A Conferência Episcopal Eslovena lamentou que os abusos do padre jesuíta e artista Marko Rupnik tenham permanecido ocultos por muitos anos e que as vítimas não tenham sido ouvidas por décadas.

Rupnik, de 68 anos, cujo caso foi denunciado pela imprensa italiana no início deste mês, é acusado de ter abusado de ao menos nove consagradas, embora uma fonte se refira a pelo menos 20 mulheres adultas.

“Lamentamos porque, durante tantos anos estes atos inadmissíveis permaneceram desconhecidos, causando tanto sofrimento às vítimas e a seus entes queridos”, diz a Conferência Episcopal Eslovena num comunicado unânime divulgado ontem (22) na capital do país, Ljubljana.

“Lamentamos o fracasso dos responsáveis em tomar as medidas necessárias e a ocultação dos atos de violência sexual e espiritual, assim como o abuso de poder e autoridade, não só no caso do padre Rupnik, mas também em todos os outros casos, tanto na Eslovênia como em outros lugares", continua.

“Também lamentamos que as vítimas não tenham sido realmente escutadas há décadas. Qualquer abuso de poder e autoridade espiritual para exercer violência sobre as pessoas ao seu cuidado é um ato inadmissível que deve ser condenado", diz o comunicado.

Uma suposta vítima denunciou há alguns dias que os jesuítas sabiam dos abusos de Rupnik desde 1994.

A Conferência Episcopal disse que soube "com grande tristeza e dor" dos abusos de Rupnik através da mídia, e que se manifesta depois “que os superiores da Companhia de Jesus confirmaram a verdade dos fatos".

“Condenamos todas as violências psicológicas, sexuais e espirituais cometidas pelo padre Rupnik, bem como os graves abusos no Sacramento da Reconciliação. Apoiamos os superiores na busca da verdade e da justiça”, dizem os bispos no comunicado.

“A culpa nunca é das vítimas! Nós estamos do lado delas. Expressamos a elas nossa compaixão e proximidade e nos comprometemos a ajudá-las. Também expressamos nosso apoio a toda a comunidade eclesial”, continua o comunicado.

Depois de expressar que há "tolerância zero" para abusos, os bispos encorajaram as vítimas a fazerem suas denúncias a varuh@jezuiti.si, "para que a verdade e um julgamento objetivo possam ser alcançados da maneira mais completa possível".

"Só através do compromisso comum é que podemos quebrar o muro de silêncio, que esconde os perpetradores, e deter este mal", continua o texto.

Distinguir os abusos das obras de arte

A Conferência Episcopal da Eslovênia também declara que conhece a reputação “do padre Rupnik como um artista excepcional e um sábio guia espiritual que tocou muitas vidas e comunidades e criou muitas obras de arte e literatura espiritual”.

Entre as obras artísticas de Rupnik, no Vaticano e em diferentes partes do mundo, destacam-se o logotipo do Jubileu da Misericórdia, convocado pelo papa Francisco em 2016, e a imagem oficial do Encontro Mundial das Famílias de 2022, além dos mosaicos das fachadas da basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), cuja primeira parte foi inaugurada em março último.

“Entendemos que muitos de vocês estão tristes com esta notícia e se perguntam se devem ou não jogar tudo fora. Pedimos, com esta trágica constatação em mente, que possam distinguir entre seus atos inadmissíveis e condenáveis, e seu extraordinário trabalho tanto no campo da arte do mosaico quanto no campo da reflexão teológica". Sem dúvida', conclui, 'todos estes fatos são uma grande prova de nossa fé e confiança em Deus'”.

“Que estas dolorosas descobertas se tornem uma ocasião para a purificação e renovação da Igreja. Convidamos todos a juntarem-se a nós na busca da verdade e na criação de uma visão de nosso futuro comum", conclui o comunicado

O caso Rupnik

Rupnik é cofundador da Comunidade Loyola na Eslovênia, que surgiu na década de 1980.

agência Associated Press (AP) publicou na segunda-feira (19) trechos de duas cartas do bispo auxiliar de Roma e comissário da Santa Sé para a Comunidade de Loyola, dom Daniele Libanori, que confirmou a veracidade dos abusos contra as consagradas de que é acusado Rupnik.

O superior da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, confirmou dias antes, em 14 de dezembro, que Rupnik foi excomungado por confessar uma das mulheres. Confessar e absolver um cúmplice acarreta excomunhão automática. A sentença foi revertida mais tarde com a confissão e arrependimento de Rupnik.

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Os Jesuítas pedem às vítimas e a quem queira denunciar que escrevam para teamreferente.dir@gmail.com

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