A diocese de Criciúma (SC) deu início neste ano a uma casa de discernimento de vocações adultas. A casa foi instalada no dia 8 de fevereiro, na paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Forquilhinha (SC). Na ocasião, foram acolhidos dois vocacionados, Adriano Grassi, de 29 anos, e Arthur Araújo, de 25. O objetivo, segundo o reitor padre Pedro Paulo Custódio, é “oferecer um espaço de acompanhamento qualitativo para o discernimento vocacional, tendo em vista o sacerdócio ministerial para a diocese”.

“São jovens graduados, que já tiveram a experiência do mundo do trabalho, que por alguma razão não ingressaram no seminário antes, mas que têm o desejo de ser padre. E, num determinado tempo, procuraram um padre, o bispo, dizendo: já sou adulto, mas quero ser padre”, afirmou o reitor. Segundo padre Custódio, “para esses adultos, ir para o seminário onde tem rapazes de 17, 18, 20 anos com caminhada seminarística, é diferente”, pois, “são vocacionados com experiências diferentes de vida”.

O seminarista Arthur Araújo é natural de Uruguaiana (SC), formado em engenharia de software. Ele não era católico e só se converteu aos 22 anos, quando já estava para concluir a graduação. “Certo dia, estava caminhando com um amigo, mas sentia um vazio”, disse Araújo à ACI Digital. “Passamos em frente à igreja do Carmo e decidimos entrar para ver como era. Eu não entendia nada da igreja. Então, um frei carmelita se aproximou e começou a falar de Deus, do valor da oração. Era uma terça-feira e ele convidou para participar da missa na quinta-feira. Eu fui e nunca mais parei. Veio um desejo grande de conhecer mais as coisas da Igreja, foi uma grande mudança para mim”.

Aos 23 anos, Araújo fez uma experiência com os carmelitas descalços, mas percebeu que não tinha a vocação para a vida religiosa. “Na época, pensei: ‘tentei, fiz minha parte e não deu, então, bola para frente’. Mais tarde, quando fui demitido do meu emprego, estava um pouco triste e procurei o padre para conversar. Quem me atendeu foi um seminarista que logo me perguntou: ‘você já pensou em ser padre?’. Aquilo me tocou na hora”. Assim, Araújo começou sua caminhada para ingressar na casa de discernimento.

Adriano Grassi, natural de Criciúma, é formado em biomedicina e estava fazendo mestrado em neurociência. Ele contou que vem de uma família católica e que seus pais o criaram na Igreja. Aos 9 anos, ingressou na Legião de Maria e, com o tempo, foi se envolvendo cada vez mais com a Igreja, tanto no movimento mariano como na catequese. Segundo ele, aos 26 anos, sentiu o chamado vocacional. “Foi uma coisa muito intensa, de uma intimidade muito grande com Jesus. Eu estava dando catequese ainda. Tinha saído bem cansado do trabalho, e na igreja, parecia que meu cansaço todo saía. Mas, acabei deixando se estender. Mais tarde, fui conversar com dom Jacinto [Inacio Flach, bispo da diocese de Criciúma] e tudo deu certo. Larguei o emprego e o mestrado para vir para o seminário”, contou.

“Às vezes, colocamos a felicidade em coisas que não nos dão a verdadeira felicidade. Achamos que só vamos ser felizes se tivermos um trabalho, se concluirmos o mestrado, se tivermos aquele curso de idioma... Colocamos a felicidade em coisas terrenas, mas tudo isso passa”, disse Grassi, ressaltando que o que importa é seguir os planos de Deus.

Tanto Grassi quanto Araújo consideram que têm vivido uma “experiência enriquecedora” na casa de discernimento. Para eles, a “questão da maturidade” faria diferença caso tivessem que ingressar no seminário propedêutico, com seminaristas mais novos. “Vejo essa oportunidade como algo bom até para pessoas mais velhas que têm o desejo ingressar no seminário, mas têm algum receio por conta da idade”, comentou Araújo.

Segundo o reitor da casa de discernimento, os dois farão “uma etapa de um ano, tendo um ritmo de seminário”, durante o qual fazem o curso de introdução à filosofia, que está sendo on-line. “De segunda a domingo, eles têm uma programação que vai abranger o total da pessoa humana, as dimensões humana, espiritual, intelectual e pastoral”, disse padre Custódio.  A rotina conta com horários de estudos, oração, descanso, trabalho socioeducativo e também participação na vida da paróquia. “Assim, será trabalhado o desenvolvimento vocacional, o que é ser padre”.

“E claro que o centro da vida de qualquer vocacionado, principalmente o ser padre, é seguir Jesus Cristo”, disse padre Custódio, destacando que a casa de discernimento tem como padroeiro são Paulo apóstolo. “Ele também foi uma vocação adulta. Antes de ser apóstolo, era Saulo, perseguia os cristãos. E, já adulto, fez a experiência do Cristo ressuscitado e, de perseguidor, se tornou seguidor, discípulo, apóstolo. Então, são Paulo é o grande modelo a ser imitado pelos seminaristas que integrarão esta caminhada formativa aqui neste seminário”, declarou o reitor.

Segundo padre Custódio, agora é o momento se fazer “um trabalho de animação vocacional para que mais adultos possa saber da existência dessa possibilidade na diocese de Criciúma, um local que vai ajuda-los no discernimento vocacional”. O reitor contou que já recebeu alguns contatos de adultos “querendo saber mais sobre este seminário”.

Para quem tem “uma inquietação vocacional” e tem idade mais avançada, o seminarista Grassi lembrou que “nunca é tarde”. “Quanto à idade, isso não importa. Temos que levar em conta que, independente de idade, Jesus nos chama. Nós temos que respeitar o tempo de Deus”, concluiu.

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