Ao tomar posse como bispo da diocese de Colatina (ES), no dia 2 de fevereiro, dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa se ajoelhou e beijou os pés de um indígena. Dom Versiani afirmou que, “se há alguém com quem nós temos uma grande dívida, são os povos indígenas” e que o bispo deve ser um servidor.

A posse do quarto bispo de Colatina aconteceu na catedral Sagrado Coração de Jesus, com a presença de diversos bispos, padres, autoridades, representantes de diversos setores da sociedade da diocese de Colatina. Ao final da celebração, dom Versiani agradeceu a todos e afirmou sua alegria pela “presença dos povos originários”. Ele se aproximou do índio Antônio Carlos Pinto dos Santos e o saudou com um “gesto especial”.

Antes de se ajoelhar e beijar os pés do indígena, dom Versiani afirmou que “na pessoa do Antônio Carlos, gostaria de saudar a todos, no sentido do nosso pastoreio, do nosso ministério”. “Nós queremos ser a Igreja sempre mais fiel ao Evangelho de Jesus, uma Igreja pobre nos seus meios e para os pobres. E se há alguém com quem nós temos uma grande dívida, são os povos indígenas”, afirmou.

“Então, querido irmão Antônio Carlos, eu gostaria que você recebesse esse gesto, dirigido a todos os povos originários e a todos os sofredores. Nós somos chamados a lavar os pés uns dos outros, sermos servidores uns dos outros. O episcopado não é uma honraria, é um serviço”, disse.

O índio Antônio Carlos Pinto dos Santos é da etnia tupiniquim, da Aldeia Pau Brasil, em Aracruz (ES). Em 2020, Antônio Carlos concorreu nas eleições para vereador de Aracruz junto com os também indígenas Tiago das Abelhas e Bárbara Tupinikim, em uma candidatura coletiva, pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Aracruz é uma das 17 cidades que compõem a diocese de Colatina. É o único município que possui índios aldeados no estado do Espírito Santo, com duas etnias, os tupiniquim e os guarani.

Durante sua homilia na missa de posse, dom Versiani também falou sobre do episcopado como serviço. “Estou tomando posse canônica, mas vocês tomam posse da minha vida, do meu ministério. Aqui estou para servir e amar com alegria”, disse.

“Consagrado a Deus, devo estar a serviço da esperança dos pobres, a partir da unção recebida conforme o programa de Jesus expresso tão claramente em Lucas 4,18-19”, afirmou o bispo. O trecho bíblico citado narra o episódio em que Jesus, na sinagoga, lê uma passagem do livro do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a Boa-Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor”.

Dom Versiani disse que “esperança dos pobres” diz respeito ao “sentido mais profundo do senso sobrenatural da fé do povo de Deus, que se faz profecia em nossas Comunidades Eclesiais de Base” (CEBs).

As CEBs surgiram por volta do final da década de 1960, promovendo a opção preferencial pelos pobres. Foi promovida por intelectuais ligados à Teologia da Libertação como Frei Betto e Leonardo Boff. Com o tempo, passaram a ser marcadas pelo vínculo com os movimentos sociais, como o Movimento Sem Terra (MST), e partidos de cunho socialista como PT e PCdoB.

Após a missa de posse, dom Lauro Versiani realizou como sua primeira agenda na diocese visitas a Penitenciária de Segurança Média de Colatina e o Hospital e Maternidade Sílvio Avidos. “Eu sou pastor de todos. Os que não poderão vir até mim, eu deverei ir até eles”, disse.

Novo bispo de Colatina

Dom Lauro Versiani foi nomeado bispo de Colatina em 27 de outubro de 2021. Até então, pároco da paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Viçosa (MG), e diretor executivo da Fundação Cultural e Educacional da arquidiocese de Mariana (Fundarq).

Foi ordenado bispo no último dia 25 de janeiro, na igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Viçosa. Adotou como lema episcopal “A caridade de Cristo nos impele” (2Cor 5,14).

Dom Versiani, de 62 anos, é natural de Ouro Preto (MG). Foi ordenado sacerdote em 2 de setembro de 1995 e incardinado na arquidiocese de Mariana (MG). É licenciado em História e bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estudou Teologia no Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus no Brasil, em Belo Horizonte. Possui mestrado em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Na arquidiocese de Mariana, dom Lauro Versiani foi postulador da fase diocesana da causa de beatificação e canonização do servo de Deus dom Luciano Mendes de Almeida.

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