O papa Francisco declarou santos o bispo fundador João Batista Scalabrini e o salesiano irmão Artémides Zatti.

Na homilia da missa que rezou ontem (9), com a participação de cerca de 50 mil fiéis na praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco refletiu sobre a passagem dos dez leprosos curados, dos quais apenas um volta para dar graças ao Senhor.

O papa Francisco falou sobre “dois aspetos que podemos deduzir do Evangelho de hoje: caminhar juntos e agradecer”.

O exemplo dos dois novos santos

Sobre o bispo italiano João Batista Scalabrini, fundador dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos) e seu ramo feminino, duas congregações dedicadas à assistência aos migrantes e refugiados, o papa disse que foi um exemplo de caminhar juntos, especialmente com os migrantes.

Para este novo santo, os migrantes não eram um "problema", mas um sinal de providência.

Dom Scalabrini disse que “precisamente por causa da migração forçada pelas perseguições, a Igreja superou as fronteiras de Jerusalém e de Israel e tornou-se ‘católica’; graças às migrações de hoje, a Igreja será instrumento de paz e comunhão entre os povos”.

“Neste momento, aqui na Europa, há uma migração, que nos faz sofrer tanto e nos impele a abrir o coração: a migração de ucranianos que fogem da guerra. Não esqueçamos hoje a martirizada Ucrânia! Scalabrini olhava mais além, olhava lá para diante, para um mundo e uma Igreja sem barreiras, sem estrangeiros”, disse o papa Francisco.

“Por sua vez, o irmão salesiano Artemide Zatti, com a sua bicicleta, foi um exemplo vivo de gratidão: curado da tuberculose, dedicou toda a sua vida a favorecer os outros, a cuidar com amor e ternura dos doentes”, disse Francisco. “Conta-se que o viram carregar aos ombros o corpo morto dum dos seus doentes. Cheio de gratidão por tudo o que havia recebido, quis dizer o seu ‘obrigado’ ocupando-se das feridas dos outros”.

Caminhar juntos

Ao caminhar juntos, disse o papa, os leprosos do Evangelho saem da exclusão em que vivem para se mostrar aos outros e pedir ajuda.

“Trata-se duma imagem significativa também para nós: se formos honestos conosco mesmos, havemos de nos lembrar que todos estamos doentes no coração, todos somos pecadores, todos necessitamos da misericórdia do Pai”, disse o papa Francisco.

“Consequentemente deixaremos de nos dividir com base nos méritos, nas funções que desempenhamos ou em qualquer outro aspecto exterior da vida, e caem assim os muros interiores, caem os preconceitos, e por fim descobrimo-nos irmãos.”

Isto, disse ele, é o que significa ser “sinodal”, que é “também a vocação da Igreja. Interroguemo-nos até que ponto somos verdadeiramente comunidades abertas e inclusivas em relação a todos; se conseguimos trabalhar juntos, padres e leigos, ao serviço do Evangelho; se temos uma atitude acolhedora”.

Falando então sobre são João Batista Scalabrini, Francisco condenou a exclusão dos migrantes.

“É escandalosa a exclusão dos migrantes! Mais, a exclusão dos migrantes é criminosa, fá-los morrer diante dos nossos olhos. E assim temos hoje o Mediterrâneo, que é o cemitério maior do mundo. A exclusão dos migrantes é repugnante, é pecaminosa, é criminosa. Não abrir as portas a quem precisa”, lamentou.

Agradecer

Ao falar sobre o único leproso que agradeceu ao Senhor, o papa Francisco disse que "prostra-se aos pés de Cristo, isto é, faz um gesto de adoração, reconhecendo que Jesus é o Senhor e que é mais importante do que a cura recebida”.

Não ser grato, disse Francisco, "trata-se duma grave doença espiritual: dar tudo como garantido, inclusive a fé, mesmo a nossa relação com Deus, a ponto de nos tornarmos cristãos que deixaram de saber maravilhar-se, já não sabem dizer ‘obrigado’, não se mostram agradecidos, não sabem ver as maravilhas do Senhor”.

Para Francisco, é importante “diariamente dar graças ao Senhor, sabermos em cada dia agradecer uns aos outros” em todas as áreas da vida, também para aqueles que “muitas vezes em silêncio rezam, oferecem, sofrem, caminham conosco”.

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Para concluir, o papa Francisco exortou a rezar para que os dois novos santos “nos ajudem a caminhar juntos, sem muros de divisão; e a cultivar esta nobreza de alma tão agradável a Deus que é a gratidão”.

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