Francisco Javier "Patxi" Bronchalo, padre da diocese espanhola de Getafe, alertou sobre o viés ideológico contrário ao magistério da Igreja Católica que alguns parecem querer impor ao Sínodo da Sinodalidade convocado pelo papa Francisco.

Em sua conta no Twitter, padre Bronchalo respondeu a um artigo do diretor da revista Vida Nueva, José Beltrán, que critica o bispo de Getafe, dom Ginés García, e o acusa de ter "autoritarismo endêmico".

Bronchalo explica que "há dioceses como Getafe, a minha, nas quais as conclusões do Sínodo não incluíram as bênçãos dos casais LGBT (lésbicas, gays, transexuais e bissexuais), o sacerdócio feminino ou a comunhão para os divorciados que se casaram. E tenho a sensação de que isso é visto com receio”.

“Parece-me que há uma certa ideologia em torno do Sínodo. As dioceses que propõem coisas que rompem com o Magistério da Igreja são elogiadas, e outras em que isso não aparece são vistas com suspeita, como se isso não pudesse acontecer”, continua o padre.

As arquidioceses de Barcelona e Saragoça, também na Espanha, propuseramo fim do celibato sacerdotal, a ordenação de mulheres e a mudança na moral sexual da Igreja, especialmente para aceitação do homossexualismo. 

Para o cardeal Juan José Omella, presidente da Conferência Episcopal Espanhola, estes pedidos são apenas "propostas", que não foram apresentadas às Santa Sé nem ao papa.

A Conferência Episcopal Espanhola, embora reconheça que são propostas apresentadas "por um pequeno número de grupos ou indivíduos", decidiu incorporar essas recomendações polêmicas em seu resumo sobre a Igreja Católica na Espanha, que será levado à Santa Sé para a próxima fase do Sínodo da Sinodalidade, que terminará em outubro de 2023.

“Embora sejam questões levantadas apenas em algumas dioceses e, nelas, por um número reduzido de grupos ou indivíduos, achamos conveniente incorporar nesta síntese, pela sua relevância no imprescindível diálogo eclesial e com os nossos concidadãos, o pedido que formulam sobre a necessidade de discernir com maior profundidade a questão do celibato facultativo no caso dos sacerdotes e da ordenação de casados; em menor medida, surgiu também o tema da ordenação de mulheres”, diz a síntese.

“Em todo caso, em relação a esses temas, detecta-se um pedido claro de que, como Igreja, dialoguemos sobre eles para permitir conhecer melhor o Magistério sobre os mesmos e poder oferecer uma proposta profética para a nossa sociedade”, acrescenta o texto da Igreja na Espanha.

Em sua conta no Twitter, padre Bronchalo questiona: “O Sínodo não era para escutar todos? Ou só escutar aqueles que parecem bons para mim e não para os outros? Isso é cair na mesma coisa que se denuncia de certas áreas, mostrando pouca formação e muito envolvimento afetivo”.

O padre então questionou a publicação de Vida Nueva, que cita o bispo de Getafe dizendo: "Vamos dialogar, mas não se esqueçam: eu sou o bispo" e pergunta: "Vocês podem imaginar um grupo de enfermeiros e instrumentadores na sala de cirurgias querendo que a palavra deles esteja acima da do cirurgião? Uma coisa é dialogar e ouvir e outra é eliminar a visão hierárquica sobrenatural da Igreja”.

Padre Bronchalo falou que o bispo de Getafe “se manifestou muitas vezes a favor de um processo sinodal bem feito. Uma busca rápida no Google permite encontrar isso”, como neste link.

O Sínodo não é uma plataforma para reivindicar

Vida Nueva também cita García afirmando que “o Sínodo não é uma reivindicação. Um Sínodo transformado em reivindicação corre o risco de deixar muitas pessoas de fora”.

A isso, padre Bronchalo responde dizendo que "se o Sínodo for concebido como uma plataforma para reivindicar para ver quem faz mais barulho, acabará impondo a visão de quem mais grita, não de quem conta a verdade das coisas.

O padre espanhol destaca então que “é um erro entender a sinodalidade como uma ruptura com tudo o que aconteceu antes. Uma visão de fé entendida como o consenso da suposta maioria está errada. Caminhar juntos não é isso”.

Depois de recordar que na Igreja se caminha junto sob a orientação dos bispos e que estes, como os Apóstolos, são imperfeitos, Bronchalo explica que não se trata de acreditar-se "mais esperto que eles". Se isso acontecer, ele continua, "é outro problema que precisa ser corrigido".

As revoluções na Igreja são feitas por santos

Padre Bronchalo então pergunta: “Vinte séculos de história da Igreja não serviram para que aprendamos que as únicas revoluções verdadeiras são feitas por santos e acontecem em silêncio? Que mania de querer em cada geração fazer um Evangelho e um Pequeno Jesus à medida das modas”.

"Se alguém diz o que eu digo, haverá quem o acuse de não ser sinodal", disse Bronchalo acrescentando que "há uma certa visão tendenciosa que diz que na sinodalidade todos têm que se expressar, exceto aqueles que não concordam com o que eles dizem", concluiu.

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