Uma reportagem publicada em 6 de outubro pelo site UOL se refere às aparições de Nossa Senhora em Cimbres, distrito de Pesqueira (PE), como “lenda”. O fato foi classificado como “uma falta de respeito” pela pesquisadora Ana Lígia Lira, autora de um livro sobre as aparições marianas já reconhecidas pelo bispo local. Segundo Lira, em Cimbres, Nossa Senhora deixou “uma mensagem muito clara. Ela diz que se o comunismo entrar no Brasil correrá um mar de sangue”.

A reportagem “‘Brasil vai derramar sangue’? Conheça a profecia citada por Cássia Kis” abordou uma declaração dada pela atriz no dia 4 de outubro. Durante coletiva de imprensa de lançamento da novela ‘Travessia’, ela defendeu o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).  Cássia Kis, que neste ano contou que se converteu ao catolicismo, afirmou: “O país tem mostrado a sua mudança, só não vê quem não quer. Existe uma profecia de Nossa Senhora de que o Brasil vai derramar sangue”.

A reportagem do site UOL relacionou a fala de Cássia Kis com as aparições de Nossa Senhora de Fátima, em 1917.

Ana Lígia Lira, autora do livro O diário do silêncio - O alerta da Virgem Maria contra o comunismo no Brasil, sobre as aparições em Cimbres, contou à ACI Digital que entrou em contato com a redação do UOL para comunicar que a informação estava errada e que “Cássia Kis se referia a Cimbres, até porque em Fátima não tem nenhuma referência direta ao Brasil”. 

Foi feita, então, uma atualização na matéria com a informação sobre as aparições de Cimbres. Mas, segundo Lira, de forma “desrespeitosa e com informações erradas”. “Eles falam ‘de acordo com a lenda’. Não se pode referir a uma aparição mariana já reconhecida pela Igreja local, com o ‘sim’ do bispo, como lenda. Isso é um desrespeito imenso. Estamos falando de aparições marianas, fatos históricos, algo que foi estudado. Não é apenas uma lenda”, declarou.

Na reportagem, há dois trechos em que tanto as aparições de Cimbres quanto as de Fátima são citadas como “lenda”.

Em 2 de outubro de 2021, o bispo de Pesqueira (PE), dom José Luiz Ferreira Sales, publicou uma carta pastoral em que reconheceu as “presumíveis aparições de Nossa Senhora da Graça” a duas crianças na Vila de Cimbres, em 1936, e concedeu “a permissão para que os fiéis possam, nessas terras. continuar com a devoção e a veneração à Virgem Santíssima, Mãe de Deus, invocada com o título de ‘Nossa Senhora da Graça’”.

O bispo disse que, “nas relatadas aparições da Virgem Maria, na Aldeia da Guarda, sob o título de ‘Nossa Senhora da Graça’, há elementos, traços e sinais que abalizam e sinalizam a grande probabilidade do caráter sobrenatural da experiência vivida pelas jovens Maria da Luz (Irmã Adélia) e Maria da Conceição”. Segundo dom Salles, “as mensagens comunicadas durante as alocuções com as videntes documentadas e cuidadosamente analisadas, estão em profunda consonância com as verdades da fé cristã, contidas nas Sagradas Escrituras e na Doutrina Católica e, em nada, contrastam com a moral e os costumes”.

As aparições de Nossa Senhora em Cimbres tiveram início no dia 6 de agosto de 1936. Naquele dia, Maria da Luz (mais tarde se tornou a religiosa irmã Adélia) e Maria da Conceição foram colher sementes de mamona no sítio. Na época o cangaceiro Lampião e seu bando agiam na região com roubos e assassinatos. Maria da Luz, então, perguntou à amiga o que faria se Lampião aparecesse. Maria da Conceição respondeu: “Nossa Senhora haveria de dar um jeito de nos proteger”. Em seguida, as meninas viram no alto da serra a imagem de uma mulher com uma criança nos braços que acenava para que elas se aproximassem.

Ao retornarem para casa, segundo relata o site das Religiosas da Instrução Cristã, “contaram a história para os pais de Maria da Luz, Arthur Teixeira de Carvalho e Auta Monteiro de Carvalho. Inicialmente, os dois não acreditaram e Arthur foi com as meninas até o local da aparição, que era de difícil acesso. Chegando lá, as duas viram novamente a mulher. Sem conseguir enxergar e achando que era alucinação das garotas, o pai de Maria da Luz pediu que ela perguntasse para a moça quem era Ela e o que queria. ‘Eu sou a Graça’, respondeu. ‘Vim para avisar que hão de vir três castigos mandados por Deus. Diga ao povo que reze e faça penitência’”.

Segundo Ana Lígia Lira, as aparições de Nossa Senhora aconteceram mais de 40 vezes em Cimbres, para as duas meninas. “Depois dessa primeira aparição, a história se espalhou. Ela continuou aparecendo e as meninas iam rezar todos os dias no local. Começou a ter romarias para lá e a Igreja achou por bem investigar. Nesse contexto da investigação entra o padre José Kehrle, que era inquisidor a mandado da Igreja”. Padre Kehrle fazia perguntas para Nossa Senhora em alemão e latim e as meninas respondiam em português.

Lira destacou alguns trechos dos relatos de padre Kehrle sobre as aparições, como uma ocasião em que “um menino jogou uma pedra na direção em que as duas videntes diziam que Nossa Senhora estava. As meninas disseram que a pedra pegou na mão dela (de Nossa Senhora) e começou a sangra. O padre, inteligentemente, perguntou o que significava o sangue que correu da mão dela. Ela disse que é o sangue que correrá no Brasil. E pediu que rezassem e fizessem penitência”.

A pesquisadora destacou também a mensagem de 31 de agosto de 1936, quando Nossa Senhora disse: “Meus filhos! O Brasil está salvo, o comunismo vem e vem com força, derramando muito sangue, mas o Brasil está salvo se rezarem e fizerem penitência”.

Ana Lígia Lira também citou a fala da aparição de 15 de setembro de 1936: “Falo tão claramente nesta terra é porque acho no povo pouca crença. Quero bem à Terra da Santa Cruz, por isso ando procurando e procuro a salvação de todo o meu povo brasileiro! Procuro conversão dos pecadores. Se não rezarem e não fizerem penitência, o comunismo virá ao Brasil. Da mesma forma, os três castigos virão se não fizerem penitência e não cumprirem os mandamentos de Deus e da Igreja”.

Para Lira, “a aparição [de Cimbres]tem vários propósitos. A mensagem principal é falar sobre o risco de o comunismo entrar no Brasil. Mas, um dos propósitos é pedir oração, conversão e penitência para que o comunismo não entre no Brasil”. Além disso, afirmou que “é uma aparição muito voltada para os sacerdotes. Ela se submete à autoridade sacerdotal quando responde ao inquérito do padre José Kehrle, que era o inquisidor dessas aparições. Isso conversa com a questão de ser um alerta contra o comunismo, porque nos países onde o comunismo se estabeleceu, percebemos, historicamente falando, que os primeiros perseguidos são os sacerdotes”, declarou.

“Muita gente diz que o que ela disse em Cimbres Ela diz em muitos lugares. Claro. Estranho seria se não fosse assim. Isso é uma prova da verdade dessas aparições, pois em todos os lugares Ela busca a mesma coisa, que é salvar os filhos dela”, completou.

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