agosto do ano passado, será julgado por “conspiração” e divulgação de “notícias falsas” contra o regime do presidente Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de esquerda que soma 29 anos no poder.

Na audiência preliminar que aconteceu ontem (10), em meio a denúncias de irregularidades no processo, o caso se Álvarez foi encaminhado "a julgamento".

Segundo um comunicado do Poder Judiciário, "nos Tribunais de Distrito Penal de Audiência de Manágua, aconteceu a audiência inicial do processo penal, na qual compareceu Rolando José Álvarez Lagos como acusado pelos crimes de conspiração por atentar contra a integridade nacional e divulgar falsas notícias através das tecnologias de informação e comunicação em detrimento do Estado e a sociedade nicaraguense”.

“A autoridade judiciária revisou as medidas cautelares decretadas na audiência preliminar, mantendo a prisão domiciliar, da mesma forma, admitiu a troca de informação de provas e remeteu o processo a julgamento”, informa o boletim.

A Justiça da Nicarágua também confirmou o mandado de prisão do padre Uriel Antonio Vallejos "pelos mesmos crimes". Vallejos conseguiu sair do país e vive exilado na Costa Rica.

O advogado nicaraguense Yader Morazán, defensor dos direitos humanos exilado nos EUA, acusou ontem (10) a juíza Gloria Saavedra de ser "a verduga de hoje".

“Ela é uma das novas nomeações de 2019, substituindo os primeiros verdugos que julgaram manifestantes de 2018 e que foram promovidos a magistrados. Ela nem fez carreira jurídica, porque era coordenadora”, disse.

Ele também disse que a defensora pública designada para dom Rolando Álvarez, Jennifer Hernández, “é a advogada defensora pública favorita do regime para fazer audiências contra padres”.

Um relatório da advogada e pesquisadora Martha Patricia Molina revelou que entre 2018 e 2022 a Igreja Católica na Nicarágua sofreu quase 400 ataques sob a sombra do governo de Ortega.

Molina disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, ontem (10), que o bispo nicaraguense "esteve sentado no banco dos réus onde deveriam ser julgados verdadeiros criminosos".

“Vemos um bispo a quem foi negado o direito de defesa, perante um sistema judicial cheio de corrupção e nepotismo. Está perante um juiz, um procurador (e) o seu próprio defensor público imposto na audiência preliminar”.

A advogada falou da coincidência de que a Nicarágua ontem, 10 de janeiro, celebrou "mais um ano do assassinato do 'mártir das liberdades públicas' Pedro Joaquin Chamorro", diretor do jornal La Prensa, baleado em 1978 por um homem ligado ao regime do então ditador Anastasio Somoza.

“Hoje, a ditadura submeteu à infame justiça nicaraguense um inocente: dom Rolando Álvarez, que enfrentará um processo nulo do início ao fim”, diz Molina.

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