O cardeal Angelo Becciu disse que está disposto a ressarcir mais de meio milhão de euros à Secretaria de Estado da Santa Sé, durante audiência do processo no Vaticano sobre os investimentos financeiros da Secretaria de Estado da Santa Sé na quarta-feira (12). A declaração espontânea de Becciu foi feita durante o interrogatório do dirigente do Corpo da Gendarmaria Stefano De Santis.

O cardeal Becciu foi substituto da secretaria de Estado da Santa Sé entre 2011 e 2018, ano em que o papa Francisco o criou cardeal e o nomeou prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cargo a que renunciou em 2020, por causa das acusações de corrupção contra ele.

O cardeal, que se declara inocente, está sendo julgado com outros funcionários por desviar milhões de euros da Santa Sé em várias operações, como a copra de um prédio de luxo em Londres.

Uma das rés é a italiana Cecilia Marogna, contratada pelo cardeal Becciu em 2015 e acusada de receber centenas de milhares de euros da Santa Sé e gastá-los em artigos de luxo e férias.

Marogna participou para contratar uma empresa de segurança britânica para negociar a libertação da irmã Gloria Narváez, freira colombiana sequestrada no Mali por terroristas ligados à Al-Qaeda.

Em 5 de maio, o cardeal Becciu disse que o papa Francisco autorizou o gasto de um milhão de euros para conseguir a libertação da irmã Narváez, sequestrada em 7 de fevereiro de 2017 pela Frente de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (SGIM) e libertada em 9 de outubro de 2021.

Segundo a agência de notícias Associated Press (AP), durante o interrogatório de quarta-feira (12), De Santis disse ao tribunal que os gendarmes ou policiais do Vaticano souberam em 2020, por meio da Interpol, que uma empresa de Marogna com sede na Eslovênia havia recebido 575 mil euros em nove transferências da Secretaria de Estado, e que o dinheiro foi gasto em artigos de luxo.

De Santis também disse que ele e o Comandante da Gendarmaria, Gianluca Gauzzi Broccoletti, foram em 3 de outubro de 2020 ao apartamento do cardeal Becciu a seu pedido, que teria "implorado" para “não trazer à tona” o que foi descoberto.

De acordo com De Santis, o cardeal lhes disse que se as transferências fossem descobertas, seria um grave dano para ele e sua família, e ele até se ofereceu para ressarcir o Vaticano.

Segundo a AP, o cardeal repetiu aos juízes o que disse em maio deste ano: que os pagamentos pela negociação da freira sequestrada haviam sido acertados com o papa Francisco e que somente ele e o Santo Padre sabiam sobre eles.

O cardeal também disse que não pediu a reunião de outubro de 2020 e que sua preocupação com a investigação de Marogna tinha a ver com manter em segredo as negociações para libertar a freira colombiana.

O julgamento, que recomeçou no final de agosto após as férias de verão na Europa, agora tem cerca de 20 audiências agendadas antes do final do ano.

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