Na Audiência Geral de hoje, Quarta-feira de Cinzas, o papa Francisco falou sobre “os danos da pressa” com o excesso de velocidade e nos convidou a “retomar calmamente as nossas perguntas sobre o sentido da vida” para evitar descartar bebês e idosos.

Em sua catequese dedicada a “Longevidade: símbolo e oportunidade”, o papa continuou sua série de reflexões sobre o sentido e o valor da velhice, destacou novamente a importância do diálogo e a aliança intergeracional e lamentou a cultura de descarte na sociedade.

“A cidade moderna tende a ser hostil com os idosos (e não por acaso também com as crianças). Esta sociedade, que tem o espírito do descarte e descarta muitas crianças não desejadas, descarta os idosos: descarta-os, não servem, pondo-os em casas para idosos, internados…”, lamentou.

O papa reconheceu que “hoje verifica-se uma maior longevidade da vida humana. Isto dá-nos a oportunidade de incrementar a aliança entre todos os tempos da vida. Tanta longevidade, mas devemos fazer mais aliança. E também nos ajuda a crescer a aliança com o sentido da vida na sua totalidade”.

"O excesso de velocidade, que agora obceca todas as fases da nossa vida, torna cada experiência mais superficial e menos ‘nutriente’. Os jovens são vítimas inconscientes desta divisão entre o tempo do relógio, que quer ser queimado, e os tempos da vida, que requer um ‘fermento’ adequado. Uma vida longa permite experimentar estes longos tempos, e os danos da pressa”, explicou.

Em seguida, o papa descreveu que “a velhice certamente impõe ritmos mais lentos: mas não são apenas tempos de inércia. De fato, a medida destes ritmos abre, para todos, espaços de significado na vida desconhecidos a obsessão da velocidade. A perda de contato com os ritmos lentos da velhice fecha estes espaços a todos”.

“Foi neste contexto que quis instituir a festa dos avós no último domingo de julho. A aliança entre as duas gerações extremas da vida – crianças e idosos – também ajuda as outras duas – jovens e adultos – a criar laços entre si para tornar a existência de todos mais rica em humanidade”, afirmou.

Desta forma, o papa disse que “o excesso de velocidade coloca-nos numa centrifugadora que nos varre como confetes” porque “perdemos completamente de vista o panorama geral. Todos se agarram ao seu pedacinho, flutuando sobre os fluxos da cidade-mercado, para a qual ritmos lentos são perdas e velocidade é dinheiro” e acrescentou que “a velocidade excessiva pulveriza a vida, não a torna mais intensa”.

Por isso, o papa sugeriu aprender a “perder tempo” para dialogar com pessoas de diferentes gerações, “dedicar tempo – um tempo que não é rentável – com as crianças e com os idosos, pois eles dão-nos outra capacidade de ver a vida”.

“Hoje verifica-se uma maior longevidade da vida humana. Isto dá-nos a oportunidade de incrementar a aliança entre todos os tempos da vida. Tanta longevidade, mas devemos fazer mais aliança. E também nos ajuda a crescer a aliança com o sentido da vida na sua totalidade. O sentido da vida não está apenas na idade adulta, dos 25 aos 60 anos. O sentido da vida é tudo, desde o nascimento até à morte”, disse.

Nesta linha, o papa pediu para refletir: “sabeis perder tempo, ou estais sempre pressionados pela velocidade? ‘Não, estou com pressa, não posso...’? Sabeis perder tempo com os avós, com os idosos? Sabeis perder tempo a brincar com os vossos filhos, com as crianças? Este é o termo de comparação. Pensai nisto”.

Da mesma forma, o papa destacou que “a pandemia em que ainda somos forçados a viver impôs – com bastante sofrimento, infelizmente – um bloqueio ao culto obtuso da velocidade” e acrescentou que em muitos casos “os avós funcionaram como uma barreira à ‘desidratação’ afetiva dos mais jovens. A aliança visível de gerações, que harmoniza os tempos e ritmos, restitui-nos a esperança de não vivermos a vida em vão. E restitui a cada um de nós o amor pela nossa vida vulnerável, impedindo o caminho para a obsessão da velocidade, que simplesmente a consome”.

“Deverás ser capaz de interagir com todos, inclusive ter relações afetivas com todos, para que a tua maturidade seja mais rica, mais forte”, disse o papa.

Finalmente, o papa rezou para que o Espírito Santo "nos conceda inteligência e força" para realizar uma reforma "nos nossos corações, na família e na sociedade" para que "a prepotência do tempo do relógio se converta à beleza dos ritmos da vida”.

“Deus nos ajude a encontrar a música adequada para esta harmonização das diversas idades: os pequeninos, os idosos, os adultos, todos juntos: uma linda sinfonia de diálogo”, concluiu o papa em sua catequese.

Dia de jejum e oração pela paz

Em seguida, durante a saudação aos fiéis de várias línguas, o papa destacou que hoje, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos o tempo da Quaresma, e destacou que "nossa oração e jejum serão uma súplica pela paz na Ucrânia, lembrando que a paz no mundo começa sempre com a nossa conversão pessoal, no seguimento de Cristo”.

Agradecimento pela generosidade dos poloneses

Além disso, o papa agradeceu especialmente aos poloneses porque "vocês foram os primeiros que apoiaram a Ucrânia, abrindo suas fronteiras, seus corações e as portas de suas casas aos ucranianos que fogem da guerra".

“Vocês estão oferecendo generosamente a todos o necessário para que possam viver com dignidade, apesar do drama do momento. Estou profundamente agradecido a vocês e os abençoo com todo o meu coração”, disse o papa.

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O papa improvisou outro agradecimento especial ao exemplo de um frade franciscano que trabalha no Vaticano, padre Marek Viktor Gongalo, que às vezes é o tradutor do resumo da catequese em polonês.

 

Francisco informou que este franciscano é da Ucrânia e que seus pais estão atualmente abrigados em um bunker para se proteger dos ataques que a Rússia está fazendo e agradeceu seu exemplo e o trabalho que este frade faz em Roma.

Enquanto o papa falava comovido, o franciscano, surpreendido pelas palavras espontâneas do papa, olhava-o em silêncio e com lágrimas nos olhos.

No final da Audiência Geral, o papa cumprimentou o frade e conversaram brevemente em privado.

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