Uma nova acusação contra o padre jesuíta esloveno Marko Rupik foi confirmada pela Companhia de Jesus à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI. Esse caso se soma a outro publicado pelo jornal italiano left.it de uma mulher que acusa o padre e artista de abuso psicológico em Roma.

No início de dezembro, surgiram denúncias de abusos sexuais cometidos pelo padre Rupnik no início dos anos 1990, em Comunidade Loyola, de freiras, na Eslovênia, da qual ele era cofundador.

Após uma investigação preliminar confiada à Companhia de Jesus, o Dicastério para a Doutrina da Fé considerou que os fatos em questão prescreveram e encerrou o caso no início de outubro de 2022.

Falando à ACI Prensa hoje (16), o padre Johan Verschueren, conselheiro geral e delegado para as Casas e Obras Interinspetoriais da Companhia de Jesus em Roma, disse que recebeu o testemunho de uma mulher que não quis fazer uma denúncia formal.

"Conheço outra vítima que veio me ver, e continua vindo de vez em quando, para me contar sua história e abrir um caminho para a reparação, mas até agora ela não quis registrar uma denúncia formal", disse Verschueren.

“Estou convencido de que existem outras”, disse o padre. “E espero que a abertura criada agora abra esperança para que muitos feridos venham, sem medo. Chega de silêncio. Já basta!”

Nova vítima recente em Roma

O jornal italiano left.it publicou na terça-feira (13)  a acusação de uma mulher teria sido vítima de abusos psicológicos em Roma.

A mulher, que guardou o anonimato, disse ao jornalista italiano Federico Tulli que o padre Rupnik "a dominou psiquicamente" durante o tempo em que ela trabalhou no Centro Aletti, escola de arte sacra que o padre artista fundou em Roma depois de deixar a Comunidade Loyola. “Os jesuítas sabem que isto não aconteceu só comigo”, disse ela. "Em certo sentido é talvez menos grave do que o que as freiras de Ljubljana denunciaram sobre seu pai espiritual no início dos anos 90, mas aconteceu muito mais recentemente, aconteceu em Roma e sobretudo a sede da Companhia de Jesus sabe disso há tempo”.

A mulher contou que quando chegou à escola de arte do Centro Aletti em Roma, “tinha grandes expectativas, era uma artista, tinha trabalhado em vários ateliês, queria fazer parte da equipe do famoso padre Rupnik, criador de mosaicos para igrejas de todo o mundo, tinha uma vontade enorme de aprender".

O padre “começou a ter um domínio psicológico sobre mim a tal ponto que durante dois anos perdi minha liberdade de pensamento e quase minha liberdade de movimento”, disse a mulher. “Esse homem se apoderou completamente de mim e eu estava totalmente perdida. Eu vivia um grande caos interior”.

A mulher contou que Rupnik “podia fazer o que quisesse comigo. Eu estava sob seu controle e aos poucos ele começou a fazer gestos sobre mim que não deveriam ser feitos”.

“Gestos que não podem ser classificados como agressão sexual real, estamos justo no limite. Eu simplesmente não queria que ele colocasse as mãos em mim, mas ele chegou muito perto", contou a mulher, explicando que o abuso foi mais "dominação psicológica do que abuso sexual".

Ela então disse que o padre Rupnik lhe deu a entender que se ela o rejeitasse, poderia perder o seu lugar no Centro Aletti. “Eu escapei. Inventei uma desculpa e fugi”, disse.

Reunião com os Jesuítas

A mulher disse que em 2021 escreveu seu depoimento em 10 páginas e o enviou aos jesuítas, que teriam feito uma reunião via Zoom com ela.

Na ocasião os jesuítas teriam contado a ela que tinham recebido um testemunho semelhante há alguns anos.

“Eles me disseram que o primeiro testemunho levou a uma visita canônica dentro do Centro Aletti”, contou a mulher. Além disso, teriam dito a ela que depois da denúncia fizeram uma "limpeza" e que o padre Rupnik "foi afastado do cargo de diretor".

"Meu interlocutor me disse que eles decidiram submetê-lo a certas medidas para limitar sua maneira de fazer as coisas", contou.

Ela contou que no momento em que prestou o seu testemunho aos jesuítas, essas medidas já estavam em curso “e sugeriram-me que tomasse um tempo para pensar se devia denunciá-lo”.

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"Algumas semanas atrás, percebi que os jesuítas disseram que fizeram o que tinha de ser feito e lavaram as mãos e que o Dicastério para a Doutrina da Fé não condenaria Rupnik devido à prescrição dos crimes de que foi acusado", disse a mulher.

Para ela, "os jesuítas deveriam pedir o testemunho de todos os que passaram pelo centro Aletti em Roma: estudantes, artistas, pessoas que foram acolhidas por um tempo e que não moram mais lá, mas até agora não o fizeram".

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