O conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) respondeu às críticas ao relatório do sínodo publicado em agosto pela entidade. Segundo a conferência, “os conteúdos do relatório não foram inventados pela comissão” que o produziu, “mas encontram-se nos documentos” das dioceses e outras instituições e movimentos. “É importante ouvi-los, discerni-los, completá-los ou reformulá-los, mas não descartá-los”, afirmou.

O relatório da CEP foi publicado em 26 de agosto. O documento defende “uma Igreja de portas abertas, que abrace a diversidade e acolha todos, excluindo as atitudes discriminatórias que deixam à margem a comunidade LGBTQIA+ e os divorciados recasados”. O texto fala ainda em celibato opcional, ordenação de homens casados e mulheres e papel mais ativo dos leigos, “mesmo na escolha dos bispos e na transferência dos párocos”.

Após a divulgação, o documento recebeu críticas por seu conteúdo e pela linguagem utilizada. Duas cartas abertas com mais de 1,7 mil assinaturas criticaram o relatório pelo uso de “nomenclatura ideológica” e conceitos “contrários” ao magistério, como a adoção da sigla “LGBTQIA+”, marca registrada dos adeptos da ideologia de gênero.

A ideologia de gênero é a militância política baseada na teoria de que a sexualidade humana não depende do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher. Em vez de dois polos, a ideologia de gênero acha que existe uma gama de variações, por isso o arco-íris foi escolhido como símbolo.

Uma das cartas abertas conta com a assinatura de jovens de diversas dioceses portuguesas. Segundo o relatório da CEP, houve “maior indiferença na população jovem” na participação na fase diocesana do sínodo.

Em sua carta aberta, os jovens se disseram “convencidos de que esta aparente indiferença tem sobretudo a ver com a ideia que os jovens de fé maturada têm de Igreja”. “Isto poderá ter levado a que duvidassem e desacreditassem de um processo de auscultação desta natureza sobre matérias que a Igreja, pela Escritura e pela Tradição, tem bem discernidas e clarificadas”, afirmaram.

Dois padres do patriarcado de Lisboa publicaram “uma nova síntese” dos relatórios diocesanos do Sínodo da Sinodalidade. Segundo os padres Duarte da Cunha e Ricardo Figueiredo, “a forma e o conteúdo da síntese nacional causaram perplexidade” e “muitos católicos não se reviram no resultado”. “Pareceu-nos que, por razões que não sabemos, esse relatório não corresponde ao que estava nas sínteses diocesanas”, disseram.

Em um comunicado, o conselho permanente da CEP, que se reuniu ontem (12) em Fátima, afirmou que “o relatório da Igreja em Portugal sobre o processo sinodal preparado pela comissão para o efeito formada pela CEP faz parte do caminho sinodal em curso e procura reunir aquilo que foi reportado pelas dioceses, a partir dos grupos por elas constituídos, bem como de outras instituições e movimentos”.

“Não é um tratado sobre a Igreja no seu todo nem um juízo sobre a Igreja em Portugal. Trata-se de um resumo de quanto surgiu nas etapas diocesanas para continuar o caminho de reflexão e transformação que temos por diante. É uma atitude de bom-senso escutar aquilo que surge do povo de Deus, nesta primeira etapa de participação, nas suas dimensões negativas, positivas e propositivas, para o caminho a fazer nas etapas seguintes”, disse a CEP.

Segundo a conferência, os bispos portugueses terão oportunidade de refletir sobre o relatório e outros materiais “que foram chegando, em atitude de discernimento comum, procurando escutar a voz do Espírito e da Igreja em Portugal, tendo como objetivo a transformação pessoal e comunitária de atitudes, instituições e processos”. Disse ainda que as dioceses devem fazer o mesmo.

O sínodo da sinodalidade vai acontecer no Vaticano em outubro do ano que vem. Será a terceira fase do sínodo. A primeira foi a consulta feita no nível diocesano. Os resultados dessa consulta estão sendo consolidados em relatórios continentais e enviados a Roma para elaboração de um documento de trabalho. Na terceira fase, os bispos discutirão esse documento e apresentarão o documento final ao papa, que pode ou não adotar alguma medida.

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