O superior geral da Companhia de Jesus (jesuítas), padre Arturo Sosa, afirmou que a congregação não ocultou nada no caso do jesuíta esloveno Marko Ivan Rupnik, de 68 anos, acusado de cometer abusos contra ao menos nove mulheres.

No dia 2 de dezembro, a Companhia de Jesus publicou um comunicado de que medidas cautelares foram aplicadas ao padre Marko Rupnik, acusado de abuso sexual a mulheres. Segundo os jesuítas, a então Congregação para a Doutrina da Fé recebeu denúncias contra o esloveno em 2021. Em outubro deste ano, o dicastério da Santa Sé arquivou o processo por considerar “que os fatos em questão prescreveram”.

O padre Rupnik é famoso por suas obras de arte espalhadas pelo mundo. O mosaico da Capela da Redemptoris Mater, no Palácio Apostólico do Vaticano, altar-mor do santuário da Santíssima Trindade em Fátima, Portugal, os mosaicos das fachadas da basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), cuja primeira parte foi inaugurada em março último, são algumas de suas obras.

Em entrevista ao site 7 Margens e à Rádio Renascença, de Portugal, padre Arturo Sosa afirmou que “para a Companhia de Jesus qualquer caso destes é muito doloroso”. Mas, ressaltou que “não temos de publicar cada caso”.

“Uma das coisas a que todos temos direito como pessoas é uma certa privacidade: há que fazer declarações públicas quando é público; quando não é público, não há nada para o fazer e isso não significa ocultar. Nós não ocultamos nada”, declarou o superior geral dos jesuítas, que esteve em Portugal de 2 a 8 de dezembro, para visitar  as comunidades da Companhia de Jesus.

Padre Sosa afirmou que os jesuítas não receberam “a denúncia diretamente”, mas através da Congregação para a Doutrina da Fé, que solicitou uma investigação, após ter recebido uma denúncia. “Precisamente para não ocultar e para fazê-lo de modo mais transparente possível, procuramos investigadores que não fossem da Companhia de Jesus”, declarou.

Segundo o superior geral, o dicastério da Santa Sé tinha pedido uma “investigação prévia”, que “não é um processo que termine com uma sentença, é uma primeira aproximação ao caso”. Após a investigação, os jesuítas enviaram “o relatório” à Doutrina da Fé.

“Esperamos bastante tempo até que recebemos a notícia da Congregação de que tinha estudado o caso e a investigação e que tratava do que tinha sucedido há 30 anos e que, segundo o direito, estava prescrito. Essa é a parte canônica”, disse.

Padre Sosa afirmou que a Companhia de Jesus adotou medidas “proporcionais aos fatos” desde que recebeu o pedido de investigação da Santa Sé. Essas medidas incluem a proibição imposta ao padre Rupnik de administrar o sacramento da confissão, ser diretor espiritual e realizar exercícios espirituais.

O superior geral dos jesuítas disse que as medidas foram mantidas mesmo após a notificação da Doutrina da Fé de que os fatos tinham prescrito, “porque queremos ir mais além no assunto, ver como se ajuda todos os que estão envolvidos”.

Entretanto, disse que o comunicado os jesuítas não faz referência às vítimas “porque não há um processo que diga que aqui há uma vítima e ali um vitimar. Estava prescrito. Não há uma qualificação de vítimas, há uma suspeita de fatos que foram mais além dos limites do que se faz entre pessoas adultas”.

Padre Arturo Sosa declarou ainda que “nenhuma das medidas afeta” o trabalho artístico de padre Rupnik. “Ele tem compromissos artísticos muito importantes”, disse. “Ele continua a ter a mesma mobilidade que qualquer um de nós, por razões de trabalho. Não está constrangido a esse tipo de medidas. Aquelas a que foi sujeito ele tem cumprido”, completou.

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