A verdadeira evangelização, cada vez mais necessária, "começa no confessionário", disse o penitenciário-mor da Igreja, dom Mauro cardeal Piacenza, ao inaugurar, na segunda-feira (21), a 32ª edição do curso sobre o Foro Interno.

Em seu discurso, o cardeal disse que o sacramento da reconciliação “é também por excelência o sacramento da alegria”.

“Uma alegria sobrenatural, que não podemos confundir em momento algum com o término ou eliminação do sentimento psicológico de culpa”.

O penitenciário-mor da Igreja também disse aos sacerdotes que “toda a absolvição sacramental vivida na fé é, tanto para o penitente como para o confessor, uma experiência da exousia divina, do poder de Cristo Salvador, que toca a humanidade ferida, doente, moribunda ou morta, e a cura e a traz de volta à vida”.

Ele também quis destacar a direção espiritual e a definiu como "uma dimensão essencial do sacerdócio ministerial", através da qual "se concretiza o exercício do 'munus profético, no qual a palavra e a vontade de Deus são indicadas ao indivíduo, e o exercício do 'munus regale', capaz de indicar com a força do Espírito o caminho a seguir conforme a vontade de Deus”.

Segundo o cardeal, esses dois aspectos são muito diferentes: um é sacramental e o outro não. E é importante que não sejam confundidos nem pelo confessor nem pelo penitente, disse Piacenza.

O sacramento da reconciliação, uma prioridade para os padres

Em seguida, o cardeal disse que se “a reconciliação é o sacramento da alegria em que o penitente ressuscita e o confessor se alegra na obra maravilhosa de Deus; se floresce na direção espiritual, capaz de edificar as almas, a Igreja e o mundo; então pode-se afirmar com segurança que a nova evangelização, uma autêntica nova evangelização da qual sentimos cada vez mais necessidade, começa no confessionário!”

“Do confessionário e não das conferências, nem das 'cirurgias cerebrais' ou iniciativas semelhantes. Começa na redescoberta do significado do pecado, do reconhecimento humilde e realista da própria limitação e da consequente disponibilidade de pedir humildemente o perdão, para ser reconstruído em Cristo”, disse.

Segundo Piacenza este sacramento “deve ser a prioridade de todo sacerdote, de todo planejamento da vida paroquial e pastoral, prioridade também de todo projeto pastoral diocesano”.

“Pessoalmente, estou convencido de que um padre que passa uma semana inteira sem confessar a ninguém perde algo de seu sacerdócio e corre o risco de falhar na extraordinária tarefa que lhe foi confiada com a imposição de mãos e configuração a Cristo”, disse.

Por isso, esclareceu que é importante “oferecer a própria disponibilidade aos lugares onde as confissões são mais frequentes, e ser fiel aos horários e lugares indicados, passando um tempo de oração e estudo, e pedindo ao Senhor que suscite no coração dos fiéis o desejo da reconciliação sacramental”.

Um produto “inalcançável” em nosso tempo

Finalmente, destacou a necessidade de um compromisso com a pastoral juvenil e disse que “devemos ser conscientes da natureza extraordinária do que, como Igreja, oferecemos aos jovens e a todos com o sacramento da Reconciliação”.

“Em um mundo de violência e de reivindicações, de relações competitivas e de prevaricação sobre os outros, em um mundo de assédio e de conflito, a Igreja oferece a palavra do perdão, oferece uma visão completamente diferente do homem e de suas relações com os outros e com Deus”.

Piacenza disse também que a Igreja oferece “um produto inalcançável” em nosso tempo e encorajou os presentes a conhecê-lo e “oferecê-lo com convicção, sem nenhum complexo de inferioridade”.

“Devemos humildemente buscar que, também através da celebração do sacramento da reconciliação e do acompanhamento espiritual, possamos realmente oferecer uma visão alternativa do mundo, mais humana porque é mais verdadeira, mais humana porque é divina”, concluiu.

Curso sobre o Foro Interno

Todos os anos acontece no Palácio da Chancelaria do Vaticano o chamado Curso sobre o Foro Interno, organizado pela Penitenciária Apostólica para tratar de questões morais e canônicas, bem como para oferecer uma ampla atualização sobre a correta administração do sacramento da reconciliação.

Este evento também busca oferecer aos novos padres e candidatos às ordens sacerdotais uma oportunidade de refletir e aprofundar sua formação no sacramento da Penitência.

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Entre os conteúdos que serão abordados, destacam-se as questões morais e canônicas, além de ser ensinada uma extensa atualização sobre a disciplina penitencial, a correta administração do sacramento da Penitência e as funções e competências específicas da Penitenciária Apostólica.

Em particular, serão tratadas situações de delicadeza relevante e atual que afetam o ministério penitencial e a resolução de casos complexos que são submetidos ao discernimento e à misericórdia da Igreja.

Este ano, sua 32ª edição conta com um total de 800 participantes. O evento durará até sexta-feira, 25 de março, concluindo com uma audiência com o papa Francisco e a posterior cerimônia penitencial, onde o papa consagrará a Ucrânia e a Rússia ao Imaculado Coração de Maria.

Além disso, para a ocasião, 80 padres disponibilizados pela Penitenciária Apostólica estarão disponíveis para ouvir as confissões dos fiéis.

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