María Lozano, assessora de imprensa internacional da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), que recentemente visitou a Nigéria com a intenção de divulgar o drama dos cristãos perseguidos no país africano, comenta a situação naquele país e o que os católicos podem fazer sobre isso.

“Esta visita foi muito chocante e comovente porque encontramos muitas vítimas da violência neste país, vítimas sobretudo da perseguição religiosa que está acontecendo no norte, no nordeste do país, vítimas do Boko Haram, um grupo terrorista que matou muitas pessoas, incluindo muitos cristãos", disse Lozano a EWTN Noticias, programa da EWTN, grupo de comunicação católica ao qual pertence ACI Digital. 

“Foi chocante para mim escutar testemunhos. Dedicamos muito tempo para nos encontrar com as vítimas que estão deslocadas em diferentes campos de refugiados e ouvir o que aconteceu e como hoje elas ainda lutam contra um imenso trauma”, continuou ela.

A Nigéria, um dos maiores países da África com uma população de cerca de 200 milhões de pessoas, é o país em que os cristãos mais sofrem perseguição, segundo a ACN.

Em muitos aspectos da sociedade nigeriana, disse Lozano, os cristãos são efetivamente considerados "cidadãos de segunda classe".

María Lozano disse que ainda hoje muitas famílias sofrem com os ataques terroristas do Boko Haram.

“Encontramos uma mãe que há cinco anos não sabe o que aconteceu com seus três filhos, outra mãe que não sabe o que aconteceu com seu marido, cujo paradeiro é desconhecido desde que o Boko Haram o levou”, disse Lozano.

“Conhecemos muitas pessoas, homens e mulheres que ainda vivem um drama familiar não apenas de meses ou dias, mas de anos, que ainda não sabem o que aconteceu com seus parentes, seus filhos, seus familiares, e também o trauma de ter visto cenas que quase não me atrevo a repeti-las”, disse a representante da ACN.

Na viagem que fez à Nigéria esteve acompanhada por mais cinco pessoas da ACN, que buscam contar ao mundo “todos os problemas que a Nigéria sofre e luta”.

A discriminação no norte

Um dos problemas mais graves que os cristãos sofrem é a discriminação no norte da Nigéria, já que “há uma discriminação estrategicamente estrutural, diria quase diária, com os cristãos porque são como cidadãos de segunda classe. Muito pouco se fala sobre isso, mas é um problema que vimos e descobrimos que deve ser enfrentado”.

Nesta zona do país, os cristãos "não têm o direito de chegar a cargos de decisão, muitas vezes têm problemas para encontrar lugares para estudar, para chegar a uma educação igual à dos muçulmanos, têm muito pouca voz e voto na política, embora metade da população da Nigéria seja cristã”, lamentou.

Os padres, que “são alvos muito fáceis de sequestro. Sabe-se que a Igreja não vai reagir com violência e também os procuram com objetivo econômico”, disse Lozano.

Segundo Lozano, atualmente “há três padres sequestrados e também peço orações por eles”.

Um sinal de esperança

Apesar de tudo, disse Lozano, os cristãos nigerianos “têm uma enorme resiliência e uma fé muito profunda em um deus que é o Deus da vida. Eles sempre dizem, a morte vem por falta de Deus e isso os leva muito a viver a fé apesar de tudo, que muitas vezes é a única coisa que os sustenta”.

“A Igreja está muito próxima, devo dizer também. Muitas vezes a única instituição que os apoia, que os ajuda são as igrejas, a Igreja Católica também nas zonas onde estivemos, que acolheu milhares de refugiados”, continuou.

María Lozano também contou que “por um lado tivemos toda essa história de sofrimento, mas também tivemos algumas celebrações muito vivas, que me emocionaram pessoalmente e sinto muita falta delas no meu dia a dia, de louvor a Deus acima de tudo, de alegria, para agradecer pela vida e pela criação”.

Outro sinal de esperança foram as famílias numerosas com muitos filhos.

“Foi um testemunho de fé, de acreditar em um Deus da vida que realmente tem tudo em suas mãos”, disse ela.

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María Lozano pediu orações pelos cristãos perseguidos e disse que para a Quaresma 2023 pensam lançar testemunhos que escutaram para que muitas pessoas saibam da “via-sacra que eles sofrem”.

"A Nigéria é um dos países mais importantes da África e a situação que eles sofrem é uma vergonha", disse Lozano.

A assessora de imprensa internacional da ACN disse ainda que “muito pode ser feito no campo do lobby” para que os países ricos “não financiem um país” como a Nigéria “se não houver democracia”.

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