“Denunciar o mal, mesmo aquele que se espalha entre nós, é muito pouco. O que deve ser feito diante disso é optar por uma conversão”, disse o papa Francisco hoje (22) ao receber no Vaticano os cardeais e superiores da Cúria de Roma.

Para o papa, "é preciso promover mudanças para não permanecer prisioneiro das lógicas do mal, que muitas vezes são lógicas mundanas".

A gratidão

No início de seu discurso, o papa Francisco falou da pobreza de Deus feito menino e convidou os presentes a “voltar ao essencial da própria vida, para abandonar o que é supérfluo e que pode se tornar um empecilho no caminho da santidade”.

Em seguida, disse que “ter consciência da nossa pobreza sem ter também consciência do amor de Deus nos esmagaria”, portanto, “a atitude interior à qual devemos dar mais importância é a gratidão”.

O papa advertiu que “sem um exercício constante de gratidão, acabaremos apenas fazendo uma lista de nossas quedas e ofuscaremos o mais importante, ou seja, as graças que o Senhor nos concede todos os dias”.

Para o papa, a conversão pessoal é “aprender sempre mais a levar a sério a mensagem do Evangelho e tentar colocá-lo em prática na nossa vida”.

“Acreditar que aprendemos tudo nos faz cair na soberba espiritual”, disse Francisco, que também esclareceu que “conservar significa manter vivo e não aprisionar a mensagem de Cristo”.

Em sua mensagem à Cúria Romana, disse que “o primeiro grande problema é confiar demais em nós mesmos, em nossas estratégias, em nossos programas”.

A vigilância

Para o papa Francisco, a busca do bem é uma luta contínua que pode ser travada graças à vigilância, “uma das virtudes mais úteis”.

Ele também alertou sobre os "demônios educados" que entram "sem que ninguém perceba" e, por isso, disse que "só a prática diária do exame de consciência pode nos conscientizar".

“Perder-se dentro de casa”

O papa disse então que "a maior atenção que devemos prestar neste momento da nossa existência é o fato de que formalmente a nossa vida atual se realiza em casa, dentro dos muros da instituição, a serviço da Santa Sé, no coração do corpo eclesial”.

“E precisamente por isso poderíamos cair na tentação de pensar que estamos seguros, que somos melhores, que não precisamos mais nos converter”, alertou.

Para o papa Francisco, “nós estamos mais em perigo do que todos os outros, porque somos assediados pelo ‘demônio educado’, que não vem fazendo barulho, mas trazendo flores”.

"Se às vezes digo coisas que podem soar duras e fortes, não é porque não acredite no valor da doçura e da ternura, mas porque é bom reservar carícias para os cansados ​​e oprimidos e encontrar a coragem para 'afligir aos consolados'”, disse.

O desejo de paz

O papa Francisco disse que “nunca como neste momento sentimos um grande desejo de paz. Penso na martirizada Ucrânia, mas também nos muitos conflitos que estão em andamento em várias partes do mundo”. Para ele, “a religião não deve se prestar a alimentar conflitos. O Evangelho é sempre Evangelho de paz, e em nome de nenhum Deus se pode declarar ‘santa’ uma guerra”.

“Onde reinam a morte, a divisão, o conflito, a dor inocente, só podemos reconhecer Jesus crucificado”, acrescentou.

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O papa disse que “se é verdade que queremos que o clamor da guerra pare deixando lugar à paz, então cada um inicie de si mesmo”.

“Que ninguém se aproveite de sua própria posição ou função para mortificar o outro”, pediu o papa, acrescentando que a “misericórdia também é aceitar que o outro pode ter seus limites. Mesmo neste caso, é justo admitir que pessoas e instituições, justamente por serem humanas, também são limitadas”.

"Finalmente, perdoar significa dar sempre uma nova chance, ou seja, entender que você se torna santo a partir das tentativas".

"Deus faz isso com cada um de nós, sempre nos perdoa, sempre nos põe de pé e nos dá mais uma chance. Entre nós deveria ser assim”, disse.

“Que a gratidão, a conversão e a paz sejam então os presentes deste Natal”, concluiu o papa Francisco.

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