Um trecho da apresentação da Paixão de Cristo realizada no dia 11 de abril no santuário arquidiocesano São José, em Belo Horizonte (MG), causou revolta entre os fiéis. Em vídeos divulgados nas redes sociais, é possível ver na encenação um homem vestido com roupas de dança do ventre subindo no altar com uma cobra viva e dançando de forma sensual.

O grupo Nova Arte Jovem, responsável pela peça, atua há mais de 20 anos na arquidiocese encenando diversas passagens bíblicas na Igreja local. Neste ano, chegaram a se apresentar nas paróquias Nossa Senhora das Dores e Boa Viagem com a peça "As 7 Dores de Maria”. 

Depois da reclamação dos fiéis nas redes sociais, o santuário São José soltou uma nota afirmando que não teve acesso prévio ao roteiro da peça apresentada na nave do templo. Segundo a paróquia, as cenas foram acrescentadas sem o conhecimento dos padres redentoristas, que administram a igreja.

A arquidiocese de Belo Horizonte também divulgou uma nota repudiando a apresentação: “a Cúria Metropolitana de Belo Horizonte manifesta a sua desaprovação em relação à cena do Teatro da Paixão de Cristo apresentada no santuário arquidiocesano São José. Trata-se de inadmissível uso inadequado da Igreja e de seu presbitério, desviando a atenção do povo de Deus do mistério celebrado na Semana Santa: a paixão, morte e ressurreição de Jesus”.

 

Veja a nota do santuário São José na íntegra:

Nós, padres e irmãos Missionários Redentoristas atuantes no Santuário Arquidiocesano São José, Arquidiocese de Belo Horizonte, sempre nos dedicamos à evangelização, à promoção social, cultural e religiosa na capital mineira há mais de 120 anos.

Promovemos o cuidado integral da pessoa humana por meio das diversas ações evangelizadoras, pastorais, sociais e culturais. Através das “Obras Sociais São José”, desenvolvemos diversos projetos, especialmente o acolhimento às pessoas em situação de rua; e o atendimento a mais de 1500 famílias em situação de vulnerabilidade. Nosso compromisso tem sido apoiar e implementar ações que promovam a vida e a dignidade humana, com a opção preferencial pelos pobres e descartados, sendo “testemunhas do Redentor, solidários para a Missão num mundo ferido” (Tema Redentorista para o sexênio 2016-2021).

Nos últimos dias, nossa Comunidade Redentorista do Santuário Arquidiocesano São José tem acompanhado as manifestações referentes a uma das cenas da apresentação teatral “Paixão de Cristo”.

Ressaltamos que o grupo teatral já se apresentou em nossa Semana Santa em anos anteriores, bem como em outras paróquias da Arquidiocese. Contudo, novas cenas foram incluídas no roteiro e não tivemos conhecimento prévio. Diante dos fatos ocorridos durante a apresentação do referido grupo teatral, pedimos desculpas a todos os fiéis pela inserção das cenas inadequadas à Via Sacra, que, por sua vez, não deveriam ter sido apresentadas dentro do Santuário. Renovamos o nosso compromisso para que eventos desse gênero não mais se repitam.

 

Veja a nota da arquidiocese de Belo Horizonte:

A Arquidiocese de Belo Horizonte respeita as diferentes formas de expressão cultural, mas sublinha que as igrejas e, especialmente, o presbitério devem acolher somente o sagrado que está em plena sintonia com a liturgia, sem gerar estranhamentos ou polêmicas entre os que professam a fé cristã católica. Assim, a Cúria Metropolitana de Belo Horizonte manifesta a sua desaprovação em relação à cena do Teatro da Paixão de Cristo apresentada no Santuário Arquidiocesano São José. Trata-se de inadmissível uso inadequado da Igreja e de seu presbitério, desviando a atenção do povo de Deus do mistério celebrado na Semana Santa: a paixão, morte e ressurreição de Jesus.

O Santuário Arquidiocesano São José, há mais de um século, está sob os cuidados pastorais dos padres redentoristas, missionários que são guardiões deste templo antes mesmo da criação da Arquidiocese de Belo Horizonte. Sob a gestão pastoral da Congregação Religiosa, os padres redentoristas são os primeiros servidores do Santuário, com autonomia na coordenação de suas atividades. Naturalmente, este trabalho precisa ser realizado em comunhão e unidade com a Cúria Metropolitana, em sinergia com a rede de comunidades de fé de Belo Horizonte e de outros 27 municípios da Região Metropolitana. Sublinhe-se que a Congregação dos Padres Redentoristas, em nota, com humildade, lamentou a polêmica cena incorporada na apresentação deste ano, esclarecendo os fiéis, cumprindo à Cúria Metropolitana acrescentar que o governo pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte defende o princípio cristão da correção fraterna – “Tu e ele a sós”, conforme orienta a Palavra de Deus. Isto significa que discernimentos e alinhamentos não podem se configurar julgamento público, no âmbito das redes sociais, com ataques a pessoas, adotando um estilo agressivo incompatível com a vida cristã.

É tempo de voltarmos o nosso olhar para o mistério celebrado neste tempo pascal, reconhecendo a centralidade de Cristo Ressuscitado, vida que vence a morte, fonte inesgotável de duradoura alegria.

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