A verdade é que há uma crise fundamental de violência no próprio islã que, no ano de 2022, não pode mais ser ignorada", disse o arcebispo caldeu de Erbil, Iraque, dom Bashar Warda, em seu discurso de 2 de novembro, durante o primeiro fórum sobre religião do Grupo dos 20 em Bali, Indonésia.

Esta violência deve ser enfrentada com urgência "de maneira aberta e honesta", também para "o bem do Islã e de seus próprios seguidores", disse ele no evento organizado por Nahdlatul Ulama, o maior movimento muçulmano do mundo, que tem mais de 90 milhões de membros.

Em sua conferência "O futuro do pluralismo religioso: um aviso do Iraque", o arcebispo caldeu, um dos ritos orientais católicos, lembrou "o horror" sofrido pelos cristãos nas mãos do grupo terrorista muçulmano Estado Islâmico.

Entre agosto de 2014 e outubro de 2016, várias igrejas no Oriente Médio foram profanadas por terroristas do Estado Islâmico. Milhares de cristãos foram mortos e cerca de 125 mil obrigados a deixar suas casas.

“Aqueles que nos atormentaram roubaram nosso presente enquanto apagavam nosso passado e faziam tudo o que estava ao seu alcance para destruir nosso futuro”, disse o arcebispo.

“A violência continua afetando todo o Oriente Médio, África, Ásia e além”, disse dom Warda. “E se esta crise não for reconhecida, enfrentada e reparada, não haverá futuro para os cristãos ou qualquer outra forma de pluralismo religioso na região”.

Depois de dizer que vem “de um povo de esperança”, o arcebispo disse que reza “para que um grande número de líderes religiosos tenha a coragem de enfrentar os demônios que existem em nossas próprias comunidades” e, assim, enfrentar a “violência sectária que está entre nós".

"A lógica brutal disso é que, eventualmente, pode-se chegar a um ponto em que não haja mais minorias para matar ou perseguir" e "com mais de 1.900 anos na Mesopotâmia, nós cristãos no Iraque nos encontramos à beira da extinção".

Dom Bashar Warda criticou a crença de alguns de que eles têm o "direito" de matar outros por sua fé. "Nós nos opomos a isso."

O arcebispo citou declarações de Yahya Cholil Staquf, intelectual muçulmano indonésio, que respondeu à revista Time sobre se o Estado Islâmico era uma distorção do Islã. "Os políticos ocidentais devem parar de fingir que o extremismo e o terrorismo não têm nada a ver com o Islã", disse Staquf. “Existe uma relação clara entre fundamentalismo, terrorismo e as crenças básicas da ortodoxia islâmica. Então, enquanto não houver consenso sobre esse assunto, não poderemos cantar a vitória sobre o fundamentalismo dentro do Islã”.

O arcebispo católico alertou ainda que quando "um grupo é ensinado que é superior e tem o direito de tratar os outros como inferiores, esse ensinamento inevitavelmente leva à violência contra qualquer 'inferior' que se recuse a mudar de fé. E aí está a história dos últimos 1.400 anos no Oriente Médio com cristãos e minorias religiosas” como os yazidis.

Para dom Warda, essa transformação “só pode acontecer com um trabalho consciente do próprio mundo islâmico”.

“Nossa esperança de permanecer em nossa antiga pátria agora repousa em nossa capacidade, na de nossos irmãos e irmãs muçulmanos, e em que o mundo reconheça estas verdades”.

“Nós, cristãos do Iraque, continuaremos dizendo esta verdade, independentemente das consequências”, disse dom Warda. “Por favor, rezem por nós e nós rezaremos por vocês".

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