O padre cubano Bladimir Navarro Lorenzo exortou seus compatriotas a fazer jejum e oração pelas famílias que sofrem em Cuba e pedir a Deus que os livre do mal que prejudica moralmente a sociedade e tenta dividir os católicos.

No programa Sexto Continente da Rádio Católica Online TV, o padre, que serve em Madri, Espanha, falou da situação de Cuba e sobre sua iniciativa "Terço por Cuba", que teve por objetivo pedir a Deus que acabe com o comunismo.

As plataformas cívicas cubanas estão convidando os cidadãos a se juntar a uma nova manifestação pacífica em 15 de novembro. É uma continuação das manifestações de 11 de julho, quando cubanos em todo o país protestaram pela primeira vez em décadas para exigir o fim da ditadura comunista instaurada por Fidel Castro há 62 anos. As manifestações foram reprimidas com violência pelo regime atualmente liderado por Miguel Díaz-Canel, e várias pessoas ficaram feridas e foram presas.

O padre Navarro destacou que a iniciativa "Terço por Cuba" nasceu por iniciativa de um grupo de cubanos que vivem na Europa e que durante a primeira onda da pandemia da covid-19 se reuniram com ele para celebrar a missa e a Semana Santa.

Depois dos protestos de 11 de julho, seu grupo constatou que a situação em Cuba piorou política e economicamente. Eles, então, decidiram se reunir todos os sábados para rezar pela ilha. O padre lembrou que nos encontros “se transmite a alegria e a esperança”.

Ele ressaltou que o encontro foi virtual em 10 de outubro e que começou com uma oração dirigida do Chile; depois houve uma adoração eucarística da Espanha e da Polônia; e à noite o evento foi encerrado "com uma canção à Virgem Maria". “Juntamo-nos para cantar o canto à Virgem da Caridade e foram duas horas de alegria e esperança”, disse.

“A experiência foi impressionante, porque nos reunimos de diversos lugares para rezar [...] e dizer à Igreja cubana que não estão sozinhos [...]. Há muitas pessoas em diferentes partes do mundo que estão unidas a vocês em oração, o que é uma força muito grande”, disse ele.

Padre Navarro destacou que embora a ação seja boa, a oração também é muito importante, porque "nos une e nos ajuda a ver melhor a realidade" e "contribui muito para uma possível mudança em Cuba". Durante as orações que realizam há sempre uma pessoa que conta a situação de Cuba e, a partir disso, o grupo reflete e reza.

A este respeito, recordou as palavras ditas por Jesus no Evangelho: “Há espíritos malignos que só podem ser vencidos com oração e jejum”, e afirmou que perante a situação que enfrenta Cuba “a Igreja deve unir-se na oração e no jejum pela libertação do povo cubano”.

“Diante da impossibilidade dos discípulos de realizar alguns milagres e vencer alguns demônios, Jesus Cristo disse 'oração e jejum'; e não é segredo para ninguém que Cuba está vivendo agora e há muitos anos, muitos espíritos malignos, e o pior é uma ditadura, uma ideologia comunista, marxista que tocou a consciência do povo cubano”, afirmou.

O padre, que também é estudante de Teologia Moral, explicou que “o pior espírito maligno de Cuba é o dano antropológico”, que é o “dano humano” que “há mais de 60 anos o marxismo gera em Cuba”. “Isso é o que qualquer tipo de ideologia faz, prejudicar o homem por dentro, acabar com a humanidade do homem, com sua dignidade, com seus direitos”, acrescentou.

Para “resolver esse dano antropológico ou resgatar esse sujeito moral, a Igreja em Cuba deve apostar pela oração, jejum e acompanhamento”, afirmou.

Diante do lema da jornada "A caridade nos une", o padre Bladimir disse que o problema mais frequente na ilha "agora é a divisão" e lembrou que o mal do comunismo busca dividir para derrotar o povo cubano, inclusive os católicos. O diabo é "aquele que divide" e "não podemos dar-lhe esse sabor", disse ele.

“Que triste seria que nos dividamos por termos critérios diferentes e eu acho que o mal está fazendo isso muito bem, porque está entrando como ideologia às vezes dentro da Igreja, na própria sociedade cubana e está nos dividindo”, disse. “O mal tentará nos dividir sempre e, principalmente, dentro da igreja”.

O padre referiu-se às críticas de muitos fiéis depois que as autoridades da Santa Sé e da Itália, em outubro, impediram um grupo de cubanos de entrar na Praça de São Pedro para pedir ao papa Francisco, durante a oração do Ângelus, que se pronuncie e intervenha diante da difícil situação que vivem.

Explicou que existem protocolos para entrar na praça de São Pedro e que embora "seja triste" a má gestão das autoridades vaticanas e da polícia italiana, que só deixaram 50 cubanos entrar e tiraram a bandeira de um jovem cubano que estava ajoelhado rezando , “não é bom difamar o papa ou a Igreja, nem [exigir] que a Igreja se ocupe disso. Não é a atitude cristã”, disse ele.

Nesse sentido, lembrou as palavras de Oswaldo Payá, fundador do Movimento Cristão de Libertação (MCL), que disse: “Não posso atacar a Igreja, porque não posso atacar a mim mesmo”.

Payá Sardiñas morreu em 22 de julho de 2012 depois que, segundo depoimentos coletados pelo MCL, seu carro foi abalroado por um veículo com placa do governo cubano quando se dirigia para o leste da ilha.

“Não sei quem está orquestrando essa divisão, mas sei que é mal. E nós, os cristãos, estamos perdendo energias, forças. Sabemos contra quem temos que lutar e é contra o mal e o mal tem uma face concreta em Cuba, que é uma ditadura, o mal”, disse. “Queridos irmãos, de verdade, vamos deixar os confrontos de lado, isso não leva a lugar nenhum”, acrescentou.

