O bispo auxiliar de Roma, o jesuíta dom Daniele Libanori, confirmou a veracidade dos abusos contra as religiosas de que é acusado o padre jesuíta e artista Marko Rupnik, de 68 anos.

A agência Associated Press (AP) publicou na segunda-feira (19) trechos de duas cartas de Libanori, bispo auxiliar de Roma desde janeiro de 2018, nomeado como comissário pelo papa Francisco para investigar o caso de Rupnik.

Na primeira carta, enviada aos padres italianos, o bispo diz que Rupnik merece a misericórdia de Deus e que a dignidade das vítimas deve ser restaurada e fala da importância de se conhecer toda a verdade do caso. e comissário da Santa Sé

“As pessoas feridas e ofendidas, que viram as suas vidas arruinadas pelo mal sofrido e pelo silêncio cúmplice, têm direito a que a sua dignidade seja restituída, agora que tudo veio à luz”, escreveu Libanori.

O bispo também disse que os responsáveis ​​devem enfrentar suas responsabilidades e pedir perdão.

“Nós, Igreja, temos o dever de fazer um exame de consciência e os responsáveis ​​devem reconhecê-lo e pedir humildemente ao mundo perdão pelo escândalo”, disse.

Libanori também se dirigiu, em outra carta, aos defensores de Rupnik na Eslovênia.

“É ignóbil pensar em reduzir a responsabilidade e diminuir o mal tentando afastar os denunciantes com julgamentos sumários sobre sua saúde mental ou, pior ainda, sobre sua seriedade”, escreveu dom Libanori em carta datada de 4 de dezembro, acrescentando que "isso torna ainda mais grave a responsabilidade de quem se aproveitou deles”.

Quem é Daniele Libanori?

Dom Daniele Libanori é um bispo jesuíta de 69 anos. Ele foi nomeado bispo auxiliar de Roma pelo papa Francisco em novembro de 2017 e recebeu a consagração episcopal em 13 de janeiro de 2018.

Segundo a AP, em 2019 ele foi enviado como comissário à Eslovênia devido a acusações de abusos perpetrados pelo padre Rupnik contra freiras da Comunidade Loyola, fundada por ele e por Ivanka Hosta.

Dom Libanori encorajou as freiras a fazerem suas denúncias formalmente e, em 2021, teve início o processo contra Rupnik.

O caso do padre Marko Rupnik

Rupnik é famoso por suas obras de arte espalhadas pelo mundo, que incluem os mosaicos das fachadas da basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), cuja primeira parte foi inaugurada em março último. Rupnik recebeu o título de doutor honoris causa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná em cerimônia do dia 30 de novembro último. Também foi encarregado de criar a imagem oficial do X Encontro Mundial das Famílias (EMF) que aconteceu em Roma de 22 a 26 de junho de 2022.

Em 2 de dezembro deste ano, a Companhia de Jesus (jesuítas) informou em comunicado que “o Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) recebeu uma denúncia em 2021 contra o padre Marko Ivan Rupnik S.J. pela forma como desempenhou o seu ministério” e acrescentou que “não houve menores envolvidos".

Após uma investigação preliminar confiada à Companhia de Jesus, o DDF “considerou que os fatos em questão prescreveram, por isso arquivou o processo no início de outubro deste ano de 2022”, diz o comunicado dos jesuítas.

Desde aquela investigação, a Companhia de Jesus diz ter tomado medidas cautelares contra o padre Rupnik como a “proibição de exercer o sacramento da confissão, a direção espiritual e o acompanhamento dos Exercícios Espirituais”. Rupnik também “foi proibido de se envolver em atividades públicas sem a permissão de seu superior local".

“Estas medidas continuam vigentes hoje, como medidas administrativas, mesmo depois da resposta do Dicastério para a Doutrina da Fé”, diz o comunicado.

Segundo a Associated Press, o padre Arturo Sosa, superior geral da Companhia de Jesus, “contradisse a declaração anterior dos jesuítas e disse que as restrições ao ministério de Rupnik na realidade datam dessa condenação (NdR: de 2019) e não das acusações de 2021”.

Sosa também confirmou que Rupnik foi excomungado por confessar a uma de suas vítimas, mas essa sentença foi posteriormente retirada.

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As explicações dadas neste caso ainda deixam lacunas importantes.

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