O arcebispo de Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, disse acreditar que a proibição de bênçãos a uniões homossexuais pela Congregação para a Doutrina da Fé não encerrou o assunto. Hollerich é o relator do Sínodo da Sinodalidade convocado pelo papa Francisco.

“Francamente, a questão não parece decidida para mim”, disse o cardeal jesuíta em entrevista a Vatican Media, o serviço de informação oficial da Santa Sé.

Hollerich respondia a uma pergunta sobre os bispos da parte flamenga da Bélgica que decidiram, em 20 de setembro último, adotar uma liturgia para a benção de uniões homossexuais mesmo depois da proibição pela Santa Sé.

A Congregação para a Doutrina da Fé publicou em março do ano passado um documento que nega a possibilidade de bênçãos a homossexuais porque a Igreja não pode abençoar o pecado.

A doutrina católica sobre homossexualidade está resumida em três artigos do Catecismo da Igreja Católica:

2.357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (103) a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados» (104). São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

2.358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação, Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

Hollerich esgrimiu um argumento baseado na etimologia latina das palavras “bendizer” e “maldizer”. “Se ficarmos na etimologia de ‘dizer bem’, você acha que Deus poderia algum dia ‘dizer mal’ de duas pessoas que se amam”, perguntou retoricamente o jesuíta.

“Eu estaria mais interessado em discutir outros aspectos do problema”, disse o cardeal. “Por exemplo: o que impulsiona o conspícuo crescimento da orientação homossexual na sociedade? Ou por que a porcentagem de homossexuais nas instituições eclesiais é mais alta do que na sociedade civil?”

O cardeal não citou nenhuma fonte para a afirmação de que há mais pessoas com atração por pessoas do mesmo sexo na Igreja do que na sociedade em geral.

O cardeal disse que “não há espaço para o casamento sacramental entre pessoas do mesmo sexo”, porque uniões assim não têm o caráter procriativo do casamento. “Mas isso não quer dizer que o relacionamento afetivo delas não tenha valor”.

“O papa Francisco frequentemente recorda a necessidade para a teologia de ser capaz de se originar e se desenvolver a partir da experiência humana, e não ficar apenas como fruto da elaboração acadêmica”, disse Hollerich. “Então, tantos de nossos irmãos e irmãs nos dizem, que qualquer que seja a origem e a causa de sua orientação sexual, eles certamente não a escolheram. Eles não são ‘maçãs podres’. Eles também são frutos da criação.”

O arcebispo de Luxemburgo, que também é presidente da Comissão das Conferências de Bispos da União Europeia, disse que tem muito contato com jovens em seu ministério, e que “para os jovens de hoje, o valor mais alto é a não-discriminação.”  

O que “eu vejo constantemente é que os jovens vão parar de levar o Evangelho em consideração, se tiverem a impressão de estamos discriminando”, disse ele recordando o encontro com uma mulher de cerca de 20 anos que disse  querer deixar a Igreja porque não se aceitam uniões homossexuais.

“Perguntei a ela se ela se sentia discriminada por ser homossexual e ela disse que não era lésbica, mas a melhor amiga dela era. Que ela sabia do sofrimento dela e que não queria fazer parte daqueles que a julgam. Isso me fez pensar bastante”, disse Hollerich.

“Todo mundo é chamado. Ninguém é excluído: mesmo os divorciados recasados, mesmo os homossexuais, todo mundo. O reino de Deus não é um clube exclusivo. Ele abre suas portas para todos, sem discriminação”, disse o cardeal.

“Às vezes na Igreja o acesso desses grupos ao reino de Deus é discutido. E isso cria a percepção de exclusão em parte do povo de Deus. Eles se sentem excluídos e isso não é justo! Não é uma questão de sutilezas teológicas ou dissertações éticas: é simplesmente uma questão de afirmar que a mensagem de Cristo é para todos!”

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