Com o tema “Igreja e Prevenção”, a associação Reconciliatio fará em 27 de novembro um seminário gratuito sobre o que a Igreja vem realizando em relação aos abusos e questões relacionadas ao assunto, a fim de promover uma cultura de prevenção. “Há uma cultura de que quando acontece o problema comigo eu busco resolver. O que estamos tentando trabalhar no que chamamos de cultura de prevenção é que as pessoas entendam para que nem venha a acontecer o problema”, disse a psicóloga e membro de Reconciliatio, Clara Matuque.

A Reconciliatio é uma associação que teve início em 2012, em Petrópolis (RJ), coordenada por uma equipe interdisciplinar de profissionais dedicados a pensar e intervir em prol do desenvolvimento integral da pessoa. Seus coordenadores são membros do Movimento de Vida Cristã. Dentro dos trabalhos realizados, um deles é o programa de prevenção de abuso sexual e promoção de ambientes seguros para crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis.

Segundo Dante Aragón, um dos membros da associação, com a pandemia de covid-19, começaram os cursos on-line, que tiveram grande alcance. “Isso nos levou a seguir oferecendo cursos, mas também a colocar como objetivo organizar ao menos um evento gratuito anual para ter alcance maior para pessoas que queiram se formar mais, como também para pessoas que queremos que comecem a se interessar pelo tema, principalmente dentro da Igreja”, disse.

Nos últimos anos, disse Aragón, Reconciliatio ministrou “cursos para pastoral da família, seminaristas, padres, instituições que trabalham com crianças, ONGs católicas”.

“E vemos a necessidade de todos trabalharem a prevenção”. Aragón lembrou que o papa Francisco afirma que o problema dos abusos deve ser enfrentado por todos. “Por isso que o papa se refere tanto ao povo de Deus quando acontece algum caso. Por exemplo, no caso dos abusos na França, ele não diz ‘clero da França’, ele se dirige ao povo de Deus”, afirmou

Para Clara Matuque, a proporção que o trabalho tomou se deu por causa da “grande demanda e carência de informação nesse sentido”. “O papa Francisco fala que o papel é de todos nós, a Igreja somos todos nós. Através de nossa profissão, daquilo que temos estudado ao longo desses anos, estamos entendendo como um chamado, uma missão de levar esse conteúdo para as pessoas”, disse.

“As pessoas estão começando a perceber este chamado do papa Francisco de trabalhar a prevenção e de não medir esforços para isso, de organizar, estruturar suas paróquias e dioceses para que possam receber possíveis vítimas para, além de ter um espaço de acolhimento, conhecer sobre o tema para saber como agir”, disse Clara. Para a psicóloga, no Brasil especificamente, é possível observar duas questões: “como identificar uma vítima, o que fazer para construir um ambiente seguro, o que fazer quando essa vítima revela o abuso, que caminhos vamos seguir, porque cruza com a questão civil, jurídica; e o que fazer com o agressor”.

“Todo esse fenômeno têm que ser enfrentado sim e compreender o abusador também, não só os aspectos pessoais, que poderia ser a pedofilia, mas também os circunstanciais e até o sistêmico da Igreja, as coisas que a Igreja tem que melhorar no seu sistema para evitar que esses abusos aconteçam”, disse Aragón.

O tema “Igreja e Prevenção” será abordado durante o seminário sob a seguinte “chave de leitura”: “uma aproximação interdisciplinar e sinodal aos abusos sexuais”. Segundo Dante Aragón, durante esses anos de trabalho, foi possível perceber “a importância desse diálogo interdisciplinar, com a psicologia, o direito canônico, a pedagogia...”.

Afirmou ainda a questão da sinodalidade vem antes mesmo do tema do sínodo inaugurado pelo papa Francisco este mês no Vaticano, que acontecerá em três fases e será concluído em 2023, com o tema “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão". “Antes do tema do sínodo este trabalho dos abusos sexuais era um dos que exigiam mais a sinodalidade. Para nós, é uma grande alegria ter esse sínodo”, declarou. Nesse sentido, destacou a participação de “especialistas em direito canônico, psicólogos, além da visão de dois bispos”. “Eles já têm algumas reflexões, trabalhos e vamos tentar dar este tom sobre a sinodalidade e a interdisciplinaridade. Claro, sempre com o foco na proteção e cuidado das vítimas e também na compreensão do abusador”, contou.

Segundo Clara Matuque, o evento também terá o apoio de outros grupos que têm trabalhado a prevenção do abuso na Igreja. “Temos entendido essa comunhão em prol de um objetivo comum que é a prevenção. Estamos buscando o caminho de unidade e um evento como este é muito oportuno para esta ocasião de comunhão para os que têm interesse no tema e para quem não conhece, mas percebe a necessidade de saber mais do assunto”. Entre os apoiadores do evento estão a Associação Brasileira de Apostolado (ABA), a Diocese de Petrópolis (RJ) e o Núcleo Lux Mundi.

Participarão do seminário irmã Maria Denise, a secretária e psicóloga da Comissão de Tutela e Prevenção de Menores e Pessoas vulneráveis na arquidiocese de Porto Alegre (RS); a canonista Claudia Giampietro; padre Fabiano Schwanck Colares, coordenador da Comissão Especial Arquidiocese de Promoção e Tutela de Criança, Adolescente e Pessoas Vulneráveis da arquidiocese de Porto Alegre; Dante Aragón, mestre em psicologia, com capacitação em prevenção pelo Centro de Investigação e Formação Interdisciplinar para a Proteção do Menor (CEPROME); o bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ), dom Antônio Augusto Dias Duarte; e o bispo de Petrópolis, dom Gregório Paixão.

Para Clara Matuque, além dos especialistas, a presença de dois bispos será importante pois “são os pastores, as pessoas que chamam e mostram para o rebanho que aquele é o caminho, o que deve ser ouvido, ou seja, elas precisam também estar nesses espaços”.

O seminário “Igreja e Prevenção: Uma aproximação interdisciplinar e sinodal aos abusos sexuais” será on-line, no dia 27 de novembro, das 9h às 17h. Para realizar a inscrição, basta acessar o link: bit.ly/seminarioigrejaeprevencao1.

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