O papa Francisco disse ontem (6) que a Igreja está determinada a lutar contra os abusos sexuais, pois “é uma coisa trágica e não devemos parar”.

Durante o voo de volta do Bahrein para Roma ontem (6), o papa Francisco disse aos jornalistas que viajavam com ele que “o problema do abuso sempre existiu, não apenas na Igreja, mas em todos os lugares”.

“Vocês sabem que de 42 a 46% dos abusos sexuais ocorrem na família ou no bairro. Isto é muito grave, mas o hábito sempre foi o de encobrir”, lamentou o papa Francisco.

Ele citou o caso do cardeal Bernard Law, de Boston, EUA, que renunciou após o escândalo de abuso sexual que havia cometido. “Foi a primeira vez que (um caso de abuso) saiu como um escândalo”, disse Francisco.

“Desde então, a Igreja tomou consciência disso e começou a trabalhar, enquanto na sociedade e em outras instituições normalmente se encobre”, acrescentou.

Embora a porcentagem de abusos seja maior nas famílias e nas escolas, o papa disse que “se fosse um único caso ainda seria trágico, porque você sacerdote tem a vocação de fazer as pessoas crescer e ao se comportar dessa maneira você as destrói”.

“É como ir contra a própria natureza sacerdotal e contra a própria natureza social. Por isso, é uma coisa trágica e não devemos parar, não devemos parar", disse.

O papa disse que neste "despertar" da Igreja em fazer investigações e acusações, muitas vezes não foi feito corretamente, pois "algumas coisas foram escondidas".

"Antes do escândalo de Boston as pessoas eram deslocadas, agora tudo é claro e estamos avançando neste ponto. Por isso, não devemos nos surpreender que casos como este surjam. Agora me lembrei de outro caso, de outro bispo. Existem sabe? E não é fácil dizer ‘não sabíamos’ ou era a cultura da época e continua sendo a cultura social a de esconder".

“A Igreja está determinada sobre isso, e quero agradecer publicamente aqui o heroísmo do cardeal O'Malley, um bom frade capuchinho, que sentiu a necessidade de institucionalizar isso com a Comissão para a Proteção dos Menores que ele está realizando”, disse o papa.

“Estamos trabalhando com tudo o que podemos”

“Isso faz bem a todos nós e nos dá coragem. Estamos trabalhando com tudo o que podemos, mas saiba que existem pessoas dentro da Igreja que ainda não veem claramente, não compartilham. É um processo o que estamos fazendo e o estamos realizando com coragem e nem todos têm coragem", disse o papa Francisco.

“Às vezes há a tentação de fazer acordo, também somos todos escravos de nossos pecados, mas a vontade da Igreja é de esclarecer tudo”, disse em seguida.

Francisco disse aos jornalistas que “nos últimos meses recebi duas queixas sobre casos de abuso que tinham sido encobertos e não julgados bem pela Igreja: pedi imediatamente um novo estudo e agora um novo julgamento está sendo feito”.

“Essa revisão de julgamentos antigos, não bem feitos (não ocorridos de maneira adequada). Fazemos o que podemos, somos todos pecadores, sabe?”, disse.

Vergonha como uma graça

Por fim, disse que “a primeira coisa que temos que sentir é vergonha, a vergonha profunda disso. Eu acredito que a vergonha seja uma graça. Podemos lutar contra todos os males do mundo, mas sem a vergonha”.

“Santo Inácio nos Exercícios Espirituais, quando faz você pedir perdão por todos os pecados que cometeu, ele faz você chegar até a vergonha, e se você não tem a graça da vergonha, não pode ir adiante", disse.

Ele também disse que "um dos insultos que temos na minha terra é você ser um ‘sem-vergonha’ e acredito que a Igreja não pode ser ‘uma sem-vergonha’. Ela deve se envergonhar das coisas ruins, assim como agradecer a Deus pelas coisas boas que faz. Isto eu posso lhe dizer: temos toda a boa vontade de ir em frente, também graças à sua ajuda”.

O papa fez essas declarações no contexto de uma polêmica na França sobre o caso de dom Michel Santier, bispo emérito de Luçon, que agora está passando por medidas disciplinares acusado de ter cometido abuso sexual contra dois homens maiores de idade em 2021.

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