A diocese de Roma anunciou que o padre jesuíta esloveno Marko Rupnik, acusado de abusar sexualmente de ao menos nove religiosas consagradas, será removido de toda atividade diocesana.

Num comunicado divulgado na sexta-feira (23) em que prometeu "toda a colaboração necessária" na investigação do caso que envolve o padre artista, o cardeal Angelo de Donatis, vigário geral da diocese de Roma, cujo bispo titular é o papa, disse que essa colaboração “provavelmente envolverá também, entre outras coisas, uma série de medidas com respeito aos ofícios canônicos diocesanos - os únicos diretamente sujeitos à autoridade do cardeal vigário - com os quais o padre Rupnik ainda está investido, em particular o de reitor da igreja de São Felipe Neri all’Esquilino e membro da Comissão Diocesana de Arte Sacra e Patrimônio Cultural”.

“A diocese de Roma também está ciente de ter que refletir e tomar eventuais medidas com respeito a uma atividade que já vem sendo desenvolvida há muitos anos pelo padre Rupnik e seus colaboradores no nosso âmbito diocesano: trata-se do conhecido Centro Aletti, lançado no início dos anos 90, depois se desenvolveu e cresceu sob a autoridade da Companhia de Jesus e finalmente se tornou, em 5 de junho de 2019, a Associação Pública dos Fiéis da Diocese de Roma, da qual a doutora Maria Campatelli é atualmente a diretora”.

O padre Marko Rupnik tem obras no Vaticano, na basílica de Aparecida (SP), no santuário de Fátima, Portugal.

O padre jesuíta também é o autor do logotipo do Jubileu da Misericórdia, convocado pelo papa Francisco no final de 2015 e projetou a imagem oficial do Encontro Mundial de Famílias (EMF) que aconteceu em Roma este ano.

No início de dezembro, os meios italianos divulgaram denúncias de abuso sexual que o padre Rupnik teria cometido nos anos 90, na instituição religiosa feminina Comunidade Loyola, da qual ele é cofundador.

No comunicado de sexta-feira (23), o cardeal De Donatis diz que "o atual pronunciamento do Vicariato de Roma deve ser entendido como respeitando as competências e decisões dos legítimos superiores do padre Rupnik, assim como as determinações de todas as Instituições que trataram de seu caso, especialmente nos últimos meses, e em particular o Dicastério para a Doutrina da Fé”.

Rupnik “teve até agora uma relação de natureza pastoral em vários níveis com a diocese de Roma, mas não está em posição de submissão hierárquica ao cardeal vigário em nível disciplinar e eventualmente penal”, disse ele.

O cardeal disse que “toda a diocese, diante desta comunicação desconcertante, especialmente na mídia, que desorienta o Povo de Deus, está vivendo estas horas com preocupação e consternação, consciente da extrema delicadeza da situação, que - deve ser reiterado - foi amplamente tratado em espaços judiciais que estão completamente fora da competência do cardeal vigário, e agora está sendo tratado de forma autônoma pelos legítimos superiores do padre Rupnik”.

Isso foi comunicado, disse De Donatis, num documento datado de 16 de dezembro, assinado pelo padre Johan Verschueren, delegado do padre geral e superior maior das Casas internacionais.

O cardeal De Donatis disse que "a diocese de Roma, que até recentemente desconhecia as questões levantadas, não pode entrar no mérito das determinações feitas por outros, mas garante, também em nome de seu bispo, todo o apoio necessário para a desejável solução positiva do caso, que cure as feridas infligidas às pessoas e ao corpo eclesial, levando, na medida do possível, à plena luz e verdade sobre o que aconteceu: aquela verdade que só nos liberta ( Jo 8 , 32)”.

“É dever da Igreja aplicar os critérios da verdade, que são os de Deus, com os quais Ele olha para nós e nos julga”, disse.

A Igreja, continuou ele, “tem dois mandatos inalienáveis ​​que são ao mesmo tempo também deveres: estar perto daqueles que sofrem e implementar os critérios de verdade e justiça derivados do Evangelho”.

“No caso que a está abalando, é bom prosseguir por um certo caminho: nós ministros de Cristo não podemos ser menos garantes e caridosos do que um Estado laico, transformando de plano uma queixa em crime”, disse.

“Os julgamentos que vemos sendo difundidos por muitos com particular veemência, não parecem manifestar nem um critério evangélico de busca da verdade, nem um critério básico sobre o qual se funda toda norma de direito, a verbis legis non est recedendum”.

De Donatis disse que "a Igreja que está em Roma neste momento considera primordial e fundamental acolher com profundo respeito a dor e o sofrimento de todos os envolvidos neste caso, especialmente neste tempo litúrgico do ano que chama todos a reconhecer Cristo Salvador como o único capaz de curar as feridas do coração humano”.

Ao concluir, o cardeal disse que “tudo confiamos à misericórdia do Senhor e ao prudente discernimento de quantos são chamados a tomar decisões sobre as pessoas envolvidas”.

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