O ex-secretário do papa Bento XVI, arcebispo Georg Gänswein, contou como foi a sua reação quando soube da renúncia do papa.

“O papa Bento XVI me falou sobre isso quando estávamos em Castel Gandolfo, no final de setembro de 2012, ou seja, alguns meses antes (da renúncia)”, disse dom Gänswein em declarações à Associated Press (AP). Castel Gandolfo é a residência de verão dos papas e fica 18 quilômetros a sudeste de Roma.

“Minha reação imediata foi dizer a ele: 'Santo Padre, isso não é possível, é impossível'”, acrescentou Gänswein.

“Eu disse isso a ele, assim como falo com você agora. Eu disse a ele: 'Santo Padre, isso não é possível, temos que pensar em reduzir as coisas que devem ser vistas, e assim pouco a pouco, mas sair, renunciar, é impossível'”, continuou o arcebispo.

Bento XVI “deixou-me falar por um tempo e depois me disse: ‘Você pode imaginar que pensei muito sobre isso, refleti, rezei, lutei. E agora estou lhe comunicando que tomei essa decisão, que não está em discussão, não é uma questio disputanda (um assunto a ser debatido), mas que está decidida. Estou lhe contando agora e você não pode contar a ninguém'", disse o secretário de Bento XVI.

Dom Gänswein também contou que Bento XVI “uma vez me disse que ‘durante anos agi como João Paulo II quando ele ficou doente. Não posso e não quero copiar, porque não sou eu. Eu devo conduzir a minha própria vida, com minhas opções, com minhas forças e não me comparar com algo que não dá certo no final' e foi assim que ele tomou essa decisão".

“Esta decisão requer não só coragem, muita e muita coragem, mas também humildade, muita e muita humildade, caso contrário não teria sido possível e não será possível”, disse Gänswein.

O secretário disse ainda que "qualquer um que acredite que possa haver um papado pacífico errou de profissão, isso não é possível".

Ao responder sobre os escândalos morais e econômicos da Igreja, o secretário de Bento XVI disse que "a palavra escândalo é certamente um pouco forte, mas é verdade que durante o pontificado houve muitos problemas, como diz, internos com os Vatileaks, e com o IOR (o Banco do Vaticano)”.

“Não foi a primeira nem a última vez durante o papado de Bento XVI, mas é óbvio, como diz o papa Francisco, o diabo não dorme, certamente sempre tentará bater onde mais dói”.

A renúncia de Bento XVI

Bento XVI anunciou sua renúncia ao pontificado em 11 de fevereiro de 2013, decisão que entrou em vigor em 28 de fevereiro, 17 dias depois.

Em entrevista concedida em 2016 ao jornal italiano La Repubblica, Bento XVI disse que tomou a decisão de renunciar depois da viagem que fez ao México e a Cuba em 2012, com a convicção de que devido a sua condição física não poderia comparecer à Jornada Mundial da Juventude do Rio em 2013.

"Ficou claro, deste modo, que não estava na capacidade de participar da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro no verão (europeu) de 2013, já que se opunha claramente o problema do fuso horário "

"A partir de então, devia decidir em um tempo relativamente breve a data da minha aposentadoria", disse.

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