O missionário argentino ad gentes Jeremías Villalba sempre sentiu que Deus o chamava para algo especial. Ao terminar seu curso de direito, em vez de se tornar advogado, foi evangelizar no Malaui, um dos países mais pobres da África.

“O contato com as pessoas é muito acolhedor, e é um alívio ver que estão despojadas de qualquer ideologia ou maus costumes como os que sofremos no Ocidente. Em muitas partes remotas deste país, não se conhece o uso da Internet e daquelas ideologias que visam destruir as famílias ou a cultura cristã”, disse Villalba disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI.

O desejo de ser missionário “não surgiu por iniciativa própria, mas foi Deus quem o iniciou, quase me pegando de surpresa”, diz o missionáio. “Desde cedo, por volta dos quinze anos, eu sabia que Deus estava me chamando para algo especial, mas não tinha certeza de como ou onde. Foi assim que comecei minha graduação em direito na Universidade de Buenos Aires, que terminei em março deste ano”.

Durante os seus anos de estudo Villalba rezou muito para conhecer a vontade de Deus. Ele achava que era chamado à vocação matrimonial, mas pouco a pouco o seu desejo de se dedicar totalmente ao Senhor “para a salvação das almas, foi ficando cada vez mais forte”.

“Embora eu tivesse claro que Deus não me pedia para entrar no seminário diocesano, fui tendo cada vez mais clareza que Deus me chamava para o sacerdócio. Desta forma, buscando o lugar que Deus tinha preparado para mim, conheci o padre Federico Highton, da Ordem São Elias, que me convidou a fazer um período de discernimento na África”, acrescentou.

Villalba decidiu ir ao Malaui “para discernir a minha vocação e levar o Evangelho àqueles lugares onde a Igreja Católica nunca tinha chegado antes”.

“Eu entendi que Deus tinha preparado isso para mim há muito tempo, pois meu gosto pelos idiomas, pela geografia, e pelo direito internacional não foram por acaso. Deus suscitou isso em mim por um motivo em particular, e foi porque finalmente Ele me chamou a ir a um país desconhecido, com idiomas diferentes, nas periferias do mapa, para plantar a Igreja Católica”, ressaltou.

O missionário diz ter descoberto que “não podia ser indiferente ao chamado de Deus que me pedia me entregar a Ele deixando as coisas do meu país, e ir de missões sem ter nenhum tipo de medo humano”.

“Sempre tive dentro de mim a inclinação de que possivelmente Deus me chamasse para deixar minha família e meus amigos, para realizar um plano ainda melhor”, acrescentou.

Chegando ao Malaui como missionário, Villalba encontrou um país extremamente pobre. O PIB per capita do país é de US$ 1,4 mil, segundo o Banco Mundial. Paa comparação, o do Brasil é de US$ 15 mil e o dos EUA US$ 65 mil.

Villalba disse que o avião em que viajou era o único em todo o aeroporto, "embora estivéssemos na capital, Lilongwe".

“Não é incomum entrar em uma farmácia e ver que faltam suprimentos ou em um restaurante onde não tenham nem cardápio ou refrigerante para oferecer. Além disso, a nossa missão está localizada no distrito de Chitipa, no extremo norte do país, no limite da fronteira com a Zâmbia, com isso nos encontramos vivendo a horas de um pequeno centro comercial ou cidade”, acrescentou.

O missionário disse que “apesar de toda a pobreza e falta de recursos”, o Malaui é conhecido como o “coração caloroso da África”, pela amabilidade e bondade dos seus cidadãos.

Segundo ele, as crianças crescem “brincando livremente ao ar livre, sem olhar para telas ou pendentes de brinquedos de luxo desnecessários”. As aldeias que ele e seus companheiros visitam tendem a “estar em lugares remotos, onde as pessoas têm que caminhar horas para chegar ao mercado mais próximo”.

