A Associação Civil São Pio V lançou uma campanha de arrecadação de fundos para a construir uma capela particular onde se celebre a missa tradicional, anterior à reforma do Concílio Vaticano II, em Curitiba (PR). “Será uma capela dos fiéis, da Associação São Pio V, e não do Bom Pastor”, disse o padre Thiago Bonifácio, do apostolado do Instituto Bom Pastor (IBP) na cidade.

A associação é formada por fiéis católicos de Curitiba que, segundo seu site, “desde 2004 buscam viver com fidelidade a tradição da Igreja Católica, filialmente ligados, desde 2011, ao Instituto Bom Pastor”. O IBP é uma sociedade de vida apostólica de direito pontifício que tem a missão de “defender e difundir a tradição católica, em todas as suas formas: doutrinal, apostólica e litúrgica”. O Instituto está presente oficialmente na arquidiocese de Curitiba desde 2018. Antes, padres do instituto atendiam fiéis na capital paranaense periodicamente.

Em 16 de julho de 2021, o papa Francisco publicou o motu proprio Traditionis custodes, que restringe o uso do missal de 1962, revogando a autorização dada por Bento XVI a todos os padres de rezar a missa antiga.

Francisco determinou que é necessária a autorização do bispo local para a celebração da missa tradicional. Mesmo autorizadas, as celebrações não podem ocorrer em uma igreja paroquial e os dias, horários e o sacerdote responsável têm que srr determinadas pelo bispo. Em dezembro, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou uma Responsa ad dubia (Respostas a dúvidas) e respondeu “negativamente” à pergunta sobre a possibilidade de “celebrar os sacramentos com o Rituale Romanum e o Pontificale Romanum anteriores à reforma litúrgica do Vaticano II”. As determinações da Santa Sé, porém, geraram dúvidas quanto à aplicação aos institutos de vida apostólica que celebram a missa tradicional, como o Bom Pastor.

No dia 1º de fevereiro, entrou em vigor na arquidiocese de Curitiba o decreto do arcebispo dom José Antônio Peruzzo sobre a aplicação do Traditionis custodes. No documento, o arcebispo nomeou dois padres diocesanos para a celebração da missa tradicional, mas não citou o IBP. Padre Bonifácio disse que no final de 2021, recebeu ligações dos dois lugares onde celebrava missa, a capela militar e o convento São José de Chambéry, dizendo que o arcebispo não mais queria que ele rezasse missa nessas capelas.

Segundo a Associação São Pio V, “a comunidade viu-se subitamente despojada dos edifícios religiosos, e tem assistido aos sacramentos, em caráter privado, na casa do padre e num salão alugado”.

“Por esse motivo, acreditamos firmemente que é chegada hora de conquistar um espaço próprio, a fim de que, criando raízes fixas, possa o apostolado se expandir e levar seus frutos para mais almas”, afirma o site da campanha. O objetivo é captar recursos para aquisição de terreno próprio, construção da capela da Imaculada Conceição, de casa para os padres, de salão de eventos e de salas de catequese e conferências.

No último dia 21 de fevereiro, a Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) publicou um decreto em que o papa Francisco confirmou que seus membros têm o direito de usar os livros litúrgicos vigentes em 1962. A FSSP é uma sociedade de vida apostólica cujo carisma é a celebração da missa tradicional em latim.

No decreto, com data de 11 de fevereiro, o papa diz que “poderão usar essa faculdade em suas próprias igrejas ou oratórios; em outros lugares, contudo, só com o consentimento do ordinário local, exceto para a celebração privada da missa”, seguindo assim as determinações do motu proprio Traditionis custodes.

À ACI Digital, padre Thiago Bonifácio, do Instituto Bom Pastor de Curitiba contou que foram “pegos de surpresa” pelo decreto publicado pela Fraternidade São Pedro e que ainda não sabem se essa decisão também é aplicada ao IBP.

No Brasil, a missa tradicional também é celebrada pelos padres da administração apostólica pessoal são João Maria Vianney, criada em 2002 pelo papa são João Paulo II, como uma circunscrição eclesiástica de caráter pessoal no território da diocese de Campos (RJ). A administração tem bispo próprio, que atualmente é dom Fernando Rifan. Como afirma em seu site, a administração apostólica tem como sua característica “o amor à Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano, bem como a celebração dos demais sacramentos segundo os livros litúrgicos em vigor em 1962, conforme lhe foi concedido por são João Paulo II no seu decreto de ereção canônica, ‘Animarum bonum’”.

Segundo o padre Claudiomar Souza, na administração apostólica nada mudou após a publicação do Traditionis custodes e da Responsa ad dubia. Ele destacou que a administração apostólica são João Maria Vianney é como uma diocese, com bispo próprio, que tem em seu estatuto de criação a celebração no rito tradicional. Por isso, disse, para que fosse mudado algo em relação a eles, o papa teria que mudar o estatuto de criação da administração.

Padre Souza afirmou que somente os padres da administração apostólica que estão atuando em outras dioceses é que precisam da autorização do bispo local para exercer seu ministério na circunscrição eclesiástica em que se encontram.

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