Padres na Índia denunciaram que um grupo de nacionalistas hindus ameaçou uma escola católica dizendo que haverá revolta na população caso esta não instale uma estátua de uma deusa hindu em seu prédio.

Em 25 de outubro, militantes de uma organização nacionalista hindu entregaram um memorando ao padre Augustine Chittuparambil, diretor da escola católica Christ Jyti Senior Secondary School, exigindo sob ameaças que instale dentro da escola um altar a Saraswati, deusa hindu do conhecimento.

Christ Jyti Senior Secondary School é uma escola católica localizada no distrito de Satna, no estado de Madhya Pradesh, no norte da Índia, um país onde o hinduísmo é a religião oficial e majoritária e os cristãos são uma minoria.

Em declarações a Asia News, agên cia católica de notícias da Ásia, o padre Chittuparambil contou que “um grupo de jovens de Bajrang Dal, uma organização militante nacionalista, entregou-me um memorando pedindo que uma estátua da deusa Saraswati fosse colocada” na escola. “Deram-me 15 dias para instalar a estátua, depois dos quais ameaçaram provocar revoltas e greves na população”.

O padre lembrou que sob “acusações falsas” esta organização afirma que os membros do colégio “teriam retirado a estátua nos últimos meses e agora teríamos a obrigação de recolocá-la”.

“São afirmações totalmente falsas, esta é uma escola cristã católica que pertence à diocese de Satna. Aqui nunca houve altares ou imagens de Saraswati”, disse o padre.

Segundo o padre, a escola “sempre esteve ao serviço da comunidade sem discriminação de casta ou credo. Temos mais de três mil alunos matriculados, a maioria deles pertence à religião hindu e apenas cerca de 50 crianças são cristãs”, disse ele.

Para o padre Chittuparambil é "uma história inventada para favorecer os interesses políticos", argumento que é apoiado por dom Leo Cornelio, bispo emérito de Bhopal, capital do estado de Madhya Pradesh.

Dom Cornelio disse à agência Asia News que “este tipo de ação visa intimidar as minorias e pressionar a nível político”. “Devemos adotar uma posição clara e pedir às autoridades do país que respeitem os direitos constitucionais das minorias”, acrescentou.

O arcebispo de Vasai, estado de Maharashtra, e secretário-geral da Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CBCI), dom Félix Machado, que é um grande estudioso do hinduísmo, lamentou que a liberdade religiosa esteja sendo afetada, em detrimento dos avanços na cooperação entre as duas religiões para o desenvolvimento do país.

Dom Machado afirmou que sente "um profundo respeito por essa religião" e que "precisamente por isso me entristece o comportamento de certos militantes que distorcem a compreensão do hinduísmo".

“A Igreja Católica está prestando um serviço exemplar no campo da educação e saúde, servindo a comunidade independentemente de casta ou credo”, disse ele. “Neste momento precisamos de diálogo: devemos ouvir uns aos outros para caminhar juntos”, acrescentou.

Disse ainda que “a imagem do nosso país não deve ser manchada no cenário mundial por reivindicações religiosas deste tipo”, porque “vivemos no terceiro milênio e estas são garantias constitucionais que não devem ser questionadas”.

Segundo o último Relatório de Liberdade Religiosa da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, 72,5% da população da Índia são hindus e apenas 4,9% são cristãos.

A fundação disse que, especialmente na Índia, mas também no Nepal, Sri Lanka e Mianmar, países asiáticos com maioria hindu e budista, costuma-se pressionar as minorias religiosas, como os cristãos, mediante políticas e também classificam seus membros como cidadãos de segunda classe.

Segundo Open Doors, o nível de perseguição contra os cristãos aumentou desde que o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata chegou ao poder em 2014.

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