Fazendo-se batizar, Jesus nos revela a justiça de Deus, aquela justiça que Ele veio trazer ao mundo, disse papa Francisco aos fiéis na praça São Pedro, antes da oração do Ângelus deste domingo (8).

Depois de presidir uma missa com o Batismo de 13 crianças, na Capela Sistina, Francisco, inspirado pelo Evangelho de Mateus (Mt 3,13-14), que retrata o Batismo do Senhor disse que, no Batismo de Jesus realizado por João no rio Jordão "era um rito com o qual as pessoas se arrependiam e se comprometiam a se converter". E com isso, recordou um hino litúrgico que “diz que o povo ia ser batizado "de alma e pés descalços", uma alma aberta, sem cobrir nada, com humildade e coração transparente," destacou o papa.

Francisco comentou que, ao vermos Jesus junto aos pecadores, ficamos maravilhados e nos perguntamos: por que Jesus, “o Santo de Deus, o Filho de Deus sem pecado" fez essa escolha? E ele diz que a resposta está nas palavras que Jesus dirigiu a João: “Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa”, mas, “o que significa cumprir toda a justiça?”, perguntou o papa. E respondendo, ele diz: "Não dividindo, mas compartilhando".

“Fazendo-se batizar, Jesus nos revela a justiça de Deus, aquela justiça que Ele veio trazer ao mundo. Nós, tantas vezes, temos uma ideia estreita de justiça e pensamos que ela significa: quem erra que pague e assim apaga o mal que cometeu. Mas a justiça de Deus, como ensina a Escritura, é muito maior: seu propósito não é a condenação do culpado, mas sua salvação e seu renascimento, o torná-lo justo, de injusto a justo. É uma justiça que vem do amor, que vem daquelas entranhas de compaixão e de misericórdia que são o próprio coração de Deus, Pai que se comove quando somos oprimidos pelo mal e caímos sob o peso dos pecados e das fragilidades”, explicou o papa.

O papa ainda esclareceu que a justiça de Deus, "não quer distribuir penas e castigos", mas, como assegura o Apóstolo Paulo, "consiste em justificar a nós, seus filhos, libertando-nos das ciladas do mal, curando-nos, reerguendo-nos (...). O Senhor está com a mão estendida para ajudar a nos reerguer":

“E então compreendemos que, às margens do Jordão, Jesus nos revela o sentido de sua missão: Ele veio cumprir a justiça divina, que é salvar os pecadores; veio para tomar sobre os ombros o pecado do mundo e descer nas águas do abismo, naquelas águas da morte, de modo a nos recuperar e não nos deixar afogar. Ele mostra-nos hoje que a verdadeira justiça de Deus é a misericórdia que salva. Nós temos medo de pensar que Deus é misericórdia, e Deus é misericórdia, porque a sua justiça é precisamente a misericórdia que salva, a sua justiça é o amor que partilha a nossa condição humana. A sua justiça se faz próxima, se compadece da nossa dor, entrando nas nossas obscuridades para levar a luz”, frisou.

E Francisco relembrou a homilia de Bento XVI, no dia 13 de janeiro de 2008, quando declarou: “Deus quis salvar-nos indo ele mesmo até ao fundo do abismo da morte, para que cada homem, mesmo quem caiu tão em baixo que já não vê o céu, possa encontrar a mão de Deus à qual se agarrar e subir das trevas para ver de novo a luz para a qual ele é feito."

Papa Francisco também falou que "nós temos medo de pensar em uma justiça assim misericordiosa. E ressaltou: “sigamos em frente. Deus é misericórdia. Sua justiça é misericordiosa. Deixemo-nos tomar pela mão por Ele".

"Também nós discípulos de Jesus, somos chamados a exercer deste modo a justiça, nas relações com os outros, na Igreja, na sociedade. Não com a dureza de quem julga e condena dividindo as pessoas em boas e más, mas com a misericórdia de quem acolhe compartilhando as feridas e as fragilidades das irmãs e dos irmãos, para reerguê-los. Gostaria de dizer isso assim: não dividindo, mas compartilhando. Não dividir, mas compartilhar. Façamos como Jesus: compartilhemos, carreguemos os fardos uns dos outros ao invés de fofocar e destruir, olhemo-nos com compaixão, ajudemo-nos uns aos outros."

E finalizando seu discurso, Francisco propôs alguns questionamentos: “sou uma pessoa que divide ou que partilha? Sou discípulo do amor de Jesus ou discípulo da fofoca, que divide e divide?” E enfatizou que “a fofoca é uma arma letal: mata, mata o amor, mata a sociedade, mata a fraternidade”.

"E agora rezemos a Nossa Senhora, que deu à luz Jesus, imergindo-o em nossa fragilidade para que tivéssemos vida novamente", conclui o papa.

 

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