Para o padre Bladimir seria mais uma "cortina de fumaça" para que “nós percamos e nos desviemos do caminho, e de onde devemos olhar agora, que é para o povo de Cuba. Qualquer discussão que nos afaste da lutar pela dignidade, direitos e para que Cuba seja diferente para o bem de todos, vai nos distrair, tirar energias e não vai nos fazer bem”.

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Padre Bladimir lembrou que “os cristãos não somos da ‘dialética’, que é o confronto, os bandos, as trincheiras, [...] que há tantos anos querem nos impor. Os cristãos somos ‘dialógicos’, nós somos do encontro e da reconciliação”.

“Todos temos o direito de opinar”, e “a liberdade de expressão”, mas “é importante que nos respeitemos, que de uma vez por todas paremos de lutar entre os cubanos”, pelo contrário, se algo nos une “que seja caridade”, disse.

Neste sentido, pediu que “nessa diversidade de critérios”, origens, credos e opiniões políticas, “juntemo-nos e encontremo-nos”, porque “é tempo de fazer uma Cuba diferente”, que não deixa ninguém de fora. “Enquanto continuarmos lutando, não vamos construir uma Cuba no amor, nem viver reconciliados [...] Que o testemunho de unidade venha de dentro da igreja”.

É hora de voltar o olhar para o povo cubano, lembrando que “a Igreja não vence com aplausos, nem perece com golpes”. “A Igreja não tem que se defender, o Espírito Santo é quem dirige a Igreja, portanto, por mais que queiramos acabar com a Igreja, isso não será possível”, acrescentou.

“Todas essas ofensas não vão acabar com a Igreja e a Igreja em Cuba tem uma missão” dentro e fora da ilha, que é “ser orante, encarnada e missionária”. Ele lembrou que tentar reformar a Igreja a partir de fora não é católico, mas é seguir os passos de Lutero; e que o caminho é renová-la por dentro, sofrendo com a Igreja, como santa Teresa e são Francisco de Assis.

Diante das críticas que procuram comparar o clero da Igreja em Cuba com os da Venezuela, e da Nicarágua, que protestam ou não publicamente contra suas ditaduras, o padre Navarro pediu “para não discriminar o padre que aparece no Facebook ou escreve um bom artigo contra o comunismo”, nem os que não o fazem, pois isso é gerar divisões.

Ele advertiu que “nem todos têm a vocação de dom Romero, nem todos têm que ser martirizados ou ir à convocação de 15 de novembro. Vamos ter muito cuidado com isso”; e recordou que a missão de ser profeta pertence a todos os batizados e que consiste primeiramente em “anunciar que Deus é bom”; e segundo, "denunciar o mal".

“A primeira coisa em Cuba é conduzir o homem a Jesus Cristo, porque este encontro com Jesus cura o homem, cura esse sujeito moral que está danificado, restaura a dignidade, ressuscita o caído e lhe dá a possibilidade de seguir em frente”, disse e destacou o trabalho de caridade da Igreja em Cuba.

“Os padres e religiosas em Cuba continuam acompanhando o povo cubano, trabalhando com esse sujeito moral danificado, continuam a restaurá-los, rezando com eles, desempenhando um maravilhoso papel de caridade em suas pequenas comunidades, às vezes com problemas econômicos ou desesperança ao ver como tudo está caindo a sua volta, mas continuam fazendo o seu trabalho”, disse.

O padre reconheceu que embora muitos “gostaríamos que os bispos falassem mais” ou “que o papa falasse mais sobre Cuba”, e que “a Igreja cubana muitas vezes deixou sozinhos os leigos que se comprometeram com a política”, cada uma “é profeta à sua maneira”.

Assinalou que os leigos também podem se engajar na política “sem ter a promoção de seu bispo”, pois “é para isso que o leigo serve na sociedade, para fazer barulho”; e pediu para não deixar sozinhos os padres que falam publicamente contra o comunismo. "Não vamos chamá-los de 'loucos', ou porque são 'progressistas', porque o mal pode estar agindo aí também", disse ele.

Em seguida, o padre Navarro se dirigiu às famílias cubanas e as encorajou a caminharem juntas em sinodalidade, seguindo o chamado do papa Francisco. “O mal vai atacar a família para desvinculá-la, para separá-la. Espero que as famílias cubanas voltem a ser o lar, o ninho onde se ensinam os valores, a fé e o amor à pátria”, afirmou.

Que sejam o local “de cura para o sujeito moral ferido, de recuperação para esse cubano com dignidade e com direitos, e local para ensinar a consciência social. Tomara que as famílias cubanas sejam a escola de tudo isso e que não venham nos ensinar de fora uma ideologia de gênero, ou uma ideologia marxista o que as nossas famílias e os nossos filhos têm que ser”, acrescentou.

Sobre isso, disse que a Igreja é quem tem o papel de ensinar isso às famílias. “Por isso, apelou à Pastoral da Família em Cuba para se renovar neste caminho sinodal, para que, ensinando à Igreja, a família possa ensinar a unidade a seus membros”.

“Que esta bênção chegue ao povo cubano, a todos os que nos ouvem, aos que sofrem nas prisões em Cuba pelos asilos políticos, aos que estão exilados de Cuba por querer lutar por uma Cuba diferente, aos doentes que estão em Cuba, a todos os nossos padres, leigos, religiosos, nossos bispos, ao papa Francisco que nos pede que rezemos por ele, a todos os cubanos do mundo e que Deus nos abençoe, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Amém. A Jesus, por Maria, a caridade nos une”, concluiu.

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