O papa Francisco exortou hoje (4) os líderes mundiais das religiões a rezar e a unir esforços concretos em favor da paz porque "o homem religioso, o homem de paz, opõe-se também à corrida ao rearmamento, aos negócios da guerra, ao mercado da morte”.

Depois de rezar a missa em privado, o papa Francisco foi à praça Al-Fida do Sakhir Royal Palace para participar na cerimônia “Árvore da Paz” que encerra o “Fórum Bahrein para o Diálogo: Oriente e Ocidente para a Coexistência Humana”.

Ao chegar, Francisco foi acompanhado por uma escolta de guardas a cavalo. Dois helicópteros carregavam as bandeiras do Vaticano e do Bahrein.

Após uma oração comum e as palavras do rei do Bahrein, Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa, e do grão-imã de Al-Azhar, Al-Tayyeb, o papa Francisco fez um discurso no qual falou da importância da oração, da ação concreta em favor da paz e exortou a enfrentar três emergências educativas: o reconhecimento da mulher na esfera pública, a proteção dos direitos fundamentais das crianças e a educação para a cidadania.

Não à guerra, mercado da morte

Mais uma vez, o papa fez um apelo enérgico pela paz e exortou os líderes religiosos do mundo a se unirem contra o "negócio da guerra, o mercado da morte".

“O homem religioso, o homem de paz, opõe-se também à corrida ao rearmamento, aos negócios da guerra, ao mercado da morte. Não sustenta «alianças contra ninguém», mas caminhos de encontro com todos: sem ceder a relativismos ou sincretismos de qualquer espécie, segue apenas uma estrada, a da fraternidade, do diálogo, da paz. Estes são os seus «sins»”, disse ele.

O papa falou especialmente da guerra na Ucrânia e disse que "aqui dirijo a todos o meu veemente apelo a fim de que se ponha fim à guerra na Ucrânia e se dê início a sérias negociações de paz".

Liberdade religiosa

Francisco exortou a garantir a liberdade religiosa, para a qual pediu um compromisso "para que a liberdade das criaturas espelhe a liberdade soberana do Criador, para que os lugares de culto sejam protegidos e respeitados, sempre e em toda a parte, e a oração nunca seja obstaculizada, mas favorecida”.

“Não basta conceder autorizações e reconhecer a liberdade de culto; é preciso alcançar a verdadeira liberdade de religião. E não só cada sociedade, mas também cada credo são chamados a examinar-se sobre isto. São chamados a interrogar-se se constringem as criaturas de Deus de fora ou as libertam dentro; se ajudam o homem a rejeitar a rigidez, o isolamento e a violência; se aumentam nos crentes a verdadeira liberdade, que não é fazer o que me apetece e vem à cabeça, mas predispor-se ao bem para o qual fomos criados”, disse o papa.

Para o papa, “a oração, a abertura do coração ao Altíssimo, é fundamental para nos purificar do egoísmo, do isolamento, da autorreferencialidade, das falsidades e da injustiça”.

“Quem reza, recebe no coração a paz, não podendo deixar de se fazer sua testemunha e mensageiro... do céu. E recorda na sua oração, como incenso que sobe ao Altíssimo, as canseiras e dificuldades de todos”.

Três emergências educacionais

Referindo-se à importância da educação, o papa Francisco falou da urgência de unir esforços em favor da educação porque “onde faltam oportunidades de instrução, aumentam os extremismos e radicam-se os fundamentalismos”.

“Se a ignorância é inimiga da paz, a educação é amiga do progresso, desde que seja uma educação verdadeiramente digna do homem, ser dinâmico e relacional: por conseguinte não é rígida nem monolítica, mas aberta aos desafios e sensível às mudanças culturais; não é autorreferencial nem isoladora, mas atenta à história e à cultura alheia; não é estática, mas indagadora, para abraçar aspetos diversos e essenciais da única humanidade a que pertencemos”, disse.

Para o papa, é necessário o “reconhecimento da mulher na esfera pública: reconhecer o seu direito «à instrução, ao trabalho, ao exercício dos seus direitos políticos”.

Em seguida, Francisco pediu “a tutela dos direitos fundamentais das crianças, para que cresçam instruídas, assistidas, acompanhadas, não condenadas a viver nos com o tormento da fome e nos lamentos da violência”.

Francisco falou da importância da “educação para a cidadania, para viver juntos, no respeito e na legalidade. E, em particular, a importância do «conceito de cidadania», que «se baseia na igualdade dos direitos e dos deveres”.

Para ele, “é preciso empenhar-se nisto, para que se possa «estabelecer nas nossas sociedades o conceito da cidadania plena e renunciar ao uso discriminatório do termo minorias, que traz consigo as sementes do isolamento e da inferioridade, prepara o terreno para as hostilidades e a discórdia e retira as conquistas e os direitos religiosos e civis de alguns cidadãos, discriminando-os»”.

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“Percorramos, queridos amigos, este caminho: alarguemos o coração ao irmão, avancemos no percurso de conhecimento recíproco. Estreitemos entre nós laços mais fortes, sem duplicidade nem medo, em nome do Criador que nos colocou juntos no mundo como guardiões dos irmãos e das irmãs”, pediu o papa.

Por fim, Francisco disse que "se vários poderosos negoceiam entre si por interesses, dinheiro e estratégias de poder, demonstremos que é possível outro caminho de encontro" e acrescentou que é "possível e necessário, porque a força, as armas e o dinheiro nunca colorirão de paz o futuro”.

“Que Ele ilumine os nossos passos e una os nossos corações, as nossas mentes e as nossas forças (cf. Mc 12, 30), para que, à adoração de Deus, corresponda o amor concreto e fraterno do próximo; para sermos, juntos, profetas da convivência, artesãos de unidade, construtores de paz”, concluiu o papa Francisco.

No final da cerimônia, o papa Francisco assinou o Livro de Honra e regressou ao local de residência para um almoço privado.

A mensagem que ele escreveu no Livro de Honra foi: “Do Reino do Bahrein, 'terra de dois mares' peço ao Altíssimo que, do mar agitado do conflito, a humanidade desembarque no mar pacífico da convivência, seguindo o curso do encontro e redescobrindo a bússola da fraternidade. Obrigado pelo seu exemplo."

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