A Santa Sé autorizou a abertura do processo de beatificação de padre Cícero Romão Batista, o ‘Padim Ciço’, como é conhecido e chamado por muitos de seus admiradores. O anúncio foi feito no sábado (20) pelo bispo de Crato (CE), dom Magnus Henrique Lopes, ao final da tradicional missa em sufrágio da alma do sacerdote, no largo da Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte (CE).

“Queridos filhos e filhas da diocese de Crato e romeiros de todo o Brasil, é com grande alegria que vos comunico nesta manhã histórica, que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do Santo Padre, o papa Francisco, a carta do dicastério das Causas dos Santos, datada de 24 de junho de 2022, comunicando a autorização para a abertura do processo de beatificação do padre Cícero Romão Batista, que, a partir de agora, receberá o título de ‘servo de Deus’”, anunciou dom Magnus Henrique.

Nascido em 1844, em Crato, Cícero Romão Batista realizou um trabalho pastoral ao longo de seus 90 anos de vida, com pregações e visitas domiciliares, conquistando a simpatia dos católicos. É considerado um ‘santo popular’ por muitos fiéis nordestinos.

Foi ordenado padre em 1870 na capital cearense e um "milagre" ocorrido em 1889 transformou a vida do religioso e da cidade. Ao participar de uma comunhão geral, na capela de Nossa Senhora das Dores, a hóstia sangrou na boca de uma fiel. Logo a notícia se espalhou e o fato teria se repetido em público várias vezes. Juazeiro passou a receber peregrinos de vários lugares desde então.

Em 1894 padre Cícero foi punido com a suspensão da ordem. Dois médicos foram chamados para testemunhar o “milagre” e confirmaram o fato que só fortaleceu a crença do povo.

Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal e após investigação a igreja não aceitou o milagre, decidindo puni-lo. Em 1894, foi suspenso da ordem, acusado de manipulação da crença popular pela Santa Sé.

Proibido de celebrar missa e inconformado com a situação, padre Cícero foi ao Vaticano, em 1898, pedir revogação da pena ao papa Leão XIII. Saiu de lá com a vitória, mas o bispo não aceitou e pediu revisão do resultado.

Em 1911, o distrito de Juazeiro foi elevado a município e o padre Cícero foi nomeado prefeito, realizando diversas benfeitorias. Levou para a cidade a Ordem dos Salesianos, doou o terreno para construção do aeroporto, abriu várias escolas, entre elas a Escola Normal Rural, construiu várias capelas, estimulou a agricultura e ajudou a população pobre, nos períodos de secas na região.

Padre Cícero morreu no dia 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte, local que até hoje celebra seus feitos e obras.

Em 2001, a diocese o Crato constituiu uma comissão a fim de preparar uma revisão histórica sobre a causa de padre Cícero. Após cinco anos de trabalho, em 30 de maio de 2006, uma petição foi entregue à Congregação para a Doutrina da Fé com a assinatura de 254 bispos brasileiros pedindo um gesto concreto de reconhecimento das ações pastorais e apostólicas de padre Cícero no desenvolvimento da região. Em 2014, a Secretaria de Estado da Santa Sé enviou à diocese de Crato uma carta de reconciliação de padre Cícero com a Igreja católica.

Neste ano de 2022, o bispo de Crato esteve com o papa Francisco no Vaticano em 12 de maio, durante visita ad limina. Na ocasião, dom Magnus Henrique entregou ao papa uma carta pedindo a abertura do processo de beatificação.

“Recorremos à vossa solicitude de Pastor Universal da Santa Igreja, para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado e venerado, no sentido de permitir a abertura de uma causa de beatificação. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine com coração de pai e como sucessor de Pedro este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do Padre Cícero”, firmou um trecho da carta, lido por dom Magnus na celebração de sábado, em Juazeiro do Norte.

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