Quinze anos se passaram desde o martírio de Ragheed Ganni, padre caldeu da paróquia do Espírito Santo e secretário do bispo de Mossul, Iraque, o arcebispo mártir Faraj Rahho. O padre Ganni deve, em breve, receber o título de beato.

Ganni, considerado um dos mártires mais influentes da Igreja Católica no Iraque, foi morto por terroristas muçulmanos em 3 de junho de 2007, depois de celebrar a Divina Liturgia na Igreja do Espírito Santo em Mossul.

"Simplicidade de espírito e zelo pela fé", foi a descrição do padre feita pelo arcebispo caldeu de Erbil, dom Bashar Warda, quando o encontrou em 1997 na Irlanda. “Quando o padre Ragheed foi convidado a servir os peregrinos que vinham rezar e pedir conselhos no santuário Dergh (Irlanda), ele aceitou o convite e trouxe felicidade e alegria a todos os nossos corações”.

Dom Warda destacou que o mártir padre Ragheed Ganni era muito próximo dos jovens. Sempre os acompanhava e fazia atividades para os motivar e ajudar a fortalecer a sua fé e conhecimento da Igreja.

"Sempre admirei sua liderança e sua proximidade com eles. Ele foi um pai, um irmão e um educador para todos eles", acrescentou.

A vida do padre Ragheed Ganni

Ragheed nasceu em Mossul em 1972, onde se formou em Engenharia Civil. Ele amava a Igreja desde criança e aprendeu seus ritos litúrgicos e suas melodias. Ele decidiu dedicar sua vida à Igreja no sacerdócio sagrado.

Dom Georgios Jarmo o enviou a Roma em 1996 para começar seu caminho de formação sacerdotal. Estudou no Instituto Irlandês e continuou seus estudos de teologia na Universidade de São Tomás de Aquino.

Ele tinha um forte desejo de voltar a Mossul e servir os crentes e membros de sua Igreja que estavam em tribulação devido à perseguição de grupos islâmicos extremistas desde 2003. Seu desejo foi atendido; voltou a Mossul e se comprometeu a servir seu povo, além de dar aulas na Faculdade Babilônica de Filosofia e Teologia, em 2004.

Nesse período, a cidade de Mossul sofreu com campanhas de intimidação, sequestro e assassinato de cristãos, além do bombardeio de muitas igrejas e mosteiros.

Muitas pessoas foram obrigadas a buscar refúgio e fugir para outras cidades e vilas no norte do Iraque, enquanto famílias inteiras migraram para outros países, temendo por suas vidas e sua fé.

Esses desafios não foram um obstáculo para o padre Ragheed, que continuou com todas as atividades pastorais, celebrou missas nos vários templos de sua diocese e prestou apoio moral e espiritual às crianças de sua igreja, mesmo nos momentos mais difíceis.

Ragheed dizia constantemente: "Os terroristas querem acabar com nossas vidas, mas a Eucaristia nos dá a vida. Quando tenho a Eucaristia nas mãos e digo ‘eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo’ sinto em mim a Sua força. Eu tenho nas mãos a Eucaristia, mas na realidade é Ele quem tem a mim e a todos nós; é Ele quem desafia os terroristas e nos mantém unidos no Seu Amor sem fim"

Ele disse várias vezes em conversas com as pessoas próximas a ele, que continuaria divulgando a mensagem que o impelia a ser missionário em nome de Cristo, dizendo: "Os terroristas pensam que nos matam fisicamente ou nos assustam espiritualmente com seus métodos brutais. Muitas famílias cristãs fugiram por causa dos abusos cometidos contra elas, mas o paradoxo é que percebemos, através da violência dos terroristas, que Cristo morto e ressuscitado nos dá a vida. E isso nos dá esperança e nos ajuda a sobreviver todos os dias".

As ameaças feitas ao padre Ragheed Ganni continuaram por causa das várias atividades que ele fazia com os jovens na igreja. Seu ministério irritou grupos terroristas em Mossul e ameaças de morte começaram a surgir.

No terceiro domingo de junho de 2007, os terroristas o prenderam depois de celebrar a Divina Liturgia com três diáconos: Basman Yusef Daoud, Waheed Hanna Isho e Ghassan Essam Bidawid.

Naquele momento, os terroristas lhe perguntaram: "Não lhe pedimos que não abrisse a igreja para oração?" Ele respondeu: "Mas como é que eu posso fechar a casa de Deus na cara dos adoradores?"

Estas foram as últimas palavras ditas pelo padre Ragheed Ganni, dias antes de se tornar um mártir por Cristo e sua Igreja.

A última oração do padre Ganni

Ragheed Ganni percebeu que os terroristas islâmicos não o deixariam viver, por causa de sua desobediência às suas ordens e sua contínua celebração da liturgia em Mossul, por isso ele escreveu sua última oração em 12 de outubro de 2006:

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"Senhor, acho que não vão olhar minha oração

Embora fosse uma oração pessimista, todos me conheciam como otimista.

E talvez, por um momento, eles tenham esquecido. Perguntavam-se por que era tão otimista,

Eles me viram sorrindo, mais corajoso e mais forte nas situações mais difíceis.

Mas, quando se lembrem dos tempos de angústia que vivi,

e das dificuldades que passei,

aquelas que mostraram o quão fraco eu sou e quão capaz Tu es,

Tu revelaste o quão frágil eu sou e o quão forte Tu es,

Eles saberão que eu, na minha esperança, sempre falei de Ti.

Porque eu Te conhecia e foste o motivo do meu otimismo

 

mesmo quando eu sabia que minha morte estava próxima.

Mas deixe-me estar contigo agora

Posso, por favor, colocá-lo diante de Ti,

Tu sabes melhor do que eu em que época estamos vivendo.

Eu sou um ser humano e sei o quanto a pessoa é fraca.

Quero que sejas minha força para que não permita que ninguém me insulte no sacerdócio que possuo.

Ajude-me a não enfraquecer e ceder ao medo por minha vida

Porque eu quero morrer por Ti, para viver contigo.

Agora estou pronto para conhecer-Te; ajude-me a não perder tempo para o julgamento

Porque eu te disse que Te conhecia homem, mas também te disse que te conhecia

Oh minha força, meu poder, minha esperança."

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