“Algumas pessoas vivem toda a sua vida sem ter sapatos, e o acesso à água potável também é uma dificuldade. Afinal das contas, Malaui é um país pobre, mas as pessoas têm um coração acolhedor, disposto a receber a Deus”, acrescentou.

Atualmente, Villalba está em missão com dois argentinos, incluindo o padre Highton, e um nigeriano, e é responsável pela logística e pela escola dos coroinhas que servem na santa missa.

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“Também estou realizando uma escola de corrida com jovens e crianças, com os quais nos encontramos regularmente para correr e treinar. Além disso, realizamos também expedições missionárias às aldeias que o bispo da diocese nos encarregou de evangelizar, que são cerca de 83”, acrescentou.

Segundo Villaba, a recepção do Evangelho no Malaui é “milagrosamente fecunda”. Devido à falta de religiosos “existem centenas de lugares onde se celebra a santa missa a cada três ou seis meses”, diz.

“A primeira coisa que tentamos quando chegamos em uma nova aldeia é nos encontrar com o chefe da aldeia para que possamos apresentar o Evangelho a ele. Se o chefe se converter, como já aconteceu em várias ocasiões, a aldeia geralmente se converte com ele”, conta Villalba. A maioria dos lugares que visitam "tem uma porcentagem mínima de católicos, e às vezes simplesmente não há católicos", mas "não faltam seitas protestantes”.

“Em geral, as pessoas têm sede de saber a verdade, pois o Malaui, como a maior parte da África, é um país em si mesmo crente, onde entendem que a sua vida não pode estar desconectada do Criador. Muitas pessoas se inscreveram para iniciar o catecumenato para receber os sacramentos, começando pelo batismo”, disse.

Villalba afirmou que dedicar a sua vida à missão mudou-o completamente. Não se trata de estar de férias ou de ir "a um país distante apenas para viver uma aventura", diz o missionário, mas de "ir àqueles lugares aonde o Evangelho não chegou, onde o nome de Jesus não é conhecido com clareza”.

“Isso significa estar longe da família, do conforto, da segurança e de todo tipo de estabilidade. Cada dia é diferente, porque a cada dia existem necessidades diferentes nas pessoas e nas comunidades que visitamos”, acrescentou.

Estar em missão é “deixar de pensar em si mesmo para realizar o projeto que Deus quer”, diz Villalba, o que pode custar muito, “porque somos fracos, mas geralmente Deus nos dá os meios para realizar o que nos confia”.

Embora vivam sem luz, água quente e confortos, “não suportamos todas estas questões por fortaleza ou mérito próprio, mas porque Deus dá a graça na medida que saibamos responder com docilidade o que nos pede”, disse Villalba sobre ele e seus companheiros.

“No meio da escuridão e do cansaço, somado ao frio que se sente ao regressar à noite depois de um dia de missão, Deus faz explodir o coração de alegria e felicidade”, acrescentou.

Finalmente, incentivou os jovens a não terem medo “na hora de realizar os projetos que Deus nos pede” e destacou que “se Deus nos chama para algo, certamente nos dará todas as graças necessárias para cumprir nossa missão, porque é assim que funciona a vocação”.

“Certamente a missão não é um mundo colorido, nem devemos ter uma ideia romântica disso. Envolve muitos sacrifícios, mas cada vocação também os carrega. Se quisermos viver uma vida plena, temos que estar dispostos a renunciar aos prazeres e confortos que o mundo nos oferece, caso contrário, estaremos carregando uma bagagem extra que nos impedirá de subir na cruz quando quisermos responder ao chamado de Deus”, comentou.

“Milhões de almas nos aguardam em incontáveis ​​cantos do mundo que ainda não conhecem o nome de Jesus Cristo. Com a missão, estamos ajudando a conduzir essas pessoas à vida eterna e seremos fiéis ao mandato do próprio Jesus no Evangelho: 'Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criação'”, concluiu.

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