Bispos católicos na Alemanha apoiaram o lançamento de uma campanha pedindo uma mudança no ensino da Igreja Católica sobre "sexualidade e gênero". A campanha, promovida por padres e funcionários da igreja, foi lançada na segunda-feira, 24 de janeiro.

A iniciativa "#OutInChurch - Por uma igreja sem medo" pede mudança do que descreve como expressões "difamatórias e obsoletas" da doutrina católica.

“As declarações difamatórias e obsoletas da doutrina da Igreja sobre a sexualidade e o gênero devem ser revisadas com base nas descobertas teológicas e científicas humanas”, diz a campanha.

“Isso é muito relevante, especialmente em vistas à responsabilidade da Igreja em todo o mundo com os direitos humanos das pessoas LGBTIQ+” [lésbicas, gay, bissexuais, transexuais, intersexuais, queer e outros].

A iniciativa, apoiada publicamente por 125 pessoas, incluindo padres, professores de religião e funcionários da Igreja, também quer bênçãos e "acesso aos sacramentos" para uniões de pessoas do mesmo sexo.

O documento com as reivindicações foi recebido pelo arcebispo de Aachen, dom Helmut Dieser, codiretor do fórum de sexualidade do Caminho Sinodal Alemão, representando a Conferência Episcopal Alemã.

Dieser disse aos jornalistas em 24 de janeiro que o Caminho Sinodal – um processo de vários anos que reúne bispos e leigos para discutir sobre o poder, moral sexual, sacerdócio e o papel das mulheres na Igreja – busca uma “forma nova para tratar dos temas propostos pela campanha”.

“Com o Caminho Sinodal aprendemos a compreender mais profundamente que a orientação sexual e a identidade de gênero fazem parte da pessoa”, disse o bispo. “E temos uma imagem do ser humano que nos diz que a pessoa é absolutamente amada por Deus, e a partir daí abordamos os temas da orientação sexual, da identidade, mas também da realização sexual de uma maneira nova com o Caminho Sinodal”.

Em seguida, acrescentou: “Estou convencido de que com o Caminho Sinodal, especialmente em nosso fórum que trata dessas questões, temos espaço para responder a essas questões de maneira construtiva, para que se consiga justamente o que este grupo mais quer, a libertação do medo”.

O arcebispo de Hamburgo, no norte da Alemanha, dom Stefan Hesse, também falou sobre a campanha.

“Tenho respeito pelas pessoas que confessam sua orientação sexual nesta iniciativa. Uma Igreja na qual as pessoas têm que se esconder por causa de sua orientação sexual não pode, na minha opinião, estar no espírito de Jesus”, disse ele.

E acrescentou: “Este tema também está sendo discutido no Caminho Sinodal da Igreja Católica na Alemanha. Aí é onde estou participando na discussão. Deveria conduzir a um maior desenvolvimento da moral sexual na Igreja e também na lei trabalhista da Igreja”.

A campanha “#OutInChurch—Por uma igreja sem medo” também pede uma revisão das leis trabalhistas na Igreja Católica na Alemanha, o segundo maior empregador do país depois do estado.

“A vida aberta segundo a orientação sexual e identidade de gênero, mesmo em casal ou casamento civil, nunca deve ser considerada falta de lealdade ou motivo de demissão”, afirma uma das reivindicações da campanha.

Os comentários de dom Hesse foram repetidos pelo bispo de Osnabrück, no noroeste da Alemanha, dom Franz-Josef Bode, que disse apreciar a campanha como “um passo corajoso de 125 funcionários queer da Igreja Católica de todo o país”.

Ele acrescentou que a iniciativa reivindica uma revisão esperada há anos sobre a lei trabalhista da Igreja.

“De acordo com a lei trabalhista, a lealdade dos funcionários da Igreja está intimamente ligada ao seu estilo de vida. Os acordos individuais são possíveis, são feitos com sensibilidade, é o melhor que podemos fazer em nossa diocese”, disse.

“Mas as soluções individuais sempre criam incertezas. É urgentemente necessário encontrar soluções confiáveis ​​para todos os lados. O processo de reforma do Caminho Sinodal está trabalhando nisso”.

O bispo disse que o tema será discutido na próxima reunião da Assembleia Sinodal, órgão supremo de decisão do Caminho Sinodal, de 3 a 5 de fevereiro.

O bispo de Dresden-Meissen, no leste da Alemanha, dom Heinrich Timmerevers, disse estar "muito grato” pelos “testemunhos impressionantes” coletados pela campanha.

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Várias associações católicas alemãs também expressaram seu apoio.

Padres e agentes pastorais em toda a Alemanha desafiaram a Santa Sé em maio de 2021, realizando cerimônias de bênção de uniões homossexuais.

Os organizadores fizeram um dia de protesto em resposta à declaração da Congregação para a Doutrina da Fé que indica que a Igreja não tem poder de abençoar estas uniões.

A declaração da Santa Sé, emitida com a aprovação do papa Francisco, provocou protestos no mundo católico de língua alemã.

Vários bispos expressaram apoio às bênçãos para uniões do mesmo sexo, enquanto as igrejas exibiram bandeiras do orgulho LGBT e um grupo de mais de 200 teólogos alemães assinaram uma declaração criticando o Vaticano.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que "não é lícito conceder uma bênção a relações, ou mesmo a parcerias estáveis, que implicam uma prática sexual fora do matrimônio (ou seja, fora da união indissolúvel de um homem e uma mulher, aberta por si à transmissão da vida), como é o caso das uniões entre pessoas do mesmo sexo”.

O que a Igreja ensina sobre a homossexualidade

O ensinamento católico sobre a homossexualidade está resumido em três artigos do Catecismo da Igreja Católica: 2357, 2358 e 2359.

Nesses artigos a Igreja ensina que os homossexuais “devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta”.

A homossexualidade como tendência é "objetivamente desordenada" e "constitui, para a maioria (dos homossexuais), uma provação".

Apoiada na Sagrada Escritura, a Tradição sempre declarou que “os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados”, “não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira” e, portanto, “em caso algum podem ser aprovados”.

"As pessoas homossexuais são chamadas à castidade" e "pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente da perfeição cristã".

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